terça-feira, 16 de maio de 2017

Um apelo de Frei Cláudio sobre o Futebol em Santarém – 1946

Já por mais de uma vez, saíram à publicidade considerações feitas por um “Observador” sobre o estado lamentável do futebol em Santarém. Qual o resultado destas tentativas? Continuam as mesmas divergências. Entretanto, é tempo de acabar de vez com tudo isto e encontrar finalmente uma forma de reconciliação. Sem qualquer outro interesse, a não ser de ver concretizado este desideratum, vai este apelo a gregos e troianos.
Senhores! Não pretendo discutir neste lugar culpa ou direito de quem quer que seja. Limitar-me-ei em tomar por base a situação atual do esporte futebolístico em Santarém: ele é lamentável – é quanto basta! E quais as razões? São as seguintes:

1)     Falta de formação esportiva entre a grande maioria tanto dos jogadores como dos assistentes.
2)     Falta de autoridade que se saiba impor.
3)     Decorrente daí: Indisciplina generalizada e falta de cavalheirismo.
O corolário natural destas deficiências são as cenas deprimentes que devem cobrir de rubor e vergonha todo amigo sincero do esporte e da nossa cidade, que vem sendo degradada pelos seus próprios filhos e dar aos visitantes de fora quase semanalmente a demonstração humilhante da mais perfeita anarquia e indisciplina no “Parque São Francisco”!
Como remediar estes males? Formação esportiva e autoridade respeitada: eis o que exige o momento!
1)     Formação esportiva: É o problema muitas vezes espinhoso da educação popular! O esporte bem entendido é chamado a desempenhar papel importantíssimo neste particular. Como tal ele sempre foi estimado e cultivado pelos povos mais cultos do mundo. Mas só o esporte verdadeiro, cavalheiresco! No momento em que ele se desvirtua a provocar e açular as paixões e instintos baixos do homem, criando ódios, estimulando a força bruta em detrimento da justiça e cavalheirismo, neste momento perde ele por completo todo o direito de existência! Torna-se ele nocivo, prejudicial!
Urge que, com todos os meios ao nosso alcance: nas escolas, nas associações esportivas e de classe e, não por último, pela imprensa, se dê início a esta educação das massas populares, inculcando na alma do nosso povo que o esporte é destinado a cultivar sentimentos de responsabilidade, de justiça, de cavalheirismo, de amor ao próximo e à terra natal! O essencial em cada jogo é o triunfo destas virtudes cívicas, e não a vitória concreta de A ou B! Quantos, porém, vão com estas disposições assistir um jogo? É prova de quanto ainda nos resta fazer no terreno da educação!
2)     Autoridade respeitada: Já desde muito a vida esportiva de Santarém se está ressentindo da falta de um “Órgão Coordenador” com suficiente autoridade para resolver pronta e satisfatoriamente desinteligências ou verdadeiras faltas ocorridas! Pouco importa a denominação desta suprema entidade esportiva, contanto que suas decisões sejam definitivas e inapeláveis, acatadas por todos. Portanto:
Considerando que são intermináveis as dificuldades entre as diversas associações esportivas;
Considerando que há impossibilidade de resolver de outro modo estas divergências existentes;
Considerando que a maioria dos componentes dos principais conjuntos futebolísticos regionais são Congregados Marianos, como tais diretamente sujeitos à Direção da Congregação;
Julgo do meu dever lançar o seguinte apelo:
a)     Iniciem-se quanto antes entre os responsáveis pelas diversas associações esportivas, negociações com o intuito de fundar um “Órgão Coordenador” das atividades futebolísticas dos clubes de Santarém.
b)     Dê-se a esta suprema entidade esportiva suficiente autoridade para decidir de modo definitivo qualquer questão que possa surgir.
c)     A nomeação do árbitro fique reservado exclusivamente a este “Órgão Coordenador”.
d)    As decisões do árbitro sejam consideradas como inapeláveis enquanto perdurar o jogo, que sempre deve ser levado até o fim.
Entretanto, conceda-se a cada clube o direito de – terminado o jogo – apelar para o “Órgão Coordenador”, caso se julgar prejudicado pela atuação do árbitro. Esta entidade suprema julgará sobre a procedência ou improcedência da queixa, estando autorizado até anular um jogo inteiro, se a justiça o exigir!
Meus senhores! Está aqui o meu apelo que se dirige com a mais perfeita imparcialidade a todos de boa vontade, aos amigos sinceros do esporte e da nossa cidade! Nenhum sacrifício nos deve ser grande demais em se tratar da grandeza deles.
Frei Cláudio, OFM – Diretor da Congregação e da Federação Mariana de Santarém.


NOTA: Publicado no Jornal de Santarém de 09 de novembro de 1946.

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