domingo, 6 de dezembro de 2015

Momento poético: No Amazonas

Fernandes Bello (*)


Ruge o caudaloso rio, – o sem rival no mundo,
As vagas atirando às pedras da beirada;
A canarana desce, em grupos enlaçada,
E o cedro passa lesto e some-se no fundo,

Qual em dia de inverno, horrífico, iracundo,
Solta rouco trovão horrenda gargalhada,
Tal, das águas a flor, de fauce escancarada,
O enorme jacaré se mostra furibundo.
 
O esquivo peixe-boi oculta-se medroso...
Remete-lhe o arpão, com próspera destreza,
O velho pescador que espreita cuidadoso;

No entanto, o curumim, ali na correnteza,
Feliz e sem temor, na Ygárá jubiloso,
Conduz na saracára a tartaruga presa.


(*) Dr. Antônio Fernandes Bello, literato e poeta, natural do Pará, escreveu este soneto, publicado em 1915, ano em que exercia a função de Juiz de Direito da Comarca de Óbidos, onde o rio Amazonas e a vida do povo obidense, lhe serviu de inspiração para a composição desta poesia. 


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