O documento abaixo é o Ofício do
Governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado, datado de 04 de julho de 1758,
relatando a viagem que fez de Belém(Pará) até a vila de Barcelos (Amazonas), ocasião
em que elevou e instalou diversas vilas ao longo do Baixo Amazonas e Tapajós. O
historiador Arthur Cezar Ferreira Reis diz existir versões diferentes deste
ofício. O que hora é aqui publicado é a versão que se encontra no arquivo do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB, que foi apontada pelo já
citado historiador como a melhor fonte por ele pesquisada. Eis o texto:
“Ilmo. Exmo. Sr.
A Vossa Excelência participei em carta de 18 de
novembro do ano passado os indispensáveis motivos que concorriam para eu sair
do Pará e vir a este Rio e convencendo-me interiormente que não podia deixar de
fazer esta viagem dei princípio a ela no dia 16 de janeiro do presente ano e
fazendo adiantar algumas canoas de transportes fui buscar a Vila de São José de
Macapá para dar os últimos estabelecimentos àquela importante Povoação.
Fiz caminho para ela, pelas três Aldeias de Araticú,
Guaricurú e Arucará, todas da administração da Companhia para as reduzir a
Vilas na forma das ordens de Sua Majestade.
No dia 20 cheguei à primeira que logo erigi em Vila
com o nome de Oeiras, levantando Pelourinho e fazendo eleição das Justiças na
forma que o havia feito na Vila de Borba-a-Nova, que Sua Majestade foi devido
aprovar.
No dia 23 cheguei à segunda e da mesma sorte foi erecta
em Vila, impondo-lhe o nome de Melgaço.
A 24 erigi a terceira em Vila com o nome de Portel,
de cuja povoação saí logo.
Continuando pois a minha viagem cheguei no primeiro
de Fevereiro à nova Vila de São José de Macapá, na qual me dilatei até o dia 14,
gastando este tempo em fazer Justiças, Oficiais da Ordenança, e dar diversas
providências que me pareceram úteis para o sólido estabelecimento daquela nova
Vila das quais remeterei a Vossa Excelência pela frota a cópia, participando
juntamente a V.Exª. o que sinceramente compreendo daquele novo estabelecimento
e só agora direi em epithsme (sic) que saí dele inteiramente satisfeito.
No mesmo dia 14 fui visitar o novo lugar de Santana
que fundei haverá quatro para cinco anos, com a gente que desceu com Francisco
Portilho, e fica a três léguas ao Poente da dita Vila do qual saí no dia 15
pela manhã, navegando pela Costa Septentrional das Amazonas entrei pelos rios
Tuaré e Guarimocú, nas margens dos quais havia duas Aldeias da administração
dos Padres da Conceição a que davam nomes os mesmos Rios, erigindo no dia 20 a
de Guarimocú em Vila com o nome de Arrayolos, e a de Tuaré a 21 com o nome de
Esposende, e feitas as Justiças, e as mesmas cerimônias que se costumam em
semelhantes ocasiões: saí no dia 22 da dita Vila.
No mesmo cheguei à Fortaleza do Parú, a qual tinha,
contígua a si uma Aldeia com o nome da mesma Fortaleza da administração dos
Padres de Santo Antônio, cuja erigi em Vila com o nome de Almeyrim, e como não
tinha demasiada gente e se achava junto a ela outra Aldeota chamada do Acarapy
e hoje Valle-de-Fontes com os objetos de fazer aquela Vila mais populosa e
poupar a Fazenda Real, o gasto de pagar assim Pároco de uma Povoação que apenas
teria 150 pessoas regulando-me a este fim com as Reais Leys de Sua Majestade,
que ordenam que estas Povoações não tenham menos de 150 vizinhos, ajuntei à
sobredita Vila o referido Lugar com beneplácito e inteira satisfação de todos
os moradores dele.
Desta povoação saí no dia 24 com a resolução de
erigir em Vila a Aldeia de Urubucuara, que hoje é Lugar de Outeiro, e deixei de
fazer aquela erecção (sic), por não lhe achar bastantes moradores para ser
Vila.
Da dita Povoação saí no mesmo dia e no dia 27
cheguei à antiga Aldeia de Gurupatuba que administravam os Religiosos da
Piedade e a 28 a erigi em Vila com o nome de Monte Alegre e depois de dadas as
providências precisas, saí da dita Vila no 1º de Março e a 4 cheguei a Aldeia
dos Tapajós da qual saí a 6 navegando pela Costa Oriental do mesmo Rio e
cheguei à Aldeia de Borary no dito dia a qual erigi em Vila com o nome de Alter
do Chão.
A 8 saí da dita Vila e atravessando à parte
Ocidental do dito Rio para buscar a Aldeia chamada de Santo Ignácio cheguei a
ela e a 9 a erigi em Vila com o nome de Vila de Boim.
No mesmo dia de tarde saí desta povoação e cheguei à
Aldeia de São José, à qual tendo eu determinado que ficasse Lugar com o nome de
Soucelo (sic) me requereram os seus moradores que a fizesse Vila porque tinha
número bastante de gente para o ser e com facilidade condescendi com eles, e
lhe erigi em Vila com o nome de Pinhel.
