quarta-feira, 19 de abril de 2017

Costumes indígenas no Baixo Amazonas e Tapajós: Guerras e conflitos intertribais.



Não foi somente contra o homem branco que se faziam guerras. A maioria das nações existentes na Amazônia, na época da chegada dos colonizadores viviam em guerra frequente contra nações vizinhas. Os portugueses chegaram a se aproveitar disso para legitimar a escravidão dos que eram feitos escravos (e que geralmente eram comidos em festas rituais, por isso chamados pelos portugueses de “escravos de corda”, destinados à pratica do canibalismo). Algumas tribos como os Mundurucus, Muras, Parintintins, entre outras, chamadas de índios de “corso”, viviam em frequente migração, lutando vorazmente contra inimigos ou assaltando nações que viviam de forma mais sedentária (que dedicavam-se, geralmente, à agricultura). Abaixo, vejamos alguns relatos sobre as guerras entre os índios:


Bota de si 60 mil arcos, quando manda dar guerra, e por ser muita quantidade de Índios Tapajós, são temidos dos mais índios e nações e assim se tem feito soberanos daquele distrito. São corpulentos e mui grandes e fortes. Suas armas são arcos e flechas, como as dos mais índios destas partes, mas as flechas são ervadas e venenosas, de modo que até agora se lhe não tem achado contra, e é a causa por onde os outros índios os temem; porquanto em ferindo com as flechas não há remédio de vida (...).
Dão guerra estes a todos os demais daquele circuito, de quem são temidos. Tem muitos escravos; outros que vendem aos portugueses por ferramentas para fazerem suas lavouras, e roças á terra”. (Heriarte, sobre os Tapajós).

Em suas guerras primitivas, eles exterminaram duas tribos vizinhas, a dos Jumas, e dos Jacarés, e atualmente organizam expedições todos os anos contra os Pararauates e uma ou outra tribo selvagem que habitava o interior mas às vezes se vê forçada a procurar as margens dos grandes rios, acossada pela fome, para pilhar as plantações dos índios agricultores”. (Henry Bates, sobre os Mundurucus do Tapajós).

Depois de 1774, apareceu no alto Tapajós uma tribo também antropófaga denominada Mampás, que foi a principal causa de extermínio dos Uarupás, que se viam também perseguidos pelos Maués. Os Uarupás viviam pelas vizinhanças das aldeias de Santo Inácio e São José”. (Barbosa Rodrigues)

Quando os Mundurucus acometem, são de uma ferocidade indescritível; não dão quartel aos vencidos, poupando somente as crianças, que são por eles adotadas e criadas como se seus próprios filhos fossem, meio este de alta política para a tribo, porque traz a vantagem de fazê-la com tempo mais numerosa”. (R. L. Tavares, sobre os Mundurucus do rio Tapajós).

Os mundurucus fazem frequentes guerras a outros gentios seus inimigos, com o fim precisamente de aprisionar mulheres moças e crianças, e não de matá-las. Matam sim os homens, cuja cabeça conservam como troféus. Quando se preparam para estas correrias dizem francamente: ‘Eu vou porque preciso de uma mulher para me casar, ou preciso de um pequeno para filho de minha mulher’”. (Gonçalves Tocantins, sobre os índios Mundurucus).


A tática de guerra dos tapanhunas não revela por parte desses índios um alto valor militar ou moral: consiste simplesmente no assassinato por traição. Eles ficam esperando os viajantes que passam pelo rio. Postam-se em alguma praia, sobre uma ribanceira, em um ângulo tal que obrigue os viajantes a agir de pronto, sem tempo suficiente para refletirem. De uma hora para outra, surgem na paisagem, sem arcos nem flechas, rindo, falando alto, fazendo aos que chegam diversos sinais de amizade e convidando-os a atracar. Logo que os imprudentes viajantes se colocam ao alcance das flechas, os tapanhunas, repentinamente, fazem chover suas “taquaras” sobre as confiantes vítimas”. (Henri Coudreau, sobre os Tapanhumas, tribo errante do alto rio Tapajós).

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