Rodrigues dos
Santos
O que é que
pode, às vezes, ocultar um grosseiro burel?
A alma simples
de um justo, o resplendor magnífico de um santo!
Frei
Bernardino foi um eleito; e um espírito erudito e culto. E, com sinceridade,
jamais acompanhamos o féretro de um justo, com tanta paz, confiança singeleza,
como se acompanhássemos o caixão azul de um anjo! O orador, que à beira de sua
tumba falou, ofertando em nome coletivo uma gerba de flores, não teve razão
para censurar o silêncio dos jornalistas e a mudez dos poetas.
Por acaso
ignora o orador, que a pena também às vezes desfalece, e a lira emudece envolta
em crepes, pendurada nas ramas dos salgueiros?
Tudo o que a
pena possa rabiscar, não teria cor para expressar o sentimento; tudo o que a
palavra pudesse exprimir, não teria sentido mais eloquente, do que a apoteose
espontânea que lhe foi feita.
Só o silêncio
exprime as grandes dores! A lira terrena igualmente não tem eco, quando a corda
lhe estala, ou quando escuta ao longe a lira dos Arcanjos – muito mais
harmoniosa e doce!
É a harmonia
do céu; é a música divina! O som do bronze, que tangido, soava na tarde silente
que via este justo – creio não errar se dissermos este santo – baixar ao
túmulo, chorava pela terra, e parecia alegrar-se pelo céu, que o via subir!
Frei
Bernardino, que veio de sua formosa Pátria no albor da vida, findou-se aos 59
anos, mais velho, muito mais velho, não pela idade, mas pelos sacrifícios
silenciosos, as vigílias e os jejuns, que a si mesmo impunha.
E bastas vezes
dissemos, no recesso d’alma, com sinceridade o confessamos, que se há um lugar
no céu para os eleitos, de antemão preparado, a este humílimo servo do burel,
um era devido.
E não o
duvidamos, afinal, que ele o tivesse. Seu enterramento foi uma consagração;
tudo o que Santarém tinha de nobre esteve presente, ou fez-se representar.
Ninguém diria ser um leigo – um simples e humilde leigo – que baixava à terra
tapajônia. Não; é que todos nós sabíamos que era mais um apóstolo que ia
amesendar-se com o Senhor, entre os doze das tribos de Israel!
Pálida é a
expressão da minha pena, para traduzir o sentimento do sublime; resta-nos
agradecer agora a essa nobre alma que empregou toda a sua atividade em prol das
causas santas, a esse digno imitador de São Vicente de Paulo – o grande
apóstolo da caridade – o muito que fez por nossa terra; o muito que fez por
este povo, em curto lapso de tempo, duas vezes sangrado no coração!
NOTA:
Publicado no jornal O Mariano de 28 de junho de 1936.
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