terça-feira, 1 de agosto de 2017

Uma notícia sobre a famosa revolta do “Quebra Panelas” em Fordlândia – 1930




Boa Vista, sede da Companhia Ford Industrial do Brasil, foi teatro, no dia 22 de dezembro corrente (1930) de graves ocorrências, que não assumiram maiores proporções em virtude de imediatas e prontas providencias do sr. Capitão Interventor Federal no Estado.
Segundo os informes colhidos por nossa reportagem, o levante do pessoal subalterno da Companhia teve origem no refeitório e deu-lhe causa a maneira por que estava sendo servida a refeição.

Do refeitório, onde os amotinados quebraram louças, bancos e outros objetos, rumaram eles para outras dependências da Companhia, aí causando sérias e selváticas depredações sob ameaça de agressão aos funcionários superiores, dos quais muitos, aterrorizados, vieram buscar refúgio nesta cidade (Santarém) acompanhados de suas famílias.
Comunicado o fato, pelo rádio da Companhia, ao sr. Capitão Joaquim Barata, Interventor Federal no Estado, tomou s. exa. imediatas providências, fazendo seguir para Boa Vista, em hidroplano, que por aqui passou na tarde de 23 de dezembro, o sr. Tenente Ismaelino Castro, seu assistente militar, em cuja companhia viajou o sr. Kanedy, chefe da empresa. No dia seguinte, uma força de 35 praças do 4º Grupo de Óbidos, competentemente armada e municiada, seguiu também para a Fordlândia, a bordo do vapor “Santo Elias”, sob o comando do tenente Proença.
Até a hora de encerrarmos o nosso expediente, outras notícias não obtivemos sobre os sucessos de Boa Vista, ignorando, por isso, quais as medidas postas em prática pelos emissários do Interventor. Sabemos, entretanto, de fonte insuspeita, que os ânimos ali já estavam calmos antes da chegada das providências enviadas pelo governo, mercê da intervenção do médico da Companhia, dr. Siqueira Mendes, que tudo fez para apaziguar os amotinados, evitando, assim, que novas depredações fossem feitas e se agravassem os acontecimentos.
Condenando a atitude assumida pelos amotinados de Boa Vista, que podiam, dado houvesse justo motivo, se rebelar sem usar do meio extremo de depredar, aguardamos confiantes, uma vez apurada a responsabilidade do ocorrido, sejam punidos os culpados para exemplo dos demais.


NOTA: Publicado no jornal A Justiça de 27 de dezembro de 1930.

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