sábado, 5 de agosto de 2017

Momento Poético: Dentro da Noite

Por Augusto Lopes

A ti...
Tinha caído a noite. Os cálices das flores
Abriram-se na sombra.
Céu... poucas estrelas;
E a brisa morna e langue;
Enchia de rumores
Os cândidos vergéis, as cascatas mais belas. 

Andavam pelo ar flutuações de arminho;
Chegava-me de longe
O aroma de um jardim...
Num triste soluçar,
As águas em remoinho
Branquejavam além, quais lençóis de cetim.

Girava pela terra um rasto de alegria,
Bailavam com ardor
Os insetos da noite.
Dormiam no silêncio
Os pássaros do dia
Ao cercear da brisa, embalados de açoite.

Passavam a gemer virações do Sul...
Então surgiu a Lua,
– Um branco menufar –
Na orla celestial
De um horizonte azul
Entornou um silêncio a luz do seu luar.

Era um luar assim de mística expressão;
Opala diluída
Em torno de verbena...
E o poeta enamorado
Ao seu meigo clarão
Ia lendo no Azul o mais belo poema!


NOTA: Escrita em Santarém, 1933.

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