A primeira
viagem de uma embarcação comercial a vapor entre Belém e Manaus, foi feita
entre os dias 01 de janeiro e 23 do mesmo mês, no ano de 1853, pelo vapor
“Marajó”. Uma curiosidade é que, nesta mesma primeira viagem, um dos
passageiros fazia explorações minerais em nossa região, conforme podemos ler no
registro abaixo transcrito:
“Regressou no mesmo vapor o ilustrado sr. Dr. Marcos
Pereira de Salles, capitão de engenheiros, que fora em comissão, por ordem do
Governo, encarregado de colher informações de toda espécie, atendendo ao
desenvolvimento e execução da majestosa empresa da navegação por vapor no grande
rio. Ainda que rápida sua viagem, é ela assim mesmo farta de interesses,
esperanças e de importantíssimos esclarecimentos, ora fornecidos pelas pessoas
mais instruídas das diversas localidades que visitou, ora colhidas e
aproveitadas por ele mesmo nas originárias fontes. Somos informados que o
relatório ou itinerário acerca desta importante viagem, que bem podemos chamar
científica, é um monumento honroso para aquele distinto paraense, pois que em
suas páginas transluzem em vastíssimos conhecimentos de mineralogia, geologia e
outras ciências. Trouxe amostras de vários minerais de diversas localidades,
que apresentou ao governo da Província e que, nos consta, vão ser enviadas ao
governo imperial.
No rio Tapajós, que deságua na margem meridional do
Amazonas, e em cuja foz está situada a cidade de Santarém, as pedras calcarias
e marnosas [sic], afetando pela maior parte a forma xistosa, abundam a margem
do dito rio, onde a natureza tem posto a nú o interior do terreno, no qual se
observam aquelas rochas. A pedra de cal (carbonato de cal) já tem sido ensaiada
e produz cal de boa qualidade. A pedra de gesso (sulfato de cal) abunda no
mesmo rio, é da melhor qualidade, produz gesso mui fino e da maior alvura
possível. Encontra-se também, em camadas, neste rio o calcário silicioso
compacto, de fina contextura, que dá belas lajes para calçadas e que pode
substituir a cantaria estrangeira; o xisto argiloso compacto, de cor negra, em
laminas delgadas, que pode servir para tijolos de ladrilho e calçadas
interiores; o xisto cor de ardósia, que serve para pedras de afiar; e outros
xistos marnosos, que podem servir para construções civis. Neste mesmo terreno
também se encontra a lignite (carvão de terra), que pode ser usado no serviço
das máquinas a vapor.
No rio Trombetas, próximo de Óbidos, na margem
setentrional do Amazonas, se acaba de descobrir carvão na margem do lago
Sucuri, distante oito léguas daquela Vila; e, segundo informam os habitantes do
lugar, igual mina se encontra no lago Aripecú, a cinquenta léguas da foz do
Trombetas. Os esclarecimentos ministrados pela pessoa que tirou a amostra, que
para esta capital trouxe o sr. dr. Salles, nada orienta sobre a extensão
daquela primeira mina, sua potência e direção; e pela amostra nada se pode por
enquanto afirmar a respeito da qualidade do carvão, segundo temos ouvido de
pessoa esclarecida e bem informada, por isso, que não é fácil por estes simples
e imperfeitos dados, decidir se será carvão de madeira petrificada, se lignite,
ou antracite, ou mesmo carvão de pedra. No entanto, um pedaço encontrado na
amostra parece denotar ser carvão de pedra, pelo peso, cor, brilhantismo e
contextura da secção, se bem que não tenha ao queimar o cheiro principal deste,
o que não admira por se achar o carvão logo à superfície do solo e sujeito, por
consequência, às influências do calor, frio e umidade, que lhe tem feito
evaporar suas partículas gasosas e betuminosas.
No mesmo rio Trombetas se tem encontrado e em grande
abundância no álveo e margens, um mineral metálico, mui rico, cujas amostras
apresentam a aparência de sulfareto de cobre, combinado com os sulfaretos de
zinco e antimônio, cristalizado em lâminas, de cor metálica, brilhante, polido,
atirando ao amarelo cor de latão e acompanhado de ganga, composta quase
exclusivamente de pedra hume (super-sulfato de alumina e potássio) e capa rosa
azul (sulfato de cobre). Consta-nos que o dito sr. Dr. Salles ainda não pode
fazer ensaios para reconhecer a sua verdadeira espécie.
Também na falda do Outeiro, pequeno morro, duas
léguas acima da Freguesia da Prainha, à margem mesmo do Amazonas, é fora de
dúvida haver carvão em grande quantidade (...).
Será muito para desejar que o governo imperial,
animado por tão esperançoso ensaio, houvesse de aproveitar as luzes, prática,
dedicação e zelo do nosso prestante comprovinciano, o sr. Dr. Salles,
organizando com ele uma comissão mais completa e perfeita para a exploração
científica deste grande rio e seus confluentes, dando-lhe companheiros
profissionais, práticos e ilustrados, tirado da classe dos geólogos, botânicos,
mineralogistas e engenheiros, autorizando as precisas despesas, e prestando a
conveniente proteção”.
NOTA: Publicado
no jornal Observador de 15 de fevereiro de 1853.
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