terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Isto foi notícia: Sobre as eleições em Alenquer – 1900

Abaixo transcrevemos uma notícia publicada na folha “O Jornal” de 26 de novembro de 1900, sobre as eleições na cidade de Alenquer. Eis o texto...


Os nossos adversários desapontados pelo insucesso de suas pretensões no Baixo Amazonas, onde, em todos os municípios, tiveram a maior e a mais estupenda repulsa conhecida nos anais da política paraense, procuram, pelos seus costumados processos de mentir e caluniar, desviar a opinião pública, afirmando coisas que somente podem ser acreditados por imbecis e idiotas.
Ontem, por exemplo, lembraram-se, graças à imaginação ridícula de conhecido professor, de dar um resultado completo, “a seu gosto”, da eleição no importante município de Alenquer, fazendo a respeito comentários que hão de causar admiração naquela localidade, entre os próprios que, por desencargo de consciência, como eles diziam, votaram nos candidatos da santa aliança.
A votação, em Alenquer, tem sempre crescido a cada eleição realizada, devido ao aumento gradual do eleitorado. Quem é político tem o dever de conhecer o movimento ascendente ou descendente do eleitorado, fazendo a sua estatística para não ser induzido a idealizar vitórias de Pyrrho.
Em época alguma, desde a proclamação da República, houve em Alenquer eleição com o tal resultado completo que os dois órgãos da santa aliança ontem anunciaram. Atualmente passa de mil o número de eleitores daquele município, onde agora votaram todos os oposicionistas, sendo 29 nas 1ª, 2ª, 5ª e 6ª secções e 110 em cartório; e, conquanto nula esta última votação, porque foi feita por eleitores de todas as secções, sem pretexto sério, pois títulos foram distribuídos até a hora da eleição, e esta em todas as secções realizou-se, computamos no calculo que demos, lealmente, visto ser nosso intuito publicarmos somente o resultado verdadeiro, á vista de boletins rubricados pelas mesas e reconhecidos por tabeliães.
Se não agradou à santa aliança o resultado da eleição em Alenquer, procurem na antipatia com que essa aliança foi recebida, a colossal derrota que lhe foi infligida em todos os municípios do Baixo Amazonas.
De todas as secções de Alenquer possuímos boletins, reconhecidos pelo tabelião respectivo, bem como a certidão da votação em cartório; e por esses documentos, que são os únicos valiosos, verifica-se que concorreram à eleição 730 republicanos e 129 aliados. Quisessem os nossos dedicados amigos de Alenquer desviar-se da seriedade que ali tem sido invariavelmente mantida, e num eleitorado de mil e tantos eleitores, compreende-se que os candidatos republicanos poderiam ter folgadamente mais algumas centenas de votos e até unanimidade.
Ainda mais: tão pacífico, legal e digno correu o pleito, que não foi apresentado um só protesto às respectivas mesas, que também não consta houvessem recusado fiscal de quem quer que fosse, ou qualquer recurso, ou prova contra a verdade da eleição.
Para se avaliar onde o comunicado do República foi fabricado e quanto é imaginativo, basta saber-se que, tendo votado 19 aliados nas secções, e 110 em cartório, o santo órgão dá apenas como toda a votação aliada 11 (onze) votos no cartório, isto quando mais abaixo dá 127 e na segunda página 125!!!
E é semelhante gente que come o pão de Deus, embriagando-se na ilusão de que as vitórias eleitorais se conquistam com circulares mentirosas e descomposturas nos jornais!
Para o desengonçado informante dos órgãos da santa aliança, o resultado da eleição de Alenquer foi desastroso. Esse “pedagogo infamante” queria impingir influência, mas os correligionários de lá mandavam-no moer vidro com os cotovelos. E fizeram muito bem.
Quanto à miserável acusação de se haverem negado os juízes daquela comarca a proceder a exames em livros eleitorais, é preciso que o público fique bem esclarecido a respeito para julgar, como deve, os caluniadores.
Eis o que houve: um indivíduo que há anos não é mais eleitor ali, requereu o tal exame, mas apenas nos livros da 1ª secção. No mesmo dia o dr. Juiz de Direito despachou declarando-se suspeito por ser irmão do presidente da dita mesa, e o dr. Juiz Substituto também suspeitou-se por ser cunhado do secretário da mesa e irmão de um dos fiscais. Esses magistrados cumpriram simples e corretamente o seu dever, e admira como, havendo na redação dos órgãos da santa aliança gente profissional em direito, se permita o desplante de acusações imbecis, só justificáveis em ignorantes perversos.
Dados esses despachos, o requerente retirou-se ao silêncio, provavelmente por ter verificado já a sua completa sem razão, tendo mesmo causado o requerimento má impressão entre os próprios, como podemos afiançar.
O dr. Eloy Simões, juiz de direito de Alenquer, dirige tão independente e superiormente a justiça naquela comarca, que desafiamos os redatores dos órgãos da santa aliança a exibir dos seus correligionários dali provas assinadas em contrário. O dr. Estephanio Barroso, insuspeito, ali está também e poderá informar como se pratica em Alenquer o culto da justiça.

O mais é bobagem”.

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