Em relação à
administração municipal de Óbidos pelos revoltosos, recebeu o dr. Corrêa Pinto,
intendente que havia deixado o lugar, uma carta amistosa do tenente Aluízio
Pinheiro, convidando-o a reassumir as funções de seu cargo, bem como todo o
funcionalismo, e oferecendo-lhe as garantias necessárias. Não o atendeu, nem
podia atende-lo o dr. Corrêa Pinto. Este oficiou ao vice-presidente do
Conselho, coronel Pedro Souza, dizendo que à vista da falta de garantias
constitucionais abandonava o seu cargo.
Não podendo
assumi-lo, o coronel Souza foi solicitar ao vogal mais votado, sr. Manoel
Costa, que o aceitasse, no sentido de amparar os dinheiros do município. E
assim foi. Mas em virtude de descabidas exigências dos militares rebeldes, não
pode mais continuar o sr. Costa a desempenhar estas funções, assumindo-as o
tenente revoltoso Ademar Soares da Rocha.
Convém frisar
que, uma vez triunfante a legalidade em Óbidos e em resposta à autoridade legal
da intendência (foto), foi que procedeu-se ao balanço e abertura do cofre, em
presença de diversos funcionários federais e do juiz substituto da Comarca,
sendo encontrado, num lacrado, intacta, a arrecadação do município, num total
de 19 contos e tanto, inclusive um cheque contra a agência do Banco do Brasil
em Manaus, na importância de 3:000$000 (três contos de réis), assinado pelo dr.
Adelmar Rocha.
Dada a situação
de revoltoso em que se encontrava aquele distinto oficial do exército, forçado
a abandonar a cidade que governou durante a revolução, por circunstâncias
imperiosas e imprevistas, – só mesmo uma organização modelarmente honesta era
capaz de um gesto igual ao que teve o dr. Adelmar Rocha. Lacradas, dentro do
cofre municipal, estavam todas as rendas arrecadadas durante o curto mandato
daquele oficial! E não foi só isso, mais ainda a diferença para menos de três
contos de réis verificada nas quantias arrecadadas, lá estava também resposta,
num cheque contra a agência do Banco do Brasil de Óbidos!!!
Ora, numa
situação normal, nada havia de admirar desse gesto, mas diante da precipitação
da retirada e das circunstâncias gravíssimas que cercavam o governador
revoltoso de Óbidos, muito enobrece e honra o dr. Adelmar Rocha, de que aliás
só podíamos esperar isso mesmo.
O dr. Adelmar
Rocha, nessa ocasião, perseguido pelas forças legais, com outros companheiros
revoltosos, abandonou Óbidos em procura das fronteiras. Sabe-se, hoje, estar
ele na Bolívia.
NOTA: Publicada
no jornal O Estado de 07 de fevereiro de 1925.
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