segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A lenda da cobra grande do Juá



Pesquisando nos anais jornalísticos de nossa querida Pérola do Tapajós, encontramos alguns textos sobre a história de lendas locais que ainda estão vivas e presentes na memória e nas tradições do povo santareno. A história abaixo foi um artigo assinado por um “João Maluco”, um pseudônimo, usado no jornal A Cidade, onde era redator Felisbelo Sussuarana, e que também tinha a colaboração de Paulo Rodrigues dos Santos. Foi originalmente publicado em 14 de fevereiro de 1925, e trata da lenda de “Mboia”, a cobra grande do Juá. Vejamos:


Entre as relíquias históricas desta bela Tapajônia, há uma que toda gente conhece: é o velho Máximo.
Máximo José da Rocha, Tesoureiro aposentado da Intendência, contemporâneo do tuxaua André e primeiro empresário da primeira USINA DE LUZ, aí assim pela era de 1868, quando ainda se fazia iluminação terebintina com aguardente “do reino” e sebo de peixe-boi.
O Máximo Rocha é até hoje um bom camarada, cujo coração, embora machucado na juventude pelas graciosas curibocas de Alter do Chão, mostra ainda as belas qualidades do seu caráter.
Pois o Máximo Rocha tem outra celebridade que o torna maior: é proprietário do JUÁ!
Os leitores conhecem o Juá, o lago Juá, ali perto da Caieira?
Não? Nem eu!
Ora, aí está um caso sério a demonstrar a nossa indiferença pelas tradições da terra que nos foi berço.
O Juá tem nome na História.
Pelo menos na grande “História do Brasil”, em 10 volumes, de Rocha Pombo.
O brilhante historiógrafo patrício, ao tratar dos usos, costumes e lendas dos primeiros habitantes do nosso país, transcreve da formosa obra de Couto de Magalhães – “O SELVAGEM”, várias lendas da antiga Aldeia dos Tapajós.
Foi ali, no volume II, página 189, que eu descobri o Juá.
Perudá, o deus do amor entre os índios, tinha a seu serviço uma cobra-grande: Mboia [sic], cuja incumbência era reconhecer a virgindade das moças indígenas. Essa lendária serpente habitava o Juá, e os selvagens da Amazônia vinham de longínquas aldeias, consulta-la nas suas graves questões de família.
Quando alguma menina era suspeita de haver desencaminhado, os pais a levavam ao dito lago, deixando-a só numa ilhota, com os presentes destinados ao nume [sic], retiravam-se para a margem fronteira e começavam a cantar.
A serpente vinha, sobre as águas, até avistar a moça; e, ou recebia os presentes se a moça estava efetivamente pura – (e neste caso percorria o lago cantando suavemente, o que fazia adormecer os peixes e dava lugar a que os viajantes fizessem provisão para a viagem), ou, no caso contrário, devorava a moça, dando roncos medonhos.

E foi pela porta dessa lenda que o lago do velho Máximo entrou na História, dando-me oportunidade para mais uma vez paulificar os meus quatro leitores”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário