Por Pe. Sidney Augusto
Canto
Nos
anais da medicina em nossa região, há uma história esquecida, talvez por conta
do seu desfecho, mas que merece ser mantida viva para a posteridade. É a
história do Lazareto de Paracary, que começou em 1856, quando o lavrador
Antônio Francisco Pereira da Costa, começou a administrar um tratamento com
remédios caseiros a um negro que estava sofrendo de morfeia.
Como
o referido doente apresentasse considerável melhora, logo espalhou-se em Santarém
que o mesmo Antônio Francisco havia encontrado a cura para a morfeia. Logo
acorreram-lhe doentes de Santarém e da região. Não demorou muito tempo e
pessoas de toda a Província do Pará e de outras até, começaram a acorrer ao
“curandeiro” com esperança de curar uma moléstia, até então sem cura.
Sem
recursos para manter tantas pessoas, Antônio construiu em sua propriedade o
Lazareto composto de dois casebres. Lá ficavam doentes de lepra, elefantíase e
outras enfermidades dermatológicas da época. Jornais locais louvavam a
descoberta da suposta “cura” e reclamavam do Governo da Província uma “ajuda
para tão grandiosa obra”. O governo então destinou uma renda mensal de 100$000
réis (verba imperial) para o Lazareto e pagava a diária de 800 réis (verba
provincial) para diária de manutenção dos doente pobres.
As
coisas pareciam caminhar para colocar Paracary (que na época pertencia ao
município de Santarém) como o lugar da descoberta da cura da morfeia, mas não
foi o que aconteceu. Após dois anos, algumas pessoas apresentavam somente
melhoras e outras, apesar de se dizerem curadas, ainda apresentavam sintomas da
doença. Outros haviam morrido durante o tratamento.
Em
1858 o médico da Colônia Militar de Óbidos, o Dr. José Veríssimo de Mattos,
visitou, a pedido do Governo, o Lazareto de Paracay. Verificou o estado de
alguns doentes e, apesar de constatar a melhora de algumas pessoas doentes,
colocou-se prudente com relação à cura da morfeia pelo tratamento curativo ali
administrado.
No
ano seguinte, alguns morféticos (seis pessoas) chegaram à capital da Província reclamando
não somente da ausência da cura esperada como também do tratamento que recebiam
no Lazareto do senhor Antônio Francisco. O fato ganhou a imprensa e o
Presidente da Província, Tenente Coronel Manoel de Frias e Vasconcelos, nomeou
uma comissão a fim de verificar o que de fato, passava-se em Paracary.
A
comissão, formada por médicos, ficou assim composta: Dr. Francisco da Silva
Castro (inspetor da saúde pública), Dr. Camilo José do Valle Guimarães
(provedor da saúde do porto da capital) e Dr. Américo Marques de Santa Rosa (do
hospital militar). Esta comissão apresentou seu relatório em 17 de julho de
1859, constatando que a principal planta usada por Antônio Francisco Pereira da
Costa era denominada Paracary acrescida de outras ervas locais. E que, apesar
de toda boa vontade do “curandeiro”, que parecia não agir de má fé, concluindo-se
que a doença não tinha cura. Por outro lado, não havia e as condições do
Lazareto eram as mais precárias possíveis. Diante disso, o governo retirou a
contribuição monetária.
Sem
ajuda monetária e colocada a dúvida científica no tratamento efetuado, o
Lazareto cumpriu seu destino de desaparecer... Não pode, entretanto,
desaparecer de nossa memória, a experiência nascida da medicina popular na
região do Baixo Amazonas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário