Entre as mais antigas tradições indígenas, a
da pintura corporal é uma das que mais chamava atenção ao homem branco. De
fato, os índios não andavam nus, andavam pintados. A pintura era sua roupa. Em
algumas tribos era permanente (um modo de tatuagem) noutras temporárias (para
proteção, festas ou guerras). A pintura era marca de uma identidade grupal até
mesmo dentro de uma etnia, a exemplo dos Mundurucus, que se dividiam em três
grupos de cores: brancos, vermelhos e pretos. O corpo contava ainda de outros
cuidados. Vejamos algumas descrições...
“Entre outras nações, que possuíam as
adjacências do Tapajós, e afugentadas pelos Mundrucus, conheceram-se os
Hiauains, que tinham uma lista negra do alto da testa até a barba: não se sabe
hoje deles”. (Padre Aires de Casal, falando da Tapajônia).
“Inteiramente
nus andam esses índios, alguns vermelhos de urucu”. (Hercule Florence,
falandos do Apiacás).
“Os
homens traçam na cara desenhos que são os mesmos para todos; os das mulheres
são menos complicados. Além dessa tatuagem,
que parece distintiva da tribo, pintam o peito e o ventre à vontade, traçando
contudo sempre ângulos retos e paralelos uns aos outros.
Nos braços e pernas desenham figuras grosseiras de animais e
peixes; algumas vezes as do homem ou mulher. Além da tatuagem que é fixa, com o
suco do jenipapo fazem pinturas de cor preta, variadas conforme o capricho que
não lhes dura mais de vinte dias ou um mês, isto é, tanto quanto não se
desvanece a tinta. Se as mulheres não tatuam o corpo, em compensação empregam o
jenipapo para listrarem de preto ora o quadril, ora as pernas”. (Hercule Florence falando dos
Apiacás).
“Como
os apiacás, andam nus,
sarapintados no pescoço, ombros, peito e costas, de um desenho que semelha um
mantéu agarrado ao corpo, o que parece indicar certo grau de faceirice, caso
sejam capazes de senti-la”. (Hercule Florence, sobre os Mundurucus).
“Os
mundurucus raspam os cabelos da
cabeça, deixando acima da testa um feixe redondo e curto: por trás usam do
cabelo que chega até às fontes, de modo que todos, homens, velhos, mulheres e
moços, são calvos por inclinação.
Em cada orelha, fazem dois furos, nos quais introduzem cilindros
de dois centímetros de grossura. A marcação (tatuagem) da cara consiste em duas linhas que vão do nariz e da
boca às orelhas, e de um xadrez em losangos no queixo. Além dessas riscas
fixas, pintam-se com suco de jenipapo que é da cor da tinta de escrever. Às
vezes traçam linhas verticais em algumas partes do corpo”. (Hercule Florence, sobre os
Mundurucus).
“Os
da nação Hiauahim tem por sinal distintivo um listão largo e preto no rosto,
principiando do alto da testa até a barba. Os das nações Uarupá, Suarirana e
Piriquita têm as faces matizadas com sinais pretos que lhe fazem os pais na sua
infância com pontas de espinhos e tinta aplicada nas picaduras dos mesmos
espinhos”. (Padre José Monteiro de Noronha, sobre os índios da região do
Tapajós).
“Uma
bela figura de ancião, com tatuagens espalhadas por todos os rostos, ombros e
peito, foi a primeira coisa que me chamou atenção, por sua estranheza (...).
Havia dois outros homens tatuados num rancho aberto, deitados ao lado do velho
já mencionado. Um deles tinha uma estranha aparência, exibindo uma mancha preta
semicircular no meio do rosto, cobrindo a parte de baixo do nariz e a boca;
linhas se cruzavam em seu peito e nas costas, e por suas pernas e braços desciam listas verticais” (Henry
Bates, sobre os Mundurucus do rio Cupari).
“Os índios de algumas tribos que habitavam
outrora o rio, tinham sinais que os distinguiam, por exemplo: os Iauains tinham
um listão preto nas faces, desde a raiz do cabelo à barba; os Uarupas,
Suariranas e Periquitos, tinham as faces pintadas com listas.
(...) Os Appiacás e Parabitetés, que são irmãos,
oriundos do mesmo tronco, usam, como já disse, um risco negro circundando os
lábios; os Tuparurus enfeitam-se com três riscos verticais dentre as
sobrancelhas á raiz dos cabelos; os Iauarités tornam-se garbosos com as suas
três linhas que fogem do canto dos lábios angularmente; os Tapaiunas, para
evitarem a mordedura dos insetos, pintam-se com o suco da casca do fruto do
jenipapo; os Parauaritis são pintados quase como os Appiacás”. (Relato de Barbosa
Rodrigues sobre os índios do rio Tapajós).
“Pelo rio Tapajós dão-lhes o nome também de
caras-pretas, pelo costume que têm eles de se pintarem”. (Barbosa
Rodrigues, sobre os Mundurucus)
“Estes índios usam pintar todo o corpo com
uma tinta extraída da casca do jenipapo e o mais singular é que para ficarem
definitivamente assinalados, tem de decorrer o longo período de 10 anos,
durante o qual é constante o doloroso processo de que se servem para tornar
mais indeléveis os sinais geométricos que indicam seus maiores feitos, por esta
forma, que tem tanto de estúpida quanto de bárbara, tornam-se biógrafos de si
próprios, a pele um livro e sua glória tão duvidosa acaba no túmulo”. (R.
L. Tavares, sobre os Mundurucus do rio Tapajós).
“Os Maués não pintam o rosto; os Apiacás têm
apenas um traço negro-azul, que, partindo do ângulo exterior de cada olho e
descendo até a barba, muito se parece com um suco de lágrima”. (Gonçalves
Tocantins, sobre os índios Mundurucus).
“No rosto e no peito são grande número de
losangos perfeitamente desenhados. Na parte posterior do corpo são linhas
paralelas, tiradas desde o pescoço de alto a baixo até quase os calcanhares; os
seios, as nádegas e as partes sexuais das mulheres, são pintadas com desenhos
de fantasias, mas uniformes para o mesmo sexo”. (Gonçalves Tocantins, sobre
os índios Mundurucus).
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