Algumas tribos errantes não construíam mais do
que simples malocas ou abrigos provisórios onde moravam. As malocas mais
elaboradas eram vistas em aldeias fixas, onde os índios já se dedicavam à
agricultura. Em si, todos viviam em malocas sem divisões. Pais, filhos, avós,
tios, sobrinhos, primos, enfim, toda uma grande família cabia dentro de uma
maloca. Além dos utensílios de caça, pesca, roçado e guerra havia a rede. Isso
escandalizava os portugueses que não eram acostumados com essa falta de
privacidade. Mendonça Furtado tentou impor à força, por meio do “Diretório” que
as casas dos índios fossem feitas à moda dos brancos. Uma coisa, entretanto é
comum até hoje: o uso da palha como material principal das casas indígenas
típicas da região.
“Há
pouco tinham vindo ter a esse lugar, atraídos por um ribeirão piscoso, e
levantado um grande rancho coberto de sapé, onde moravam em comum, embora
fossem nada menos de 80, entre homens, mulheres e crianças. Também as redes em
que dormiam eram suspensas umas em cima das outras, e as havia em tal
quantidade que a custo se caminhava no interior do rancho”. (Hercule
Florence, sobre os Apiacás).
“Como
as mais choupanas de mundurucus e,
aliás, as casas de pobres em todo o Brasil, essa era construída de paus-a-pique
colocados juntinhos uns aos outros com um trançado horizontal de tiras de
palmeiras ou taquaras amarradas com cipós, grade que, tapada com terra amassada
n´água, forma muros e tapumes perfeitamente fechados. Fácil é, porém, conceber
a pouca duração de tudo aquilo pelo que depressa se formam buracos e inúmeros
interstícios, em que aninham múltiplos e nojentos insetos. A coberta é feita de
sapé ou folhas de palmeira”. (Hercule Florence, sobre os Mundurucus).
“A
maioria das casas são choças de forma cônica, com paredes feitas de paus
trançados e barros, e cobertas com folhas de palmeira, chegando os seus beirais
quase ao chão. Algumas são quadradas, não diferindo sua estrutura das casas de
colonos semicivilizados de outros lugares; outras não passam de ranchos
abertos. De modo geral parecem abrigar apenas uma ou duas famílias”. (Henry
Bates, sobre os Mundurucus).
“Observa-se que a maloca (aldeia) onde
habitam é guarnecida de uma forte estacada construída de grossos madeiros a
pique e isto explica porque tanto confiam em si próprios para poder repelir com
vantagem qualquer agressão do inimigo, especialmente os Parintintins com quem
vivem em guerra aberta e constante”. (R. L. Tavares, sobre os Mundurucus do
rio Tapajós).
“No centro da maloca encontra-se o ekça ou o
quartel dos guerreiros.
O ekça consiste em uma longa casa, de cerca de cem
metros de comprimento, coberta de palha, e em toda a sua extensão aberta para o
nascente. Nesta situação está perfeitamente ventilada, e isenta da invasão dos
carapanãs e de outros mosquitos insuportáveis, que constituem o suplício dos
que vivem no meio das matas ou à margem dos rios. Os raios do sol ao nascer penetram
livremente e debelam o frio da madrugada, que ai é muito intenso. No ekça moram
somente os homens válidos, os guerreiros e seus filhos maiores de oito anos.
Cada guerreiro arma no ekçá sua rede no lugar que
bem lhe parece.
No terreiro, também para o nascente estão três
linhas de esteios unido por travessas, onde os guerreiros armam suas redes nas belas
noites de verão.
Suspenso ao teto do ekça, sobre a rede tem o
guerreiro à mão tudo quanto possue – arcos, flechas, tacape e buzinas.
Todos dormem em redes tecidas de fio de algodão e
tão pequenas que é preciso estar imóvel para não cair no chão.
O algodão é plantado pela índia: o fio e a rede
por ela fabricados.
No ekça, por entre as redes dos guerreiros, ardem
muitas fogueiras durante a noite.
Em torno do ekçá estão as casas das mulheres, onde
também habitam as crianças de ambos os sexos, os velhos decrépitos e os doentes”. (Gonçalves
Tocantins, sobre os Mundurucus do Tapajós).
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