domingo, 13 de junho de 2021

Sobre o encanamento de água em Santarém

Encanamento d'agua em Santarem. – O engenheiro 1º tenente Joaquim Rodrigues de Moraes Jardim, incumbido pela presidencia de estudar os meios e formar um plano de encanamento para abastecer Santarem d'agua potavel, apresentou o resultado dos seos trabalhos. Não tendo eu podido ainda tomar conhecimento da necessidade d'esta obra, dou por emquanto somente o extracto do relatorio do engenheiro.

O encanamento das aguas do Irurá é o que pareceo mais conveniente. Essas aguas estão nas melhores condições de potabilidade, faltando unicamente serem arejadas, o que se obterá com a disposição do encanamento que projectou. Todas as outras fontes, á excepção da Diamantina, são resultados de filtrações de terrenos pantanosos, impróprios por conseguinte não só por suas qualidades como inconstancia de dos seos productos para serem encanadas. A nascente da Diamantina, além de estar meia legoa afastada da cidade que a do Irurá, acha-se quase ao nível da cidade, não podendo ser as suas aguas encanadas sem o auxilio de um apparelho impulsor.

A fonte do Irurá fornece de 11 a 12 litros por um segundo, quantidade bastante para abastecer uma população decupla da que possue actualmente Santarem.

Por causa da configuração do terreno não é possivel economicamente a construcção de um encanamento livre, e por isso o engenheiro confeccionou o projecto de um encanamento forçado de tubos de ferro.

Contêm o encanamento quatro caixas; a 1ª na nascente (caixa de reunião), onde devem se reunir os productos de tres nascentes que se tem de encanar; duas outras das mesmas dimensões que a primeira e collocadas em dous pontos do encanamento, tem por fim estabelecer uma communicação d'agua com a atmosphera para arejal-a; a 4ª de maiores dimensões e ficando proxima á cidade servirá para regularisar a distribuição, e ao mesmo tempo de um pequeno deposito que poderá supprir o abastecimento por algumas horas, quando por ventura haja algum desarranjo no encanamento. D'esta ultima caixa parte o encanamento de distribuição, que, ramificando-se, leva a agua a diversos pontos da cidade.

O engenheiro julga por emquanto serem sufficientes dous chafarizes e quatro torneiras collocadas nos pontos indicados na planta.

Para a passagem do encanamento pelos igarapés e baixas projectou simples aqueductos de alvenaria que importarião em muito maior quantia.

O engenheiro menciona que depois de ter ido á fonte do Irurá por duas vezes, quando lá se dirigio para determinar a despesa, achou que o producto da primeira nascente tinha diminuido mui sensivelmente, concluindo ser a causa dessa diminuição um pequeno abatimento de terreno, causado certamente pelas copiosas chuvas dos dias anteriores. Este incidente lhe pareceo ser todo momentaneo e por isso continuou o estudo do seo projecto; entretanto julga prudente proceder-se á uma nova avaliação da despesa na maior força de verão antes de se resolver definitivamente a execução do projecto.

Outro projecto de abastecimento, de que se occupou, é o encanamento directo ou indirecto das agoas do Tapajós, por meio de uma bomba de duplo efeito, mas em vista da differença da qualidade das aguas do rio e de dous poços que existem na cidade, nenhum projecto com segurança de bom exito póde ser confeccionado para o encanamento indirecto das aguas do rio sem primeiramente proceder-se a sondagem no terreno, o que não fez por falta de instrumento proprio. O encanamento directo das aguas do rio, se é praticável em uma epocha do anno, não o pode ser por occasião da cheia por causa do limo verde de que fica a agoa completamente carregada.

O orçamento do encanamento do Irurá sobe a 117:065$223.

 

NOTA: Texto extraído do Relatório do Presidente da Província do Pará, Dr. Couto de Magalhães, de 1864.

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