sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Óbidos na era do “Telégrafo”

Antes da era da internet ou do celular, receber notícias dependia da ação dos Correios. Saber uma notícia da Capital do Estado, do País ou do Mundo demorava dias, meses ou até mesmo um ano. No entanto, no final do século XIX, um evento mudou significativamente essa situação: a chegada do Telégrafo.

Em 1890 começaram os trabalhos de implantação da linha telegráfica em Óbidos. A cidade foi escolhida como um dos pontos estratégicos de ligação entre Manaus e Belém (bem como todo o restante do país). A zona entre Manaus e a cidade de Prainha, onde supunha-se apresentar as vantagens e facilidades para a construção de uma linha aérea, foi dividida em quatro secções de exploração terrestre, que seria efetuada por outras tantas turmas, ocupadas: a primeira secção ficaria entre Manaus e Itacoatiara, a segunda entre Itacoatiara e Faro, a terceira de Faro a Óbidos e a quarta de Óbidos a Prainha.


No que tange a organização do trabalho, o projeto de implantação do telegrafo foi assim repartido: O inspetor Silvério Nery, encarregado da primeira turma, para reconhecer e fazer o traçado entre Manaus e Itacoatiara; o inspetor Júlio Blanc, ficou de seguir com uma segunda turma Óbidos, na direção de oeste, para encontrar-se com a primeira turma de exploração; e o inspetor Faneca, encarregado da terceira turma, partindo de Óbidos, seguiria pelos campos de Alenquer demandando a cidade de Prainha. Todo o trabalho seria feito simultaneamente até que as turmas se encontrassem com a linha telegráfica. De Prainha, a linha telegráfica encontraria a turma que vinha de Macapá, que seria ligada a Belém pela ilha do Marajó. Esse era o projeto.

A responsabilidade de execução do projeto esteve a cargo do Dr. Alexandre Haag, auxiliado, além dos inspetores já mencionados, também pelos inspetores Frederico Rhossard e Louis Barrére, que tinham a função específica de estudar e determinar os pontos de encontro das diversas turmas, bem como a de proceder também a outras observações, indispensáveis ao bom andamento do serviço, entre eles o de estabelecer os melhores pontos para se instalar os cabos sub-fluviais. Em Óbidos, os trabalhos iniciaram no dia 07 de novembro de 1890, conforme podemos ver na ata que segue:

“Ata da inauguração dos trabalhos da linha telegráfica na cidade de Óbidos, primeira estação da região Amazônica no Estado do Pará.
No dia 7 de Novembro do ano de 1890, 2º da República dos Estados Unidos do Brasil, na cidade de Óbidos, comarca do mesmo nome, Estado do Pará, reunidos às 8 horas da manhã no local mais acidentado da mesma cidade, ao Norte da Praça da Capela de Bom Jesus, escolhido para o assentamento do primeiro poste que tem de estender as linhas telegráficas para Manaus, pelo capitão Jules Blanc, Inspetor da comissão telegráfica do Amazonas e encarregado da Secção de Óbidos a Itacoatiara, presentes o mesmo capitão Jules Blanc e seus companheiros de turma, as autoridades locais e pessoas gradas da localidade, deu o dito capitão Blanc, por começado os trabalhos, e como tal inaugurados para o assentamento da linha telegráfica, e sendo entregue um terçado e machado às Exmas. Sras. D. Jacintha Rosa de Siqueira e D. Maria Augusta de Figueiredo, aquela mãe e esta filha do cidadão Vicente Augusto de Figueiredo, deram os primeiros golpes, e em seguida os trabalhadores começaram as derrubada, a limpeza do caminho, seguindo o rumo em que tem de ser estendido o fio telegráfico, tendo sido este ato entusiasticamente aplaudido por todos os presentes que levaram jubilosos e patrióticos “hurrahs” ao progresso e engrandecimento dos dois Estados banhados pelo rio Mar, que são Pará e Amazonas. Para constar se lavrou a presente ata, para comemorar-se tão memorável feito e data gloriosa, a qual vai assinada pelos cidadãos presentes com a declaração das suas ocupações civis.

            E eu, José Gomes do Rego, notário público, servindo de secretário, o escrevi. (Assinados) Jules Blanc, João de Oliveira Faneco, José Felix da Costa, José Augusto Pimentel, Romão de Assis Pires, José Pinheiro da Câmara, Juiz do Direito interino, Antônio de Souza Azevedo, Juiz Municipal, Tenente-Coronel Joaquim José da Silva Meirelles, Juiz de Paz, Comendador Francisco Augusto de Araújo Vianna, Agente Consular de Portugal, Tenente-Coronel Antônio do Ó de Almeida, Comandante do Forte, Gaspar Costa, Juiz Municipal de Soure, Advogado João Victor Gonçalves Campos, Osório Samuel de Oliveira, Escrivão interino de Órfãos, Porfírio José dos Reis, Coletor das Rendas Gerais, José Gomes do Rego, Tabelião de Notas, Perciliano Ferro e Silva, Professor Público normalista, Franklin Rodrigues Bentes, agente do Correio, Antônio Corrêa Pinto, Comerciante, Antônio Caminha Muniz, Comerciante, Elísio Pires dos Santos, Solicitador; Emiliano Alfredo de Araújo, Comerciante, F. M. N. de Mello, Comerciante, Theotonio Pereira de Moraes Coutinho, Comerciante, James Houmell, Jorge Francisco de Almeida, artista, Joaquim Alves Rodrigues, fazendeiro, Segundo Cadete Segundo Sargento João Abílio da Silva Cavalcanti de Albuquerque, David Bouzião, negociante, João Alves Roiz, empregado no comércio, João de Oliveira Gomes, Fazendeiro, José da Silva Lages, proprietário”.

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