Nem só de caçadas, pescarias e roças viviam os
índios. A vida era intercalada de diversas festas. Havia festas para celebrar
as referidas caçadas, pescarias, plantações, mas também se celebravam as
guerras, as vitórias, os nascimentos, a maioridade (puberdade)... Algumas
destas festas sofreram adaptações ou inclusões de elementos da cultura
estrangeira (negros e portugueses). Uma delas é a realização do Sayré,
que encantou o Bispo Dom João de São José em Vila Franca. Algumas destas festas
duravam semanas ou até mais dias. Não faltavam danças, (acompanhadas de
instrumentos, ou não) e também bebida, muita bebida... Vejamos alguns relatos:
“Tinham os Tapajós um terreiro mui limpo pelo
mato dentro, que chamavam Terreiro do Diabo, porque indo fazer ali suas
beberronias e danças, mandavam as suas mulheres levassem para lá muita vinhaça,
e depois se pusessem de cócoras com as mãos postas diante dos olhos para não
ver, então falando alguns dos seus feiticeiros, com voz rouca e grossa lhes
persuadiam que esta fala era do Diabo, que lhes punha em a cabeça tudo o que
queriam (...); aconteceu um dia que vendo eu uma fileira grande de homens e
mulheres com seus filhinhos ao colo ou pelas mãos, e igaçabas ou quartas
grandes de vinho na cabeça, perguntei ao alferes João Corrêa que coisa era esta
procissão de gente, e disse-me ele que eram os índios da aldeia que iam beber e
fazer suas danças que chamam poracés no Terreiro do Diabo (...). Outro terreiro
tinham também dentro da mesma aldeia, que os brancos chamavam de Mofama”.
(Bettendorff sobre os Tapajós).
“Veio uma dança de índias à porta das casas
da residência em que estávamos, e ao seu modo dançaram muito honestamente,
tendo cinco em fileira um semicírculo ou meio arco de pau; em que pegavam todas
sustentando-o na base que do círculo inteiro seria o diâmetro, governando uma
índia a dança, e sustentando com um listão preso ao mesmo arco, alargando-o ou
recolhendo quando retrocediam ou quando ganhavam mais terreiro avançando com o
dito arco, a que chamam sayré.
Tudo isto ao som de um pequeno tambor que tocava um índio velho, e faziam uma
representação ao vivo da inocência dos pastores em Belém: a isto se juntavam
várias cantigas em língua tapuia, que primeiro cantava o índio, e repetiam as
índias da mesma sorte e no mesmo idioma”. (Dom Frei João de São José e
Queiroz em Vila Franca, o grifo é meu)
“Costuma estes índios nas suas solenidades
sair com flautas de canelas de brancos, e beber o seu adorado guaraná por cuias
(assim chama na América a umas cabaças, que partidas ao meio servem de comer e
de beber), as quais eles fazem de caveiras de brancos, pintadas de várias cores”.
(Dom Frei João de São José e Queiroz em Pinhel, sobre os Maués)
“Nos quarteis tocam continuadamente das 5 ás
8 horas da manhã e às mesmas horas da tarde o ufuá; que é um instrumento guerreiro, feito de uma taboca de 2 a 3
polegadas de diâmetro e 3 a 4 palmos de comprimento, com um bocal da mesma
taboca, porém fina, preso com cera virgem e que produz um som forte e vibrante”.
(Barbosa Rodrigues, sobre os Mundurucus).
“Depois de uma grande caçada fazem grandes
danças, em que arremedam a voz dos animais que festejam. Nessas ocasiões não se
servem do vestuário de penas, mas sim de um especial. Pintam-se todos com o sêrá, ornam a cabeça com o aquiri, que é um enfeite, que preso nos
cabelos que conservam no alto da cabeça, levanta daí um penacho de penas e cai
para os lábios um tecido de folíolos de muruty, que assemelham-se na forma a
uma grande espiga de milho”. (Barbosa Rodrigues, sobre os Mundurucus).
“Assisti
a uma dessas danças e admirou-me a certeza dos passos assim como o número de
figuras. Geralmente dançam formando círculo, e em todos os passos batendo muito
com os pés. Quando terminam uma parte, batem todos palmas e fazem uma vozeria
infernal”.
(Barbosa Rodrigues, sobre os Mundurucus).
“No princípio da noite os Mundurucus se
reuniram na mais espaçosa cabana e ali com grande estrépito começaram o baile
de máscara. Até tarde se toca, se canta, se dança, se embriaga com Tarubá (uma
bebida espirituosa que os selvagens fabricam com farinha de mandioca posta para
fermentar)”. (Frei Pelino de Castrovalvas, sobre os Mundurucus).
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