terça-feira, 17 de setembro de 2019

Sobre a Colônia e o Colégio São José



Por Pe. Sidney Augusto Canto

Fundada em 1910, a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição logo adotou o carisma educacional, um campo em que a cidade de Santarém estava muito necessitada, principalmente no atendimento às crianças pobres e órfãs.

Contudo, com o crescimento do número de religiosas e também das crianças atendidas pelo "Orfanato Santa Clara", o Bispo Dom Amando Bahlmann, OFM e Madre Maria Imaculada de Jesus, decidiram partir para uma nova empreitada, conforme nos revela um cronista da época:


Até o presente ano (1919) não existia para as irmãs e suas empresas nenhuma base financeira nem econômica. Viviam elas e as órfãs de esmolas, as vezes mui generosas, mas por sua natureza incertas, que as irmãs e o próprio Prelado pediam nas capitais do Brasil e no Estrangeiro. Resolveu pois o Padre Comissário, Frei Plácido Tölle, a quem o Prelado confiara desde 16 de julho de 1915 toda a direção das irmãs, de acordo com o Vigário Geral, Frei Inácio Buntgen, pedir ao Governo Estadual concessão de um pedaço de terra devoluta, ao sul de Santarém, medindo três quilômetros de frente e três de fundo. Tem esta colônia terra própria para a lavoura, mas tem dois inconvenientes, o de não ter água corrente nem açude, e o de distar de Santarém 23 quilômetros.

O Governo despachou favoravelmente, ofertando o terreno com três quilômetros quadrados (3X1 Km), mas com uma condição: as Irmãs serão as detentoras perpétuas do terreno, não podendo vendê-lo ou cedê-lo a terceiros. Caso as Irmãs desistam da posse o terreno voltará ao Estado do Pará.

Em setembro de 1919 vieram para o local onde hoje é o São José, duas irmãs e seis crianças ófãs, que, de início moravam numa casa de madeira, coberta de palha, cercada por 25 bananeiras. Mas não demorou muito para que fosse construído o prédio do convento, que serviria de residência para as Irmãs, já na década seguinte, com a ajuda financeira vinda dos Estados Unidos, foi construído um novo prédio, em alvenaria, onde funcionaria a Escola, o Orfanato e a residência das Irmãs.

A Escola São José começou a funcionar no dia 10 de Outubro de 1919, contando naquele ano com a matrílcula de 78 alunos, a maioria provenientes de colônias próximas como Cipoal, Boa Fé, Terra Preta, entre outras. Em 1920, passado o inverno, o irmão professo Frei Bonifácio Budde, OFM, marceneiro de profissão, veio para o São José com a missão de construir o poço, tarefa inglória pois a água só aflorou com 32 metros de profundidade. Com o problema da água resolvido e com a aquisição de cavalos que lhes serviam como meio de transporte, em 1922 as irmãs começam a atender as colonias de Poço Branco e "Mujuhy", dando início ao trabalho da catequese nessas comunidades.

A Primeira Missa na Colônia aconteceu no dia 10 de outubro de 1919, celebrada pelo Vigário Geral Frei Inácio Buntgen, OFM. Contudo a vida religiosa da colônia ganharia força com a chegada, em outubro de 1926 do Padre José Schmid, secular, vindo dos Estados Unidos para morar no São José. Foi ele, que em 1935, pagou do seu próprio bolso, a construção de uma nova capela para a Colônia, cuja planta foi feita por Frei Rogério Voges, OFM. Sobre este período de trabalho de padre José Schmid, assim se manifesta Dom Amando Balhmann, Bispo Prelado de Santarém:

O Instituto Agrícola de S. José, no centro da paróquia (20 kilometros distante de Santarém), tem um Convento para as Irmãs e umas 18 orfãs. A capela lá é bonitinha. E assim também a casa de residência do nosso Padre José Schmid, que é o pai espiritual do estabelecimento. Há 8 anos já serve a Deus e às Irmãs e ao povo na circunvizinhança. Nos ajudou generosamente em construir umas 8 capelas nos diversos povoados em redor de São José.
Muitos pobres foram socorridos e muitas almas salvas pelo zelo do Padre José. Que Deus o conserve por muitos anos para o bem do povo que tanto estima o padre americano.

Pe. José Schmid se retirou definitivamente, logo após o falecimento de Dom Amando, em 02 de novembro de 1939. Seu substituto, Frei Daniel Budde, OFM, reformou a capela de São Francisco de Assis e lhe construiu duas sacristias. Em 1944 a Colônia ganharia nova vida com a vinda do novo capelão: Frei Rogério Voges. Foi ele que construiu uma nova casa para as órfãs, separada da casa das irmãs. Um barracão onde funcionava uma usina de arroz, maquinário para fabricação de farinha, um pequeno engenho e uma "casa do motor de energia". Esse barracão ficava próximo à casa do capelão, construída ainda por Pe. José Schmid.

Em razão do eficiente trabalho das irmãs missionárias o número de alunas crescia cada vez mais, pois na década de 1940 chegou a atender cem alunas internas, além das órfãs. Em 20 de outubro de 1953 a Escola São José obteve Personalidade Jurídica. Era necessário um prédio maior para atender aos alunos do planalto santareno. Contudo o sonho de um prédio próprio apenas para a Escola só se tornaria realidade em 1961, com o início da construção do novo prédio com capacidade para atender cerca de 1.000 alunos divididos nos três turnos, que foi concluído em 1963, mas que precisou de uma reforma geral em 1966, donde pouca coisa se mudou no seu aspecto até os dias de hoje.

O Curso Normal/Regional, autorizado em 21 de fevereiro de 1962, começou a funcionar no dia 04 de março do mesmo ano. Muitas professoras foram formadas por este curso, algumas delas acabaram lecionando nas comunidades do planalto e também em Santarém e municípios vizinhos.

Em fevereiro de 1977 começou a funcionar o Curso Primário da alfabetização ao 5º Ano e no dia 15 de março deste mesmo ano foi iniciado o Ginásio Normal, com a matrícula de 185 alunos. No dia 04 de junho de 1992 começou a funcionar o 2º Grau Modular. Somente em 2002 o Ensino Médio Regular começou a existir no Colégio São José, contudo o curso só foi reconhecido em 14 de agosto de 2008.

O Colégio São Jose, situado na rodovia BR 163, km 19, muito tem contribuído para a formação do povo santareno que mora no planalto. Graças ao trabalho abnegado das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição que procuram manter não somente um padrão de ensino incontestável, mas também uma presença humilde e insistente na educação em Santarém.

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