terça-feira, 8 de agosto de 2017

Sobre a situação política em Óbidos na Revolta de 1924



Em relação à administração municipal de Óbidos pelos revoltosos, recebeu o dr. Corrêa Pinto, intendente que havia deixado o lugar, uma carta amistosa do tenente Aluízio Pinheiro, convidando-o a reassumir as funções de seu cargo, bem como todo o funcionalismo, e oferecendo-lhe as garantias necessárias. Não o atendeu, nem podia atende-lo o dr. Corrêa Pinto. Este oficiou ao vice-presidente do Conselho, coronel Pedro Souza, dizendo que à vista da falta de garantias constitucionais abandonava o seu cargo.

Não podendo assumi-lo, o coronel Souza foi solicitar ao vogal mais votado, sr. Manoel Costa, que o aceitasse, no sentido de amparar os dinheiros do município. E assim foi. Mas em virtude de descabidas exigências dos militares rebeldes, não pode mais continuar o sr. Costa a desempenhar estas funções, assumindo-as o tenente revoltoso Ademar Soares da Rocha.
Convém frisar que, uma vez triunfante a legalidade em Óbidos e em resposta à autoridade legal da intendência (foto), foi que procedeu-se ao balanço e abertura do cofre, em presença de diversos funcionários federais e do juiz substituto da Comarca, sendo encontrado, num lacrado, intacta, a arrecadação do município, num total de 19 contos e tanto, inclusive um cheque contra a agência do Banco do Brasil em Manaus, na importância de 3:000$000 (três contos de réis), assinado pelo dr. Adelmar Rocha.
Dada a situação de revoltoso em que se encontrava aquele distinto oficial do exército, forçado a abandonar a cidade que governou durante a revolução, por circunstâncias imperiosas e imprevistas, – só mesmo uma organização modelarmente honesta era capaz de um gesto igual ao que teve o dr. Adelmar Rocha. Lacradas, dentro do cofre municipal, estavam todas as rendas arrecadadas durante o curto mandato daquele oficial! E não foi só isso, mais ainda a diferença para menos de três contos de réis verificada nas quantias arrecadadas, lá estava também resposta, num cheque contra a agência do Banco do Brasil de Óbidos!!!
Ora, numa situação normal, nada havia de admirar desse gesto, mas diante da precipitação da retirada e das circunstâncias gravíssimas que cercavam o governador revoltoso de Óbidos, muito enobrece e honra o dr. Adelmar Rocha, de que aliás só podíamos esperar isso mesmo.
O dr. Adelmar Rocha, nessa ocasião, perseguido pelas forças legais, com outros companheiros revoltosos, abandonou Óbidos em procura das fronteiras. Sabe-se, hoje, estar ele na Bolívia.


NOTA: Publicada no jornal O Estado de 07 de fevereiro de 1925.

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