Dia 13 de junho.
06 horas da manhã...
Dia claro,
apitos de lancha, hurras, alegria geral, foguetes fendendo os ares, estouros de
bombas, preparos de desembarque, azafama, neurose feminina, troca de
cumprimentos, apresentações de parte a parte e, o Euterpe surge com a
Felicidade de sempre a prender o coração da elite de Alenquer...
Arrumações,
agasalho da tropa santarena, animação, disputas de convidados, gentilezas,
convites para cá, convites para lá e, finalmente, ninguém sabia a quem
atender...
Hora da Missa...
Troca de roupas,
confusão, e um dizia com que roupa, outro virava par ali, outro mexia para
acolá, abre malas, fecha malas, e lá foi enfim a tropa procurar na Igreja, na
hora da missa, os seus encantos, as suas prediletas, que naquele momento faziam
as suas preces em louvor do santo patrono das moças casamenteiras...
Dez horas...
Pleno dia, sol
quente, lá vem a “Africana”, quem vem? É fulano, é sicrano, e nessa ânsia disse
umazinha contristada: “Ah! Seu Pedro Mota não veio, ingrato!”
Nisto salta para
a terra um pelotão comandado pelo paizinho Vicente Malheiros, que imediatamente
deu voz de ordinário... marcha, rumo à Igreja. Alinhados, seguiram os seus
comandados entoando o “O Mineiro Pau” com grande sucesso...
Onze horas...
Aperitivos,
danças, toques de piano desafinado, primeiros olhares fulminantes, conquistas,
flertes, e o Izoca começa com o seu joguinho de “Urubu Malandro”... daquele
jeito. Entra o Vavá com a sua loira e fica Vavá-Doca... Sai o Desidério com a
Homem, fica sério e vai Analizando... Aparece o Zé Serruya com uma pequena e
Cota, Cotiza e Cotizando passa o Diquinho que fica na boca... Vem o Carlos com
a Miss Alenquer e fala inglês por acenos... Passa o Marcílio com Sangue Azul e
como quem pisa ovos não dá confiança... Surge o Tonico entusiasmado e passa o
arco com toda a maestria... Finalmente chega o Joaquim desfolhando uma
Margarida, linda como os amores, e o Pedro fica arreliado com o Roffé por causa
da mesma flor... Duelo Joaquim, Pedro e Roffé, por causa da cuja...
Meio dia...
Sol com
zênite... Aniversário da Joana... Toca para lá... Doces, bebidas, amabilidades,
gentilezas, parabéns, felicitações, estas coisas de quem faz anos dia de Santo
Antônio... E a essa altura é que entra o maestro Zé Agostinho beijando o velho
José Hage e manda rasgar um “Pão com Linguiça” que era um verdadeiro cachorro
quente. Tira dama... Afobação... Cada um quer a melhor... Não sei o que...
Trolóló pão duro... Animação. Levanta-se então o Augusto Lopes, meio
absolutamente e vai tirar uma pequena que trajava de encarnado e véu... Ela,
entusiasmada pela delicadeza do poeta, levanta-se e sai aos pulinhos, mas não
acerta o passo... O Lopes, aperriado, com dor nos calos, para, e com a mesma
delicadeza diz-lhe: “Calma, senhorita! Vamos no compasso da cidade...”.
Uma hora da
tarde...
Calor sufocante,
almoço em diversas casas onde foi hospedada a tropa, quitutes variados e bem
condimentados, vinho verde gelado, cerveja, guaraná, tudo a “la voluntè”...
Foram oradores principais por essa ocasião o Bordallo e o Duarte que
discorreram com agrado. Ambos trajavam bicas de galo, destacando-se no Duarte a
corrente com medalhão à antiga portuguesa.
Duas horas da
tarde...
Hora da sesta,
descanso geral da tropa, todo o mundo dormia, só o Apolônio Fona andava na rua
a apanhar instantâneos das coisas invisíveis, mistério... E junto ao trapiche
boiava, sobranceira, a linguiça-quilômetro que entusiasmou o Desidério, a ponto
de o fazer bater uma chapa na sua Kodak... Oh! Folego.... Oh! Cobra de duas
cabeças...
Cinco horas da
tarde...
Procissão,
alinhando tudo com corretismo... E como o Antonico de lá é um tanto pesado, foi
escalado o seguinte quarteto: Marcílio, Lopes, Raydol e Costa Homem para
suportarem o andor... A certa altura o Raydol entregou os pontos, que tinha de
ir “beber água” na bilheira do Iguacinho.
Oito horas da
noite...
Agitação no
Largo, vai e vem de turmas, confidências, comentários, leilões, trotes
femininos, declarações de momento, abarracamentos, balouços de amor,
carrossel... E lá no bar do Colombiano o frevo era do tamanho de um bonde...
Destacando-se a banca dos “coronéis casados”... Polcrata animada com as
pequenas locais... Ao papouco da cascatinha gelada... Era uma trinca batuta,
por fim cantaram a marcha “Segura essa mulher que ela quer fugir”... Faziam o
coro o J. S., Dídimo e A. F.
Dez horas da
noite...
Já com a luz da
lua, fogos e mais fogos, balões e mais balões, tudo sentia um ardor que se
acabava... Desmaios prováveis de fim de festa... E rumo da União Esportiva vai
em massa compacta aquele batalhão de gente que entra dançando a “A mulher do
Regimento”.
Meia noite...
Lua em meio,
entusiasmo formidável, bis e mais bis, calor, sede, falta de luz momentânea,
bancas e mais bancas, tudo era animado... E ainda vinha chegando gente... Era o
Lauro Nunes com as suas amabilidades, mas, confundido com tanta alegria na sua
terra, apresentou o Bordallo a um seu camarada, dizendo-o ser o poeta Augusto
Lopes, e mais uma vez o Bordallo foi intitulado de beletrista.
14 de junho...
Três horas da
manhã...
Hora das
despedidas, momento dos choros e das desilusões, hora das tristezas que não
pagam dívidas, abraços, beijos... E lá vem a maioria rumo do trapiche, em
marcha acelerada, por baixo de um tempo formidável que se aproximava... E foi
tal o choro, que o céu, invejando, chorou também, fazendo baixar à terra um
forte aguaceiro, impedindo o embarque do Guto e do Bordallo, que ficaram lá
enxugando, no rescaldo das fogueiras, a sua roupa.
Quatro da
manhã...
Partia a
Marilita com a tropa toda que fez Alenquer palpitar de anseios, vibrar de
alegria durante algumas horas... E como a lancha vinha com superlotação, andava
o comandante Napoleão de farol em riste, qual cavaleiro da lenda, a procurar
quem não tinha rede para fazer o oferecimento do camarote. O Marilita era um
barco comprido que deu agasalho a muita gente boa, nessa noite do boi preto...
Nós tivemos tanta raiva do Dídimo. Oh! Raiva.
Os senhores
atingidos pela minha objetiva desculpem se não foram bem fotografados... E às
gentis senhoritas peço também desculpas pela má exposição que dei aos meus
instantâneos... Mas tudo foi falta de luz, e nada mais.
PHOTO-AMADOR.
Aulopes.
NOTA: Publicado
no Jornal de Santarém de 17 de junho de 1933.
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