Nos princípios
do mês passado (junho) partiu desta cidade (Santarém) com destino ao rio
Madeira o sr. Jeronymo Bolli, italiano, sócio do sr. Agostinho Tonarelli,
levando em sua canoa, de 3 a 4 contos de réis em vários artigos de negócios e
algum dinheiro. Seguindo sua viagem, pelas imediações de Juruty lhe saíram 7 ou
8 negros, que se presume serem escravos aquilombados, os quais entrando dentro
de sua canoa o assassinaram atrozmente a golpes de terçado, seriam 9 horas da
noite do dia 23 daquele mês! A tripulação da canoa que se compunha de 5
pessoas, lançou-se na água e nadou para terra que estava próxima, recebendo um
ainda alguns golpes, e assim escaparam à triste sorte de seu patrão.
Os negros
apossaram-se da canoa com todo o seu carregamento, e nessa mesma noite
desapareceram. A gente, que se achava em terra dentro em uma casa desabitada
tratando de seu companheiro ferido, conseguiu transportar-se para a Vila de
Faro, onde deu parte do lamentável sucesso, porém, infelizmente, a autoridade
competente recebeu a notícia com o maior sangue frio possível, e providencias
nenhuma deu a semelhante respeito, satisfazendo-se em reter as 4 pessoas que
tinham escapado ao furor dos canibais, por 3 dias em custódia. Há dias passados
chegaram a esta cidade estas 4 pessoas, deixando o outro a decidir em Faro; o
sr. Tonarelli apresentou-as à polícia, onde se procedeu o auto de perguntas, e
nos consta que declararam o que acabamos de referir, sem mais circunstâncias.
Lamentamos que
a segurança individual e de propriedade esteja tão pouco garantida, e que o
governo não promova todos os meios ao seu alcance para de uma vez por termo aos
quilombos que, escondidos nos centros, dão guarida aos braços dos nossos
lavradores, sem garantia e sem esperança de haver o produto do seu copioso
suor. Desgraçadamente o Amazonas está em uma situação precária, porque além de
sua lavoura definhar de dia em dia, de hora em hora, os poucos braços cativos
que lhe restam se embrenham nos quilombos e riem-se das provações porque têm de
passar os donos com a falta de seu serviço!!!
Este horrendo
fato, revestido das mais graves circunstâncias, praticado pelo canibalismo da
horda selvagem de negros mocambeiros que impunemente vivem nas brenhas à
espreita de ocasião azada para fazerem vítimas e roubarem, não só a fazenda,
como a preciosa existência de inocente, que vivem mercadejando fora dos
povoados, merece a atenção do Exmo. Sr. Presidente da Província e do Sr. Dr.
Chefe de Polícia, lançando suas vistas benéficas para o nosso estado de cousas,
nos garanta com algumas medidas energéticas, que afugentarão sem dúvida a
reprodução de tanto barbarismo.
NOTA:
Publicado originalmente no jornal Monarquista Santareno de (?) de julho de
1859.
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