A propósito do primeiro
carregamento de madeiras e outros produtos das florestas brasileiras, recebido
pelo senhor Henry Ford, procedente das suas plantações na região tapajônica, o
sr. Sebastião Sampaio, cônsul geral do Brasil em Nova York, concedeu à imprensa
da fantástica metrópole a entrevista que transcrevemos abaixo, dizendo do
lisonjeiro futuro que a iniciativa do famoso milionário promete ao nosso país.
Diz a
entrevista:
“As imensas
possibilidades que oferecem as matérias primas brasileiras, encontraram
finalmente um homem como Henry Ford para apresenta-las ao mundo de uma maneira
prática e eficiente. Seria apenas lógico que essa apresentação ao comércio
mundial começasse pelos Estados Unidos, principal nação industrial do globo e,
portanto, a maior consumidora de matérias primas.
Estas resinas,
para a indústria das pinturas; estes óleos, para a fabricação de sabão e outros
produtos; estas fibras de considerável resistência, principalmente o curuá [sic], que talvez ainda não haviam
saído do Brasil, e que serão pela primeira vez estudados nas suas
possibilidades comerciais, nos laboratórios da Companhia Ford, em Detroit;
estas matérias primas vão ser justamente consideradas como uma das mais
agradáveis surpresas que os industriais americanos poderiam receber neste
período de depressão comercial, em que a diversificação de produtos representa
uma nova arma contra os males da crise.
De propósito,
deixei para minha última observação estas famosas madeiras brasileiras. Não
preciso repetir as dezenas de seus nomes, uns pitorescos, outros românticos,
nome cuja leitura não bastou para satisfazer a curiosidade inovadora do sr.
Henry Ford, que fez transportar para aqui este primeiro carregamento composto
de todas as espécies a fim de estudar todas as suas qualidades nos seus
laboratórios de Dearborn, além de usá-las imediatamente não só no interior de
sua nova fábrica em Alexandria, no Estado de Virgínia, como na construção dos
famosos automóveis Lincoln, de vitrolas, rádios, móveis, etc.. Como se vê,
começam concomitantemente as experiências teórica e prática para que dentro de três
meses se inaugure em Nova York a primeira exposição prática e permanente destas
matérias primas ao lado dos diversos produtos manufaturados que as utilizam,
como base fundamental de informação para auxiliar o imediato comércio destes
produtos.
Basta a simples
indicação de toda esta inciativa para demonstrar como a indústria brasileira de
madeiras, com seus produtos e sub-produtos encontrou a solução prática que há
muito aguardava. Não será demais antecipar, ainda, que a indústria de móveis
nos Estados Unidos em dois ou três anos estará revolucionada pela multiplicação
das facilidades com a invasão da madeira brasileira, graças a iniciativa Ford.
Estou hoje certo
de que, quando o sr. Ford iniciou sua plantação de borracha no Pará, além de
prever a importância capital que essa plantação representaria para o mundo, especialmente
para a indústria de automóveis dos Estados Unidos, s. s. igualmente previu que
a borracha seria apenas uma das dezenas de árvores que representam a mais preciosa
reserva florestal do mundo, não se esquecendo de que o território do Brasil,
com uma área maior que o dos Estados Unidos, tem quase 50% de seu solo ainda
coberto das mais raras e famosas madeiras do mundo. Tal é a razão porque o
próprio nome do meu país vem de um diretamente de uma das nossas madeiras, o “pau-brasil”,
de resistência admirável e aparência lindíssima que consideramos um símbolo das
nossas maravilhosas florestas”.
NOTA: Publicado
no Jornal do Acre, Nº 155. Na foto, corte de uma árvore em Fordlândia no ano de
1931.
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