O nosso serviço
telegráfico noticiou a chegada, à Belém, deste notável explorador inglês.
Nos jornais do
Pará encontramos as notas abaixo sobre a travessia que realizou:
Savage Landor [foto] penetrou nas matas goianas, convicto de que estava tudo bem disposto e teria
bom êxito a sua tentativa. Os animais eram, ao todo, dezesseis.
A expedição
atravessou o planalto de Mato Grosso e dirigiu-se às cabeceiras do Arinos,
origem do Tapajós.
Ali, depois de
adquirir dos indígenas, duas ubás, desceu o Arinos e comunicou-se com o
Tapajós, passando as suas cachoeiras e saltos até a confluência do Paranatinga,
ou São Manoel, depois de ter percorrido, na sua foz, o Juruena.
Tendo escasseado
as provisões de boca, o viageiro partiu daquele ponto com dois homens, pela
floresta, para o Canumá, que demora a alguns quilômetros do rio Madeira, no
empenho de obter viveres. Essa travessia de Paranatinga ao Canumá que, segundo
as previsões, devia durar quatro dias, foi vencida em 27 dias que custaram aos
itinerantes indescritíveis tormentos.
Não tendo
encontrado barracão onde pudessem comprar alimentos, conseguiram obter dos
tripulantes de uma canoa 1 paneiro de farinha e 1 lata de manteiga, depois do
que regressaram ao ponto em que tinham deixado os companheiros, no Tapajós,
seminus e descalços, porque durante uma noite as formigas inutilizaram os
sapatos dos excursionistas. Como o nosso companheiro se admirasse da voracidade
das formigas, o abnegado engenheiro pôs-se a rir, explicando que não era de
admirar dada a grande quantidade de saúvas existente na mata. Acrescentou que,
com a falta de sapatos, os suplícios por que passaram foram cruéis.
Durante os
últimos dezesseis dias faltaram completamente os recursos, nada mais houve que
comer, e o engenheiro e os seus camaradas experimentaram, então, os horrores da
fome; mal podiam andar, tendo adoecido os que antes haviam comido farinha e
manteiga. Era doloroso ver-se assim, sem forças, homens que haviam feito a
maior parte do trajeto, desde o início da exploração, cheios de robustez e bem
dispostos.
Não obstante
esse amargo revés, Savage Landor, com o pessoal, prosseguiu a sua missão,
descendo em ubás o rio Tapajós. Sorriu-lhe então a felicidade; um novo
horizonte se lhe deparou. Em todos os pontos o excursionista era recebido com
gentileza e simpatia, por parte dos proprietários dos barracões e seringueiros.
E assim continuou a viajar, até encontrar-se com o senhor João Pinto, empregado
do coronel Raimundo Pereira Brasil, que o acolheu generosa e afavelmente,
acompanhando-o até o lugar denominado Pimental. Aí o recebeu o coronel Brasil
que, com o seu pessoal, vinha em canoa e concedeu transporte ao engenheiro
britânico, então doente, e para o qual teve cuidados fraternais, levando-o para
a sua residência, em Itaituba.
Uma vez
melhorado, Landor resolveu tomar, em Itaituba, o vapor nacional “Comandante
Macedo”, que lhe causou ótima surpresa, pois não imaginava ver aquela artéria
do rio-mar sulcada por uma embarcação como a de que era passageiro.
O engenheiro
Landor percorreu cerca de oito mil quilômetros em quase oito meses. Todo o
vastíssimo território atravessado é fertilíssimo, especialmente o alto Arinos e
as terras banhadas pelo Tapajós, onde o solo avulta, ora acidentado, ora em
extensas planícies ou formosas campinas, cercadas de árvores gigantescas.
A zona tapajuaba
[sic], refere o excursionista entusiasmado, é admirável, riquíssima e abundante
em cauchais virgens, que produzirão, a seu tempo, a riqueza dos seus
proprietários.
Outros produtos,
que julga inestimáveis, além da flora exuberante, onde se encontram variadas
espécies de madeira de lei, entesouram aquelas remotas paragens, omitindo, na
sua narrativa, fatos e aspectos diversos, que serão tratados em minuciosa
monografia que vai elaborar e para a qual anotou os necessários pontos, que
constituem o subsídio.
De toda a região
desconhecida, o dr. Savage Landor procedeu ao levantamento, para a organização
de mapas, tirando a latitude e longitude de todas as depressões encontradas.
Nesse trabalho, muitas vezes completamente abstrato, afastava-se dos seus
companheiros, na distância de alguns quilômetros. Durante o percurso apanhou
mais de 400 chapas fotográficas.
NOTA: Publicado
no jornal Pacotilha de 17 de novembro de 1911.
Sobre essa expedição de Savage-Landor: http://www.gutenberg.org/files/22483/22483-h/22483-h.htm
ResponderExcluir