sexta-feira, 9 de julho de 2021

Conflitos em Óbidos em 1871

São gravíssimas as notícias que o vapor Belém trouxe de Óbidos. Perturbou-se ali a ordem pública, o lar do cidadão foi invadido, a vida da autoridade foi ameaçada. Eis as informações que do acontecimento dá-nos uma testemunha ocular:

“Suscitou-se em a noite de 23 de setembro uma pequena rixa entre quatro praças de infantaria 11, de que um destacamento faz a guarnição daquela cidadela e alguns paisanos, entre os quais alguns portugueses, no lugar chamado Juretepáo [sic]. Da rixa saíram feridos uma praça do 11 e alguns paisanos. As autoridades civis procederam aos respectivos corpos de delito e instauraram o processo.

A guarnição da fortaleza, sabendo no dia seguinte do conflito, resolveu desafrontar os seus camaradas. Um troço de soldados armados de rifles, invadiu a cidade pôs cerco a casa comercial dos senhores Souza Vieira & C., exigindo em latas gritas a entrega do guarda livros da casa e de um operário, portugueses ambos, que deviam ser imolados na desafronta dos brios daqueles heróis.

O promotor da Comarca, o sr. Francisco Augusto d’Oliveira, que por acaso passava pelo teatro do distúrbio, pôs em ação a sua influência, graças à qual conseguiu dispersar-se o ajuntamento. Os soldados seguiram depois em grupos para diferentes localidades, indo um deles atacar a olaria do súdito português Manoel do Cabo, ataque que não levaram a efeito porque inda apareceu o sr. Oliveira, que conseguiu dispersa-los.

Em seguida foi outro grupo estacionar defronte da casa dos srs. Souza Vieira & C., a vociferar ameaças, a tentar arrombar as portas da casa, que estavam fechadas. Para que Óbidos não nadasse em sangue, tiveram as autoridades, obedecendo as imposições da soldadesca, de prender alguns portugueses!

Não foi a docilidade da autoridade capaz de pôr pêas [sic] ao desenfreamento da soldadesca. Um outro troço de heróis atacou na Rua de Santa Anna o cidadão português José Barroso de Bastos, espancou-o, feriu-o, e te-lo-ia morto se não aparecesse o comandante do destacamento que a custo fez respeitar a sua autoridade.

Estes acontecimentos, por demais graves, mereceram a mais acurada atenção do sr. Presidente da Província, que deu ontem ao saber destes sucessos as mais prontas e enérgicas providências para que a população de Óbidos seja restituída à paz e à tranquilidade, que lhas roubaram os mantenedores da ordem pública!

Ontem à noite (2 de outubro) seguiu para Óbidos o vapor Ycamiaba, com tropa para render a que está ali destacada, e o comandante das Armas.

 

NOTA: Texto extraído do jornal “Diário de Pernambuco” de 16 de outubro de 1871.

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