terça-feira, 16 de maio de 2017

O Falecimento de Frei Alberto Kruse, OFM – 1956

Faleceu em Santarém do Pará, às 12 horas do dia de Natal, o Revdo. Frei Alberto Kruse, da Ordem Franciscana.
Frei Alberto nasceu na Alemanha, na cidade de Padeboru, há sessenta e seis anos atrás, e veio ainda estudante para o Brasil, onde em Salvador da Bahia, se ordenou sacerdote, e passou a exercer o santo mistério no Recôncavo Baiano, de onde os superiores o mandaram para a Prelazia de Santarém, no Pará.
Em Santarém, trabalhou primeiramente na cidade e, depois, foi enviado para a Missão do Cururú, no Alto Tapajós, no meio dos Índios Mundurucús, onde trabalhou doze anos seguidos, que Frei Alberto considerava os mais felizes de sua vida. Aprendeu a língua desses índios, e escreveu nela artigos muito interessantes, publicados e louvados em revistas do País e do Estrangeiro.

Tendo sofrido abalo em sua saúde, volveu a Santarém, de onde os superiores o mandaram para Óbidos, onde soube ganhar a simpatia de todos pelo seu caráter sempre afável e acolhedor. Mas não demorou aí muito tempo, porquanto, tendo sido necessário dar maior desenvolvimento à Paróquia de Oriximiná, onde muito tem progredido o serviço missionário, para lá foi mandado Frei Alberto, como Auxiliar do Vigário.
Mas onde quer que estivesse, ainda como Seminarista, ou já como Sacerdote, Frei Alberto foi sempre um homem de ordem e de trabalho, um perfeito e metódico estudioso, e foi a Música e o estudo de línguas novas que lhe tomaram a maior parte do seu tempo livre, o que lhes permitiu a composição de tantas obras de valor com que ultimamente se estava enfeitando “Música Sacra”.
Além da Música, Frei Alberto se dedicou também, particularmente nos seus primeiros anos de sacerdócio, à dificílima arte da Taquigrafia, chegando a inventar dois métodos novos, em que conseguiu mesmo formar alunos.
Sentindo ultimamente dores bastante fortes, que muito lhe faziam sofrer, Frei Alberto voltou a Santarém, e sujeitou-se, no Sesp, a uma operação; mas o estado de fraqueza de Frei Alberto não lhe permitiu a reação e, depois de três semanas de sofrimentos, entregou placidamente a alma ao Criador, no mesmo dia em que se comemora a Encarnação do Filho de Deus. O seu falecimento deu-se no próprio Hospital do Sesp, de onde o cadáver foi transportado para a Capela do Ginásio Santa Clara onde, na manhã seguinte, às seis horas, foi celebrada Missa de Requiem, sendo celebrante o Revdo. Frei Serafim, Provincial dos Franciscanos, então de passagem por Santarém.
O aviso da morte de Frei Alberto foi transmitido à noite de 25, da Matriz, e no dia seguinte foi numerosa a assistência à Missa na Capela, aliás uma grande Igreja do Colégio das Irmãs da Imaculada Conceição. Maior ainda foi a afluência para a trasladação dos seus restos mortais do Colégio Santa Clara para a Matriz, com o acompanhamento de todos os sacerdotes presentes na cidade, os quais, revezando-se, lhe carregaram o caixão. À chegada, já a Matriz estava repleta e logo a seguir foi celebrada Missa Cantada de “Requiem”, sendo oficiante o Revdo. Sr. Bispo-Prelado Dom Frei Floriano Loewenau, assistido por Frei Tiago e Frei Raimundo. Imediatamente após o “Libera-me”, formou-se o cortejo para o cemitério com numeroso acompanhamento. Todos os Sacerdotes e Irmãos Leigos, todas as Irmãs e Alunas do Santa Clara, e grande afluência de fiéis acompanharam os restos de Frei Alberto ao cemitério, onde Dom Floriano lhe prestou as últimas homenagens rituais, e o Revdo. Padre Manoel Albuquerque, falando em nome da Prelazia, teceu o elogio fúnebre do querido confrade desaparecido.
Convém ressaltar aqui, por se tratar do grande compositor que perdemos, que na mesma noite deste Natal, na Matriz de Santarém, foi cantada pela primeira vez uma música natalina a quatro vozes, composta por Frei Alberto, sobre palavras do Padre Manoel Albuquerque. Na festa da Imaculada Conceição, este ano, foi também estreada uma Missa Solene composta por Frei Alberto. Ele já não ouviu estas músicas, mas estamos certos que, do Céu, as ouvirá muitas vezes, porque na terra, agora com mais empenho, elas continuarão a ser cantadas, especialmente na Prelazia de Santarém, que tão intensamente Frei Alberto amava e procurava servir do melhor modo.


NOTA: Publicado no Jornal de Santarém de 29 de dezembro de 1956.

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