domingo, 8 de dezembro de 2019

Notícias sobre indígenas em Itaituba em 1862

Municipio de Itaituba. Na parte do rio Tapajós pertencente a este município contão-se 3 aldeas de Mondurucús á baixo da villa, e á margem do rio. E á cima da mesma villa 10 malocas á beira do rio, e 19 outras nas campinas ali existentes, todas compostas de indios da tribu Mondurucú, a saber:
As 3 aldeias existentes – contendo 853 almas;
As 10 malocas abeira do rio – 1738 almas;
As 19 malocas nas campinas centraes – 7315 almas;
[Total de] 9907 [indígenas Mondurucús].
Na mesma margem do rio ha 4 malocas da tribu Maués com 278 pessoas, e nas terras centraes 28 malocas com 5379 almas, o que dá uma população de 5657 índios Maués.

(...)
Nas campinas e terras de Manés, que fico no centro das mattas, existem outras malocas, que por falta de informações deixão de ser incluidas no numero das que ficão mencionadas.
Os Mondurucús, e os Maués saõ excessivamente desconfiados; mas simples e sinceros no seu trato com as tribus visinhas, e principalmente para com os homens civilisados, que os procurão. Quando recebem d'estes, ou daqueles uma qualquer offensa, elles de ordinario os abandonão, e os despresão; mas se a offensa é relativa á honra de suas mulheres, de quem são muito zelosos, commettem então as maiores violencias e atrocidades.
A caça e a pesca saõ sua industria favorita; são porém aptos para qualquer outro trabalho industrial, e sabem vantajosamente imitar alguns artefactos, que lhes chego ás mãos. Cultivão algum guaraná, tabaco e mandioca, de que fazem alguma farinha; mas essa cultura é tão imperfeita, como em todas as demais tribus, que mal merece este nome. Elles a farião talvez melhor, se lhes ensinassem o seu fabrico, e fossem acoroçoados pelo incentivo da educação, e dos gosos, que a acompanhaõ; se bem que, no seu estado actual, isentos de toda a ambição, torne-se extremamente difícil chamal-os a outro caminho, por qualquer outro meio, que não seja a satisfação material dos mesmos gozos, a que elles aspirão.
Os Mondurucús são inclinados ao commercio, não despresão a lavoura, nem aborrecem o trabalho.
Os Maués, pelo contrario não aprecião uma nem outra destas couzas, embora as não encarem com repugnancia.
Mondurucús e Maués estão relacionados com as tribus visinhas, e com os homens civilisados, que os procuro, a quem dão em troca das mercadorias, de que carecem, os productos, que colhem, ou preparão, como são a borracha, salsa, óleo de cupahiba, guaraná, cravo, tabaco, breu, estopa, castanha, algodão e cumarú.
Este commercio, que estas tribus. entretem, podia ser mais consideravel, e regular, e muito mais vantajoso, se o regatão, sempre mal intencionado, não praticasse no seio delle os costumados actos de violencia.
Segundo as noticias que tenho recebido, no seio mesmo destas tribus, em verdade as mais diligentes, e affaveis mesmo, o regatão não deixa de maltratar o indio, quando ao chegar a maloca, não acha promptos os productos devidos em pagamento das mercadorias, que adiantou-lhe.
A' esta causa, e á fraude, que preside as permutas, attribuem os caracteres honestos moradores das immediações d'aquella região a pouca permanencia, que se nota na residencia, do indio no seio de suas aldêas e malocas, e cujos sitios elles amão mais do que todas as couzas.
Além destas tribus mencionadas outras muitas existem disseminadas por todos os angulos desta provincia á respeito das quaes ainda espero informações, que devo a final levar á presença do governo imperial, solicitando o seu poderoso auxilio para restabelecer a catechese nesta provineia em condições de poder ser util em seus resultados (...).

NOTA: Texto extraído do Relatório do Presidente da Província do Pará, dr. Francisco Carlos de Araújo Brusque, em 01 de setembro de 1862.

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