segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Isto foi notícia: Um mau agouro na Intendência de Itaituba – 1900

Com o título “Mau Agoiro” o texto que abaixo publicamos foi publicado originalmente no "O Jornal” de 27 de outubro de 1900. É interessante e curioso pelo modo supersticioso como era tratada a política de então...


No salão nobre da Intendência Municipal de Itaituba havia um retrato do dr. Justo Chermont, ali colocado em dia de regozijo público como homenagem ao Partido Republicano, de que então era um dos chefes o ex-prestimoso senador.
Suspensos por fortes cordões a um valente prego, metido a martelo na parede do edifício, esse retrato assistia serenamente a todos os atos da Intendência, desde o mais simples ao mais solene e era testemunha da dedicação e lealdade com que sabiam-se conduzir os dignos representantes do partido Republicano naquela cidade.
Seguro dessa maneira, era de esperar que se conservasse por longos anos em posição tão eminente, como que perpetuando a memória dos inolvidáveis benefícios que o grande partido tem produzido desde o advento da República.
Por isso é surpreendente a notícia que nos transmitem: – No dia em que, reunido o Conselho Municipal de Itaituba, procedia-se a divisão do município em secções eleitorais, para a próxima eleição em que é também pretendente o dr. Justo Chermont, achando-se repleto o salão das mais gradas pessoas da localidade, inopinadamente desprendeu-se o aludido retrato, com pregos e tudo, produzindo grande fracasso no soalho da sala, partindo-se em estilhaços moldura e vidro e ficando completamente amarrotada a melancólica verônica do inditoso candidato.
Indescritível espanto causou este fato, e não houve quem não visse nele o prenúncio de uma grande queda moral e política, tão desastrosa como a dessa queda em efígie.
Atordoados com esse surpreendente acontecimento, os membros do Conselho estiveram a fazer conjecturas e comentários, e acharam-se de acordo em que não deviam procurar reerguer o dr. Justo, contra a vontade do destino ou dos deuses.
À vista dessa formal e unânime deliberação, foi o malfadado retrato recolhido ao depósito dos móveis inutilizados, onde permanecerá”.


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