Antes da era da internet ou do
celular, receber notícias dependia da ação dos Correios. Saber uma notícia da
Capital do Estado, do País ou do Mundo demorava dias, meses ou até mesmo um
ano. No entanto, no final do século XIX, um evento mudou significativamente
essa situação: a chegada do Telégrafo.
Em 1890 começaram os trabalhos
de implantação da linha telegráfica em Óbidos. A cidade foi escolhida como um
dos pontos estratégicos de ligação entre Manaus e Belém (bem como todo o
restante do país). A zona entre Manaus e a cidade de Prainha, onde supunha-se
apresentar as vantagens e facilidades para a construção de uma linha aérea, foi
dividida em quatro secções de exploração terrestre, que seria efetuada por
outras tantas turmas, ocupadas: a primeira secção ficaria entre Manaus e
Itacoatiara, a segunda entre Itacoatiara e Faro, a terceira de Faro a Óbidos e
a quarta de Óbidos a Prainha.
No que tange a organização do
trabalho, o projeto de implantação do telegrafo foi assim repartido: O inspetor
Silvério Nery, encarregado da primeira turma, para reconhecer e fazer o traçado
entre Manaus e Itacoatiara; o inspetor Júlio Blanc, ficou de seguir com uma
segunda turma Óbidos, na direção de oeste, para encontrar-se com a primeira
turma de exploração; e o inspetor Faneca, encarregado da terceira turma,
partindo de Óbidos, seguiria pelos campos de Alenquer demandando a cidade de
Prainha. Todo o trabalho seria feito simultaneamente até que as turmas se
encontrassem com a linha telegráfica. De Prainha, a linha telegráfica
encontraria a turma que vinha de Macapá, que seria ligada a Belém pela ilha do
Marajó. Esse era o projeto.
A responsabilidade de execução
do projeto esteve a cargo do Dr. Alexandre Haag, auxiliado, além dos inspetores
já mencionados, também pelos inspetores Frederico Rhossard e Louis Barrére, que
tinham a função específica de estudar e determinar os pontos de encontro das
diversas turmas, bem como a de proceder também a outras observações,
indispensáveis ao bom andamento do serviço, entre eles o de estabelecer os
melhores pontos para se instalar os cabos sub-fluviais. Em Óbidos, os trabalhos
iniciaram no dia 07 de novembro de 1890, conforme podemos ver na ata que segue:
“Ata
da inauguração dos trabalhos da linha telegráfica na cidade de Óbidos, primeira
estação da região Amazônica no Estado do Pará.
No
dia 7 de Novembro do ano de 1890, 2º da República dos Estados Unidos do Brasil,
na cidade de Óbidos, comarca do mesmo nome, Estado do Pará, reunidos às 8 horas
da manhã no local mais acidentado da mesma cidade, ao Norte da Praça da Capela
de Bom Jesus, escolhido para o assentamento do primeiro poste que tem de
estender as linhas telegráficas para Manaus, pelo capitão Jules Blanc, Inspetor
da comissão telegráfica do Amazonas e encarregado da Secção de Óbidos a
Itacoatiara, presentes o mesmo capitão Jules Blanc e seus companheiros de
turma, as autoridades locais e pessoas gradas da localidade, deu o dito capitão
Blanc, por começado os trabalhos, e como tal inaugurados para o assentamento da
linha telegráfica, e sendo entregue um terçado e machado às Exmas. Sras. D. Jacintha
Rosa de Siqueira e D. Maria Augusta de Figueiredo, aquela mãe e esta filha do
cidadão Vicente Augusto de Figueiredo, deram os primeiros golpes, e em seguida
os trabalhadores começaram as derrubada, a limpeza do caminho, seguindo o rumo
em que tem de ser estendido o fio telegráfico, tendo sido este ato
entusiasticamente aplaudido por todos os presentes que levaram jubilosos e
patrióticos “hurrahs” ao progresso e engrandecimento dos dois Estados banhados
pelo rio Mar, que são Pará e Amazonas. Para constar se lavrou a presente ata,
para comemorar-se tão memorável feito e data gloriosa, a qual vai assinada
pelos cidadãos presentes com a declaração das suas ocupações civis.
E eu, José Gomes do Rego, notário
público, servindo de secretário, o escrevi. (Assinados) Jules Blanc, João de
Oliveira Faneco, José Felix da Costa, José Augusto Pimentel, Romão de Assis
Pires, José Pinheiro da Câmara, Juiz do Direito interino, Antônio de Souza
Azevedo, Juiz Municipal, Tenente-Coronel Joaquim José da Silva Meirelles, Juiz
de Paz, Comendador Francisco Augusto de Araújo Vianna, Agente Consular de
Portugal, Tenente-Coronel Antônio do Ó de Almeida, Comandante do Forte, Gaspar
Costa, Juiz Municipal de Soure, Advogado João Victor Gonçalves Campos, Osório
Samuel de Oliveira, Escrivão interino de Órfãos, Porfírio José dos Reis,
Coletor das Rendas Gerais, José Gomes do Rego, Tabelião de Notas, Perciliano
Ferro e Silva, Professor Público normalista, Franklin Rodrigues Bentes, agente
do Correio, Antônio Corrêa Pinto, Comerciante, Antônio Caminha Muniz,
Comerciante, Elísio Pires dos Santos, Solicitador; Emiliano Alfredo de Araújo,
Comerciante, F. M. N. de Mello, Comerciante, Theotonio Pereira de Moraes
Coutinho, Comerciante, James Houmell, Jorge Francisco de Almeida, artista,
Joaquim Alves Rodrigues, fazendeiro, Segundo Cadete Segundo Sargento João
Abílio da Silva Cavalcanti de Albuquerque, David Bouzião, negociante, João
Alves Roiz, empregado no comércio, João de Oliveira Gomes, Fazendeiro, José da
Silva Lages, proprietário”.
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