Não foi somente contra o homem branco que se
faziam guerras. A maioria das nações existentes na Amazônia, na época da
chegada dos colonizadores viviam em guerra frequente contra nações vizinhas. Os
portugueses chegaram a se aproveitar disso para legitimar a escravidão dos que
eram feitos escravos (e que geralmente eram comidos em festas rituais, por isso
chamados pelos portugueses de “escravos de corda”, destinados à pratica do
canibalismo). Algumas tribos como os Mundurucus, Muras, Parintintins, entre
outras, chamadas de índios de “corso”, viviam em frequente migração, lutando
vorazmente contra inimigos ou assaltando nações que viviam de forma mais
sedentária (que dedicavam-se, geralmente, à agricultura). Abaixo, vejamos
alguns relatos sobre as guerras entre os índios:
“Bota de si 60 mil arcos, quando manda dar guerra, e por ser muita
quantidade de Índios Tapajós, são temidos dos mais índios e nações e assim se
tem feito soberanos daquele distrito. São corpulentos e mui grandes e fortes.
Suas armas são arcos e flechas, como as dos mais índios destas partes, mas as
flechas são ervadas e venenosas, de modo que até agora se lhe não tem achado
contra, e é a causa por onde os outros índios os temem; porquanto em ferindo
com as flechas não há remédio de vida (...).
Dão guerra estes a todos os demais daquele circuito, de quem são
temidos. Tem muitos escravos; outros que vendem aos portugueses por ferramentas
para fazerem suas lavouras, e roças á terra”. (Heriarte, sobre os Tapajós).
“Em suas guerras primitivas, eles
exterminaram duas tribos vizinhas, a dos Jumas, e dos Jacarés, e atualmente
organizam expedições todos os anos contra os Pararauates e uma ou outra tribo
selvagem que habitava o interior mas às vezes se vê forçada a procurar as
margens dos grandes rios, acossada pela fome, para pilhar as plantações dos
índios agricultores”. (Henry Bates, sobre os Mundurucus do Tapajós).
“Depois de 1774, apareceu no alto Tapajós uma
tribo também antropófaga denominada Mampás, que foi a principal causa de
extermínio dos Uarupás, que se viam também perseguidos pelos Maués. Os Uarupás
viviam pelas vizinhanças das aldeias de Santo Inácio e São José”. (Barbosa
Rodrigues)
“Quando os Mundurucus acometem, são de uma
ferocidade indescritível; não dão quartel aos vencidos, poupando somente as
crianças, que são por eles adotadas e criadas como se seus próprios filhos
fossem, meio este de alta política para a tribo, porque traz a vantagem de
fazê-la com tempo mais numerosa”. (R. L. Tavares, sobre os Mundurucus do
rio Tapajós).
“Os mundurucus fazem frequentes guerras a
outros gentios seus inimigos, com o fim precisamente de aprisionar mulheres
moças e crianças, e não de matá-las. Matam sim os homens, cuja cabeça conservam
como troféus. Quando se preparam para estas correrias dizem francamente: ‘Eu
vou porque preciso de uma mulher para me casar, ou preciso de um pequeno para
filho de minha mulher’”. (Gonçalves Tocantins, sobre os índios Mundurucus).
“A
tática de guerra dos tapanhunas não revela por parte desses índios um alto
valor militar ou moral: consiste simplesmente no assassinato por traição. Eles
ficam esperando os viajantes que passam pelo rio. Postam-se em alguma praia,
sobre uma ribanceira, em um ângulo tal que obrigue os viajantes a agir de
pronto, sem tempo suficiente para refletirem. De uma hora para outra, surgem na
paisagem, sem arcos nem flechas, rindo, falando alto, fazendo aos que chegam diversos
sinais de amizade e convidando-os a atracar. Logo que os imprudentes viajantes
se colocam ao alcance das flechas, os tapanhunas, repentinamente, fazem chover
suas “taquaras” sobre as confiantes vítimas”. (Henri Coudreau, sobre os
Tapanhumas, tribo errante do alto rio Tapajós).
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