Já por mais de
uma vez, saíram à publicidade considerações feitas por um “Observador” sobre o
estado lamentável do futebol em Santarém. Qual o resultado destas tentativas?
Continuam as mesmas divergências. Entretanto, é tempo de acabar de vez com tudo
isto e encontrar finalmente uma forma de reconciliação. Sem qualquer outro
interesse, a não ser de ver concretizado este desideratum, vai este apelo a
gregos e troianos.
Senhores! Não
pretendo discutir neste lugar culpa ou direito de quem quer que seja.
Limitar-me-ei em tomar por base a situação atual do esporte futebolístico em
Santarém: ele é lamentável – é quanto basta! E quais as razões? São as
seguintes:
1) Falta de
formação esportiva entre a grande maioria tanto dos jogadores como dos
assistentes.
2) Falta de
autoridade que se saiba impor.
3) Decorrente
daí: Indisciplina generalizada e falta de cavalheirismo.
O corolário
natural destas deficiências são as cenas deprimentes que devem cobrir de rubor
e vergonha todo amigo sincero do esporte e da nossa cidade, que vem sendo
degradada pelos seus próprios filhos e dar aos visitantes de fora quase
semanalmente a demonstração humilhante da mais perfeita anarquia e indisciplina
no “Parque São Francisco”!
Como remediar
estes males? Formação esportiva e autoridade respeitada: eis o que exige o
momento!
1) Formação
esportiva:
É o problema muitas vezes espinhoso da educação popular! O esporte bem
entendido é chamado a desempenhar papel importantíssimo neste particular. Como
tal ele sempre foi estimado e cultivado pelos povos mais cultos do mundo. Mas
só o esporte verdadeiro, cavalheiresco! No momento em que ele se desvirtua a
provocar e açular as paixões e instintos baixos do homem, criando ódios,
estimulando a força bruta em detrimento da justiça e cavalheirismo, neste
momento perde ele por completo todo o direito de existência! Torna-se ele
nocivo, prejudicial!
Urge que, com
todos os meios ao nosso alcance: nas escolas, nas associações esportivas e de
classe e, não por último, pela imprensa, se dê início a esta educação das
massas populares, inculcando na alma do nosso povo que o esporte é destinado a
cultivar sentimentos de responsabilidade, de justiça, de cavalheirismo, de amor
ao próximo e à terra natal! O essencial em cada jogo é o triunfo destas
virtudes cívicas, e não a vitória concreta de A ou B! Quantos, porém, vão com
estas disposições assistir um jogo? É prova de quanto ainda nos resta fazer no
terreno da educação!
2) Autoridade
respeitada: Já desde muito a vida esportiva de Santarém se está ressentindo da
falta de um “Órgão Coordenador” com suficiente autoridade para resolver pronta
e satisfatoriamente desinteligências ou verdadeiras faltas ocorridas! Pouco
importa a denominação desta suprema entidade esportiva, contanto que suas
decisões sejam definitivas e inapeláveis, acatadas por todos. Portanto:
Considerando
que são intermináveis as dificuldades entre as diversas associações esportivas;
Considerando
que há impossibilidade de resolver de outro modo estas divergências existentes;
Considerando
que a maioria dos componentes dos principais conjuntos futebolísticos regionais
são Congregados Marianos, como tais diretamente sujeitos à Direção da
Congregação;
Julgo do meu
dever lançar o seguinte apelo:
a) Iniciem-se
quanto antes entre os responsáveis pelas diversas associações esportivas,
negociações com o intuito de fundar um “Órgão Coordenador” das atividades
futebolísticas dos clubes de Santarém.
b) Dê-se a esta
suprema entidade esportiva suficiente autoridade para decidir de modo
definitivo qualquer questão que possa surgir.
c) A nomeação do
árbitro fique reservado exclusivamente a este “Órgão Coordenador”.
d) As decisões do
árbitro sejam consideradas como inapeláveis enquanto perdurar o jogo, que
sempre deve ser levado até o fim.
Entretanto,
conceda-se a cada clube o direito de – terminado o jogo – apelar para o “Órgão
Coordenador”, caso se julgar prejudicado pela atuação do árbitro. Esta entidade
suprema julgará sobre a procedência ou improcedência da queixa, estando
autorizado até anular um jogo inteiro, se a justiça o exigir!
Meus senhores!
Está aqui o meu apelo que se dirige com a mais perfeita imparcialidade a todos
de boa vontade, aos amigos sinceros do esporte e da nossa cidade! Nenhum
sacrifício nos deve ser grande demais em se tratar da grandeza deles.
Frei Cláudio,
OFM – Diretor da Congregação e da Federação Mariana de Santarém.
NOTA:
Publicado no Jornal de Santarém de 09 de novembro de 1946.
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