quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Um editorial sobre a morte do intendente Manoel Waldomiro Rodrigues dos Santos – 1926

Com a devida vênia, transcrevemos do “Correio do Pará”, o belíssimo artigo que, sob o título “Dorme, amigo!”... publicou o ilustrado desembargador Manoel Buarque:
Causou profunda consternação a todos que se interessam pela preponderância do Pará, no norte do país do Cruzeiro, a morte do dr. Rodrigues dos Santos, ultimamente ocorrida em Paris, onde foi buscar alívio à enfermidade terrível que lhe minava a existência.
O paraense ilustre, que ora desaparece do cenário do mundo, era estimado de todos que o conheciam, pela simplicidade fidalga de seus tratos; respeitado, pela inquebrantabilidade de suas ideias políticas; digno de veneração pública, pela honestidade com que desempenhava os cargos que lhe eram confiados; e querido do povo, pelo desinteresse com que exercia a nobre profissão de médico, que transformava em balsamo consolador para suavizar as dores do pobre.

Quando a onda revolucionária rugiu, impetuosamente, na planície amazônica, contra os poderes legalmente constituídos, Rodrigues dos Santos foi deposto da Intendência de Santarém, cujos altos destinos dirigia e, preso, ameaçado de morte, tratado cruelmente como prisioneiro de guerra, não mentiu à República!
Ao assumir o dr. Dionísio Bentes o governo do Estado, querendo se cercar de pessoas respeitáveis, para cumprir, à risca, o patriótico programa político administrativo que traçara, com a alta competência e respeitável honradez que todos reconhecem no preclaro Governador do Pará, foi Rodrigues dos Santos nomeado Intendente de Belém. Não cabe, nos estreitos limites desta crônica de saudades, dizer o que foi o ilustre paraense, no exercício de tão alto cargo que lhe fora confiado; limito-me a repetir o que todos dizem: Deixou rico o município que encontrou mendigo! E fê-lo sem espalhafato, sem acusações acintosas e irritantes contra seus antecessores, querendo que na balança da justiça da história, fosse tão somente pesada a sua responsabilidade de governador da Metrópole da Amazônia.
Via-se, nas suas faces, impresso e cunho do caráter do homem trabalhador, a quem o cansaço, a fadiga, tirava-lhe a expansão das alegrias d’alma, sem diminuir-lhe a exatidão completa do cumprimento dos deveres que lhe impunham a posição eminente em que se achava. Somente uma ideia lhe preocupava o espírito: Ser útil ao grande Estado que lhe viu nascer! E conseguiu, afinal, o que desejava – entregando, ao seu digno sucessor, Belém palpitando de vida e de prosperidade, deixando ao glorioso Partido Republicano Federal, em cujas fileiras militava, uma larga série de assinalados serviços; ao Pará, um ensinamento público – do quanto pode um homem de boa vontade fazer em prol da felicidade dos seus concidadãos: e ao Brasil inteiro, a declaração solene feita aos poderosos Estados do Sul de que na Amazônia não há somente majestade e opulência na natureza, possui filhos capazes de exercer os mais elevados da República!
Dorme, amigo, o sono dos justos! O Cristo que te assistiu nos últimos instantes da tua vida, e a quem recebestes com Viático, te levará, glorioso, a Jerusalém Celeste, onde a virtude brilha; e resplandecem, como astros luminosos, aqueles que se sacrificaram pelo amor da Pátria e morreram à sombra divinal da Cruz!

NOTA: Publicado no jornal A Cidade de 11 de dezembro de 1926.

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