Ainda não
tínhamos navegado no vapor “Óbidos” da Companhia do Amazonas, e, do seu
comandante, apenas conhecíamos o nome, quando na noite de 11 do corrente mês
embarcamos para fazer a viagem desta capital a cidade de Óbidos e regressar no
mesmo vapor.
(...)
Despontava o
terceiro dia de nossa viagem (14 de março). O reino mineral escondido por
espessa vegetação, faz um esforço, e, nas margens do Amazonas entre as quais
passávamos, levanta-se e chega-se e chega em alguns pontos a dominar o reino
vegetal. Não são mais tesouros encobertos pela vegetação; são riquezas que
chamam pelo explorador. A vegetação não fica, porém, vencida; sobre a montanha
está a árvore frondosa e o arbusto.
Nessas margens
acidentadas, tão ricas quanto belas, descansa a vista cansada de plano.
Depois da
Prainha entramos pelo Gurupatuba até Monte Alegre. As cabeceiras ou nascentes
deste rio não são conhecidas e talvez a sua exploração desse em resultado a
descoberta de grandes riquezas, a julgar pelo terreno de Monte Alegre.
Na manhã do
quarto dia de viagem continuávamos Amazonas acima.
Já
descortinávamos alguma coisa da cidade de Santarém: íamos entrar no Rio Preto,
ou Tapajós.
Um belo quadro
representa a entrada do Tapajós em cuja a foz está situada a importante cidade
de Santarém.
Uma luta de
gigantes não cessam de sustentar o poderoso Amazonas e o riquíssimo Tapajós,
este com suas águas pretas, aquele com sua cor barrenta.
Um traço
distinto separa as águas pardacentas das águas pretas. O rio mar encontra
resistência violenta nas águas do Tapajós, lutam constantemente sem permitirem
que haja a menor mistura entre as águas.
Vê-se
claramente as conquistas do Amazonas e do Tapajós: são porções de águas pretas
cercadas por águas barrentas e vice-versa; são prisioneiros de guerra.
Do lado de
Santarém o Tapajós entra pelo Amazonas; do lado oposto é este que entra por
aquele.
As divisórias
entre águas são perfeitas, repetimos. Momentos depois navega-se em águas
pretas.
De Santarém
passamos à Vila de Alenquer, e depois principiamos a navegar pelo Paraná-Miry.
Imagine o
leitor um rio pouco largo em cujas margens o mato acha-se substituído por
cacauais mui limpos, roças de mandioca de um verde-escuro; milhares, extensos
bananais, canaviais, plantações de tabaco e árvores frutíferas e fará uma ideia
do Paraná-Miry e de seus habitantes.
As habitações se
sucedem a pequenas distâncias, não distando uma das outras mais de cinquenta
braças.
Como rio
povoado só lhe conhecemos um rival, é o Tocantins de Baião para cima; em
cultura, porém, não tem igual.
Pertencem os
habitantes do Paraná-Miry, parte à Alenquer, parte à Óbidos.
Aos Obidenses
e Alenquerenses damos sinceros parabéns pela sua dedicação ao trabalho de
agricultura e os louvamos muito por essa apreciável qualidade que lhes
granjeará necessariamente prosperidades.
Além dos belos
pomares que margeiam o Paraná-Miry e sobre os quais a vista se espraia com
prazer, vê-se também abertas de campo raso onde se acham indústrias pastoris em
que muito se ocupam os habitantes de Óbidos e Alenquer.
Demos fundo no
porto da interessante cidade de Óbidos pelas 5 horas da tarde do quinto dia de
viagem.
NOTA:
Publicado no Diário de Belém, do dia 29 de março de 1871.
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