sábado, 4 de março de 2017

Descrição de uma viagem pelo Vapor “Óbidos” no Baixo Amazonas – 1871

Ainda não tínhamos navegado no vapor “Óbidos” da Companhia do Amazonas, e, do seu comandante, apenas conhecíamos o nome, quando na noite de 11 do corrente mês embarcamos para fazer a viagem desta capital a cidade de Óbidos e regressar no mesmo vapor.
(...)

Despontava o terceiro dia de nossa viagem (14 de março). O reino mineral escondido por espessa vegetação, faz um esforço, e, nas margens do Amazonas entre as quais passávamos, levanta-se e chega-se e chega em alguns pontos a dominar o reino vegetal. Não são mais tesouros encobertos pela vegetação; são riquezas que chamam pelo explorador. A vegetação não fica, porém, vencida; sobre a montanha está a árvore frondosa e o arbusto.
Nessas margens acidentadas, tão ricas quanto belas, descansa a vista cansada de plano.
Depois da Prainha entramos pelo Gurupatuba até Monte Alegre. As cabeceiras ou nascentes deste rio não são conhecidas e talvez a sua exploração desse em resultado a descoberta de grandes riquezas, a julgar pelo terreno de Monte Alegre.
Na manhã do quarto dia de viagem continuávamos Amazonas acima.
Já descortinávamos alguma coisa da cidade de Santarém: íamos entrar no Rio Preto, ou Tapajós.
Um belo quadro representa a entrada do Tapajós em cuja a foz está situada a importante cidade de Santarém.
Uma luta de gigantes não cessam de sustentar o poderoso Amazonas e o riquíssimo Tapajós, este com suas águas pretas, aquele com sua cor barrenta.
Um traço distinto separa as águas pardacentas das águas pretas. O rio mar encontra resistência violenta nas águas do Tapajós, lutam constantemente sem permitirem que haja a menor mistura entre as águas.
Vê-se claramente as conquistas do Amazonas e do Tapajós: são porções de águas pretas cercadas por águas barrentas e vice-versa; são prisioneiros de guerra.
Do lado de Santarém o Tapajós entra pelo Amazonas; do lado oposto é este que entra por aquele.
As divisórias entre águas são perfeitas, repetimos. Momentos depois navega-se em águas pretas.
De Santarém passamos à Vila de Alenquer, e depois principiamos a navegar pelo Paraná-Miry.
Imagine o leitor um rio pouco largo em cujas margens o mato acha-se substituído por cacauais mui limpos, roças de mandioca de um verde-escuro; milhares, extensos bananais, canaviais, plantações de tabaco e árvores frutíferas e fará uma ideia do Paraná-Miry e de seus habitantes.
As habitações se sucedem a pequenas distâncias, não distando uma das outras mais de cinquenta braças.
Como rio povoado só lhe conhecemos um rival, é o Tocantins de Baião para cima; em cultura, porém, não tem igual.
Pertencem os habitantes do Paraná-Miry, parte à Alenquer, parte à Óbidos.
Aos Obidenses e Alenquerenses damos sinceros parabéns pela sua dedicação ao trabalho de agricultura e os louvamos muito por essa apreciável qualidade que lhes granjeará necessariamente prosperidades.
Além dos belos pomares que margeiam o Paraná-Miry e sobre os quais a vista se espraia com prazer, vê-se também abertas de campo raso onde se acham indústrias pastoris em que muito se ocupam os habitantes de Óbidos e Alenquer.
Demos fundo no porto da interessante cidade de Óbidos pelas 5 horas da tarde do quinto dia de viagem.


NOTA: Publicado no Diário de Belém, do dia 29 de março de 1871.

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