Abaixo
transcrevemos uma notícia publicada na folha “O Jornal” de 26 de novembro de
1900, sobre as eleições na cidade de Alenquer. Eis o texto...
“Os nossos adversários desapontados pelo
insucesso de suas pretensões no Baixo Amazonas, onde, em todos os municípios,
tiveram a maior e a mais estupenda repulsa conhecida nos anais da política
paraense, procuram, pelos seus costumados processos de mentir e caluniar,
desviar a opinião pública, afirmando coisas que somente podem ser acreditados
por imbecis e idiotas.
Ontem, por exemplo, lembraram-se, graças à
imaginação ridícula de conhecido professor, de dar um resultado completo, “a
seu gosto”, da eleição no importante município de Alenquer, fazendo a respeito
comentários que hão de causar admiração naquela localidade, entre os próprios
que, por desencargo de consciência, como eles diziam, votaram nos candidatos da
santa aliança.
A votação, em Alenquer, tem sempre crescido
a cada eleição realizada, devido ao aumento gradual do eleitorado. Quem é
político tem o dever de conhecer o movimento ascendente ou descendente do
eleitorado, fazendo a sua estatística para não ser induzido a idealizar
vitórias de Pyrrho.
Em época alguma, desde a proclamação da
República, houve em Alenquer eleição com o tal resultado completo que os dois órgãos da santa aliança ontem anunciaram. Atualmente passa de mil o número de
eleitores daquele município, onde agora votaram todos os oposicionistas, sendo
29 nas 1ª, 2ª, 5ª e 6ª secções e 110 em cartório; e, conquanto nula esta última
votação, porque foi feita por eleitores de todas as secções, sem pretexto
sério, pois títulos foram distribuídos até a hora da eleição, e esta em todas
as secções realizou-se, computamos no calculo que demos, lealmente, visto ser
nosso intuito publicarmos somente o resultado verdadeiro, á vista de boletins rubricados
pelas mesas e reconhecidos por tabeliães.
Se não agradou à santa aliança o resultado da eleição em Alenquer, procurem na
antipatia com que essa aliança foi recebida, a colossal derrota que lhe foi
infligida em todos os municípios do Baixo Amazonas.
De todas as secções de Alenquer possuímos
boletins, reconhecidos pelo tabelião respectivo, bem como a certidão da votação
em cartório; e por esses documentos, que são os únicos valiosos, verifica-se
que concorreram à eleição 730 republicanos e 129 aliados. Quisessem os nossos
dedicados amigos de Alenquer desviar-se da seriedade que ali tem sido
invariavelmente mantida, e num eleitorado de mil e tantos eleitores,
compreende-se que os candidatos republicanos poderiam ter folgadamente mais
algumas centenas de votos e até unanimidade.
Ainda mais: tão pacífico, legal e digno
correu o pleito, que não foi apresentado um só protesto às respectivas mesas,
que também não consta houvessem recusado fiscal de quem quer que fosse, ou qualquer
recurso, ou prova contra a verdade da eleição.
Para se avaliar onde o comunicado do
República foi fabricado e quanto é imaginativo, basta saber-se que, tendo
votado 19 aliados nas secções, e 110 em cartório, o santo órgão dá apenas como
toda a votação aliada 11 (onze) votos no cartório, isto quando mais abaixo dá
127 e na segunda página 125!!!
E é semelhante gente que come o pão de Deus,
embriagando-se na ilusão de que as vitórias eleitorais se conquistam com
circulares mentirosas e descomposturas nos jornais!
Para o desengonçado informante dos órgãos da
santa aliança, o resultado da
eleição de Alenquer foi desastroso. Esse “pedagogo infamante” queria impingir
influência, mas os correligionários de lá mandavam-no moer vidro com os
cotovelos. E fizeram muito bem.
Quanto à miserável acusação de se haverem
negado os juízes daquela comarca a proceder a exames em livros eleitorais, é
preciso que o público fique bem esclarecido a respeito para julgar, como deve,
os caluniadores.
Eis o que houve: um indivíduo que há anos
não é mais eleitor ali, requereu o tal exame, mas apenas nos livros da 1ª
secção. No mesmo dia o dr. Juiz de Direito despachou declarando-se suspeito por
ser irmão do presidente da dita mesa, e o dr. Juiz Substituto também suspeitou-se
por ser cunhado do secretário da mesa e irmão de um dos fiscais. Esses magistrados
cumpriram simples e corretamente o seu dever, e admira como, havendo na redação
dos órgãos da santa aliança gente
profissional em direito, se permita o desplante de acusações imbecis, só
justificáveis em ignorantes perversos.
Dados esses despachos, o requerente
retirou-se ao silêncio, provavelmente por ter verificado já a sua completa sem razão,
tendo mesmo causado o requerimento má impressão entre os próprios, como podemos
afiançar.
O dr. Eloy Simões, juiz de direito de
Alenquer, dirige tão independente e superiormente a justiça naquela comarca,
que desafiamos os redatores dos órgãos da santa
aliança a exibir dos seus correligionários dali provas assinadas em
contrário. O dr. Estephanio Barroso, insuspeito, ali está também e poderá
informar como se pratica em Alenquer o culto da justiça.
O mais é bobagem”.
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