Saindo, pois da dita Vila no dia 10 vim pelo Rio
abaixo, buscar outra vez a Aldeia dos Tapojás (sic) a qual cheguei a 12 e a 14
erigi esta Povoação em Vila com o nome de Santarém e feitas as Justiças e
outras diligências que me pareceram convenientes a bem daquele estabelecimento,
saí da dita Vila a 16 do dito mês.
No dito dia atravessei uns grandíssimos lagos que
estão ao Poente da dita Povoação para ir buscar a Aldeia do Cumarú, à qual
cheguei no dia 17 e logo a erigi em Vila Franca e todas as povoações deste Rio
eram da administração dos Padres da Companhia.
No dia 18 saí da sobredita Vila e vim buscar a Costa
Septentrional das Amazonas e a 20 cheguei à Aldeia de Surubiú que era da
administração dos Padres Piedosos com a resolução de a fazer Vila, e por não
poder averiguar o número de gente, cuja diligência deferi para quando tivesse
mais completa informação.
A 21 saí da sobredita Povoação e a 22 cheguei à
Fortaleza dos Pauxis, na qual me dilatei nos dias da Semana Santa. Erigi no
Sábado de Aleluia em Vila uma pequena Aldeia que estava junto àquela chamada
Fortaleza, unindo-lhe para a poder fazer mais populosa duas Aldeotas da
administração dos Padres da Piedade, a primeira a menos de meia hora de caminho
da dita Fortaleza e a outra a quase um dia de viagem e todas três juntas apenas
davam gente para constituir a Nova Vila de Óbidos que ali erigi.
No dia 26 saí da sobredita Fortaleza e navegando
pela mesma Costa Septentrional das Amazonas atravessei a pouca distância para a
Austral e entrando pelo Rio Tupinambaranas para passar ao da Madeira examinei
as barras que nele fazem os grandes Rios Magués (sic), Abacaxis e Canumá, e saí
ultimamente ao Rio Madeira e a 14 de Abril cheguei à Vila de Borba-a-Nova.
Depois de me dilatar nela dois dias vim buscar a
Aldeia dos Abacaxis que era da administração dos Padres da Companhia, com a
resolução de a erigir em Vila com o nome de Serpa, porém os seus moradores me
requereram instantemente que se queriam tirar daquele sítio, porque nele não
logravam uma hora de saúde, e que se conservavam ali violentados pelos Padres
que os administravam.
Conhecendo eu que o terreno era indigno porque sobre
ser um sapal (sic) nem terras tinham junto a si em que se fazerem roças lhe
deferi com boa vontade e perguntando-lhe para onde queriam ir fundar a nova
Vila me apontaram logo alguns sítios a grandíssimas distâncias no centro dos
matos, o que me pareceu seria prejudicial se eles se fossem estabelecer àquelas
distâncias e por isso lhe não deferi, mas pelo contrário lhe nomeei uns poucos
de sítios para eles escolherem o que lhe parecesse melhor a bem da sua saúde e da
sua conveniência.
Em observância desta ordem foram ver os sobreditos
sítios e escolheram entre eles um chamado Itaquatiara sobre as Amazonas a dois
dias de distância da sua habitação antiga, e na verdade escolheram bem porque
as terras são as melhores que por aqui há pois produzem todo o gênero de frutas
e o Rio naquele sítio abundantíssimo e sobretudo está na Estrada Real destes
Sertões e com esta Vila acharão os passageiros socorros e os Índios, não só
tirarão grande lucro dos seus trabalhos na venda dos mantimentos, mas
civilizar-se-ão muito mais com o contínuo trato que hão de ter com os
passageiros não sendo este lucro de menos importância para o comum do Estado.
Na Povoação que deixam nada se perde porque nela não
há Igreja de nenhuma casta porque os Religiosos da Companhia que ali residiam,
diziam Missa em um Alpendre das palhoças em que assistiam.
Também não há edifícios públicos ou particulares que
possa embaraçar aquela mudança porque os primeiros nunca houve e os segundos é
necessário fazê-los, porque aquela pobre gente está vivendo quase exposta ao
tempo e devendo sem dúvida alguma fundar-se aquela Vila de novo me pareceu mais
conforme às Reais intenções de Sua Majestade e ao bem comum assim dos Índios
como dos moradores que vem negociar aos Sertões que a sobredita Vila se
estabelece em um sítio tal, como o que tenho referido a V. Exª e não no lago em
que se conservam aqueles índios no qual tem morrido, e não morrendo uma
infinidade deles por causa do clima e sobretudo sem terras para cultivarem os
frutos de que podem viver.
Da sobredita povoação saí a 19 do dito mês de Abril,
e vindo com toda a diligência buscar este Rio entrei nele no dia 23 e a 4 de
maio cheguei a esta Povoação com toda a gente que me acompanhava, com bom
sucesso.
Logo no dia Erigi esta Aldeia que até agora se
chamava Mariuá em Vila com o nome de Barcellos e até agora me parece que os
seus moradores não estão descontentes do novo estabelecimento.
Se não tivera tão pouco tempo informara a V. Exª com
mais largueza, porém a pressa com que expeço daqui uma pequena canoa a ver se
acha o Navio no Pará, me não dá lugar a largas escritas.
Deus guarde a V. Exª. muitos anos. Nova Vila de
Barcellos 4 de julho de 1758.
(ao) Sr. Thomé Joaquim da Costa Corte Real.
(Assinado) Francisco Xavier de Mendonça Furtado”.
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