É este o teor do
ofício dirigido ao Governador do Pará pelo capitão José Soares de Souza Fogo,
chefe da Comissão de Socorros à Expedição Científica:
Bordo da Lancha Nº 01 da Flotilha do Amazonas, surta
em Santarém, 01 de Setembro de 1890.
Tenho a satisfação de vos participar que a Expedição
sob meu comando, tendo saído de Manaus à 09 de junho, chegou à 14 à Ilha
Goyana, onde, deixando ancorada a lancha, passou-se para uma igarité, subindo
as cachoeiras do Tapajós, em cujo percurso gastou 22 dias; entrando no rio São
Manoel, gastou 19 dias de viagem, penosíssima e aventurosa, até encontrar a
Comissão Científica, logo abaixo do Salto Tavares, em cujo alto permaneceu por
seis longos meses a Comissão, sem o poder descer.
Nesse acampamento ficou enterrado o inditoso capitão
Antônio Lourenço Telles Pires, que sucumbiu, vitimado pelas manifestações
palustres que lhe apareceram.
A comitiva compunha-se de 28 pessoas quando partiu
de Mato Grosso, ao passo que eu só pude salvar 09 pessoas, inclusive o
engenheiro capitão Dr. Oscar de Oliveira Miranda, cujo aspecto era por demais
contristador, pois com segurança não resistiria aos sofrimentos que lhe minavam
a existência, por período superior a três dias!
O seu estado era lastimável e os incômodos eram os
mais graves; e assim, se sucumbisse, é de presumir que poucos lhe
sobrevivessem, em razão de não terem embarcação em que pudessem se transportar
para vencerem as inúmeras e perigosas cachoeiras que, logo abaixo, crivam o
estuário desse tributário do Tapajós.
Minha Expedição sofreu diversas alagações, tais são
as perigosas corredeiras que embaraçam a navegação do São Manoel.
Aguardamos a passagem do vapor da 1ª linha para
conduzir-nos a Manaus, onde terá termo a arriscada e trabalhosa missão que
aprouve ao ilustrado governador do vizinho Estado confiar-me, em falta de
pessoa mais hábil e competente.
Até o encontro com aquela Comissão, só pode
acompanhar-me parte do pessoal que trouxera daquela capital, pois que sete
pessoas ficaram doentes em pontos diversos, e apenas dois marinheiros puderam
comigo chegar ao salto Tavares.
Cumpro um dever de rigorosa justiça, pondo em relevo
a valiosa e eficaz coadjuvação que desinteressadamente me prestaram os distintos
cidadãos Torquato José da Silva Franco e José Ausier de Macêdo, sem cujo
auxílio difícil, se não impossível, me seria chegar a tão remota quão distante
região.
Saúde e Fraternidade.
Ao cidadão dr. Justo Leite Chermont, digníssimo
Governador do Estado do Pará.
José Soares de Souza Fogo, capitão.
NOTA: Publicado
no jornal A Tribuna de 27 de Setembro de 1890
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