Por Gleen D.
Kittler
O Bispo acabava
de celebrar a missa, eram 4 e meia da manhã, e em seguida, como fazia cada
madrugada, descia até o rio para benzer o barco dos pescadores. Um dos homens
olhou para a correnteza e disse: “Obrigado por benzer meu bote, Dom Tiago.
Sinto-me sempre mais seguro quando penso que sua benção pode salvar a minha
vida”.
O Bispo sorriu.
“Sua pescaria pode salvar a minha”, disse. “Procure apanhar alguma coisa hoje,
sabe? Para a gente ter o que comer”.
Fitou o homem a
face do Prelado um instante retribuindo o sorriso. “Está bem, seu Bispo, vou
tentar”, disse, “mas se não pescar muita coisa sempre posso contar com um
milagre seu”.
“Milagre já é
você não afundar nessa casca de noz”, retruca o Bispo.
Raízes de Confiança
Essa conversa
viva é típica de Dom James Conleth Ryan (foto) com o seu povo de Santarém, cidade de
10.000 habitantes, no coração da selva paraense. Nessa familiaridade de trato
vai toda a conformidade que permite àquele povo suportar o rigor de sua extrema
pobreza. Nela, também, as raízes da confiança na Igreja, que vem, como nunca o
fez antes, trazendo aquele povo para perto de Deus.
Sim, antes de
Dom James chegar ao Brasil como missionário franciscano, em 1943, raras vezes
padre era visto na região. Devido a série escassez de sacerdotes, típica da
América Latina, aqueles que conseguiam lá chegar ficavam apenas por pouco
tempo, gastando-o em sua maior parte em pregação, especialmente quanto a
situação moral. Logo tinham que partir sem poder fazer coisa alguma pelas
condições sociais miseráveis que provocavam os problemas morais.
Mas o Bispo Ryan
viera para ficar. Além do mais, conhecera de perto, de primeira mão, as
dificuldades da vida, tendo nascido e vivido a infância na mais pobre e dura
vizinhança de Chicago. Antes, pois, de aprender o idioma, sentira-se no Brasil,
como “em sua própria casa”.
Os novos apóstolos
Um dos seus
primeiros obstáculos fora o administrador de uma plantação de borracha, que
contratava trabalhadores em condições vizinhas da escravidão. Temeroso de que o
frade norte-americano pudesse usar o púlpito para despertar os trabalhadores
relativamente aos seus direitos, não permitia ele que o religioso entrasse nas
plantações. Ousadamente o jovem padre construiu uma capelinha-quarto do outro
lado do rio, donde tão fervorosamente pregava a doutrina católica que o Governo
do Estado acabou por se interessar e reclamar melhorias.
Isso
impressionou profundamente o povo e despertou nele comovida gratidão.
Compartilhando as dificuldades
Sagrado Bispo em
1958, tomou ele posse de uma Diocese do tamanho da França, com apenas 25
sacerdotes. Viajando de canoa ou jipe, fez-se presente em toda parte, levando
consigo energia e bem-humorada simplicidade. Perguntado se sabia acender fogo
pelo atrito de dois pauzinhos disse: “Sim! Se um deles for um fósforo...”. Ante
as caçoadas porque relutasse um pouco em comer carne de macaco, única ao
alcance, saiu-se com: “Está bem! Vou fechar os olhos e imaginar que é
galinha...”.
Partilhando as
dificuldades do seu povo, tornou-se um deles e, como tal, pode leva-los a uma
vida melhor. Desenvolveu processos de agricultura e organizou cooperativas.
Abriu clínicas,
e orfanatos, e escolas. Começou um Seminário e em cada nova fundação ergueu uma
capela, mais de cem já, para que seu povo pudesse ver que o bem lhes era feito
pela Igreja e por causa da Igreja. Seu espírito franco e alegre deixa todo
mundo à vontade, disposto a discutir qualquer assunto, e assim foi-lhe possível
erradicar os problemas morais que antes apenas eram condenados.
Essa mesma
franqueza, nas viagens que empreendeu aos Estados Unidos, quanto aos seus
pesados encargos econômicos, levou alguns norte-americanos a conjeturar se o Bispo
não estava sendo demasiado materialista nos seus esforços missionários, e a sua
resposta foi: “Bem, dinheiro não é tudo. Há muita espécie de capital...”.
Enquanto nas
Missões houver homens como Dom Tiago, haverá também Igreja.
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