Pesquisando nos anais
jornalísticos de nossa querida Pérola do Tapajós, encontramos alguns textos sobre
a história de lendas locais que ainda estão vivas e presentes na memória e nas
tradições do povo santareno. A história abaixo foi um artigo assinado por um
“João Maluco”, um pseudônimo, usado no jornal A Cidade, onde era redator Felisbelo
Sussuarana, e que também tinha a colaboração de Paulo Rodrigues dos Santos. Foi
originalmente publicado em 14 de fevereiro de 1925, e trata da lenda de “Mboia”,
a cobra grande do Juá. Vejamos:
“Entre as relíquias históricas desta bela Tapajônia, há uma que toda
gente conhece: é o velho Máximo.
Máximo
José da Rocha, Tesoureiro aposentado da Intendência, contemporâneo do tuxaua
André e primeiro empresário da primeira USINA DE LUZ, aí assim pela era de
1868, quando ainda se fazia iluminação terebintina com aguardente “do reino” e
sebo de peixe-boi.
O
Máximo Rocha é até hoje um bom camarada, cujo coração, embora machucado na
juventude pelas graciosas curibocas de Alter do Chão, mostra ainda as belas qualidades
do seu caráter.
Pois
o Máximo Rocha tem outra celebridade que o torna maior: é proprietário do JUÁ!
Os
leitores conhecem o Juá, o lago Juá, ali perto da Caieira?
Não?
Nem eu!
Ora,
aí está um caso sério a demonstrar a nossa indiferença pelas tradições da terra
que nos foi berço.
O
Juá tem nome na História.
Pelo
menos na grande “História do Brasil”, em 10 volumes, de Rocha Pombo.
O
brilhante historiógrafo patrício, ao tratar dos usos, costumes e lendas dos
primeiros habitantes do nosso país, transcreve da formosa obra de Couto de
Magalhães – “O SELVAGEM”, várias lendas da antiga Aldeia dos Tapajós.
Foi
ali, no volume II, página 189, que eu descobri
o Juá.
Perudá,
o deus do amor entre os índios, tinha a seu serviço uma cobra-grande: Mboia
[sic], cuja incumbência era reconhecer a virgindade das moças indígenas. Essa
lendária serpente habitava o Juá, e os selvagens da Amazônia vinham de
longínquas aldeias, consulta-la nas suas graves questões de família.
Quando
alguma menina era suspeita de haver desencaminhado, os pais a levavam ao dito
lago, deixando-a só numa ilhota, com os presentes destinados ao nume [sic],
retiravam-se para a margem fronteira e começavam a cantar.
A
serpente vinha, sobre as águas, até avistar a moça; e, ou recebia os presentes
se a moça estava efetivamente pura – (e neste caso percorria o lago cantando
suavemente, o que fazia adormecer os peixes e dava lugar a que os viajantes
fizessem provisão para a viagem), ou, no caso contrário, devorava a moça, dando
roncos medonhos.
E
foi pela porta dessa lenda que o lago do velho Máximo entrou na História,
dando-me oportunidade para mais uma vez paulificar os meus quatro leitores”.
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