Encanamento d'agua em Santarem. – O engenheiro 1º tenente Joaquim Rodrigues de Moraes Jardim, incumbido pela presidencia de estudar os meios e formar um plano de encanamento para abastecer Santarem d'agua potavel, apresentou o resultado dos seos trabalhos. Não tendo eu podido ainda tomar conhecimento da necessidade d'esta obra, dou por emquanto somente o extracto do relatorio do engenheiro.
O
encanamento das aguas do Irurá é o que pareceo mais conveniente. Essas aguas
estão nas melhores condições de potabilidade, faltando unicamente serem
arejadas, o que se obterá com a disposição do encanamento que projectou. Todas
as outras fontes, á excepção da Diamantina, são resultados de filtrações de
terrenos pantanosos, impróprios por conseguinte não só por suas qualidades como
inconstancia de dos seos productos para serem encanadas. A nascente da
Diamantina, além de estar meia legoa afastada da cidade que a do Irurá, acha-se
quase ao nível da cidade, não podendo ser as suas aguas encanadas sem o auxilio
de um apparelho impulsor.
A
fonte do Irurá fornece de 11 a 12 litros por um segundo, quantidade bastante
para abastecer uma população decupla da que possue actualmente Santarem.
Por
causa da configuração do terreno não é possivel economicamente a construcção de
um encanamento livre, e por isso o engenheiro confeccionou o projecto de um
encanamento forçado de tubos de ferro.
Contêm
o encanamento quatro caixas; a 1ª na nascente (caixa de reunião), onde devem se
reunir os productos de tres nascentes que se tem de encanar; duas outras das
mesmas dimensões que a primeira e collocadas em dous pontos do encanamento, tem
por fim estabelecer uma communicação d'agua com a atmosphera para arejal-a; a 4ª
de maiores dimensões e ficando proxima á cidade servirá para regularisar a
distribuição, e ao mesmo tempo de um pequeno deposito que poderá supprir o
abastecimento por algumas horas, quando por ventura haja algum desarranjo no
encanamento. D'esta ultima caixa parte o encanamento de distribuição, que,
ramificando-se, leva a agua a diversos pontos da cidade.
O
engenheiro julga por emquanto serem sufficientes dous chafarizes e quatro
torneiras collocadas nos pontos indicados na planta.
Para
a passagem do encanamento pelos igarapés e baixas projectou simples aqueductos
de alvenaria que importarião em muito maior quantia.
O
engenheiro menciona que depois de ter ido á fonte do Irurá por duas vezes,
quando lá se dirigio para determinar a despesa, achou que o producto da
primeira nascente tinha diminuido mui sensivelmente, concluindo ser a causa
dessa diminuição um pequeno abatimento de terreno, causado certamente pelas
copiosas chuvas dos dias anteriores. Este incidente lhe pareceo ser todo
momentaneo e por isso continuou o estudo do seo projecto; entretanto julga
prudente proceder-se á uma nova avaliação da despesa na maior força de verão antes
de se resolver definitivamente a execução do projecto.
Outro
projecto de abastecimento, de que se occupou, é o encanamento directo ou
indirecto das agoas do Tapajós, por meio de uma bomba de duplo efeito, mas em
vista da differença da qualidade das aguas do rio e de dous poços que existem na
cidade, nenhum projecto com segurança de bom exito póde ser confeccionado para
o encanamento indirecto das aguas do rio sem primeiramente proceder-se a
sondagem no terreno, o que não fez por falta de instrumento proprio. O
encanamento directo das aguas do rio, se é praticável em uma epocha do anno,
não o pode ser por occasião da cheia por causa do limo verde de que fica a agoa
completamente carregada.
O
orçamento do encanamento do Irurá sobe a 117:065$223.
NOTA: Texto extraído do Relatório do Presidente da Província do
Pará, Dr. Couto de Magalhães, de 1864.
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