quarta-feira, 6 de maio de 2020

A honestidade do major Veloso em Santarém – 1956


Na rebelião de Jacareacanga, o major Haroldo Veloso desceu em Santarém, a mais próspera cidade do Baixo Amazonas, encheu o aeroporto de tambores de óleo e ficou entrincheirado lá. Mesmo assim, o repórter Oswaldo Mendes, hoje diretor da Mendes Publicidade, saiu de Belém, em um teco-teco, conseguiu descer e foi para a cidade.
Santarém tinha três agências bancárias: Banco do Brasil, Banco da Amazônia e Caixa Econômica Federal. Os gerentes ficaram em pânico, com medo de o major mandar requisitar os depósitos. Cada um dos três imaginou logo uma solução que pareceu genial: tirar o dinheiro e depositar na agência do outro, para afastar a responsabilidade das próprias costas. Só que se encontraram no meio da rua e o plano tríplice fracassou.

Discutiram, analisaram a situação e decidiram convocar a cidade para ir até o aeroporto implorar ao major Veloso que, se fosse requisitar o dinheiro, deixasse um documento para evitar consequências funcionais contra os três. Às sete da noite, com archotes na mão, lá se foram umas 500 pessoas até o aeroporto pedir clemência ao terrível revolucionário.
Quando se aproximaram, Veloso imaginou um ataque e se preparou para reagir. Não era. Os três gerentes se adiantaram e apresentaram o problema: não queriam truncar suas carreiras bancárias e esperavam que o major entendesse. Veloso caiu na gargalhada.
– Vocês estão malucos? Não quero um tostão.
E todas as compras que fez na cidade, nos dias em que ficou lá entrincheirado, foram pagas a dinheiro. Santarém ficou encantada com Veloso. Daí nasceu sua liderança política lá. Anos depois, quando se candidatou a deputado federal, a cidade lhe deu uma votação espetacular. Pela raspa bancária que não fez.

NOTA: Texto extraído da revista “Politika”, ano 1972, edição 048.

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