Os nossos
prosadores folcloristas deviam bem conhecer a vida rústica do nosso vasto
sertão amazônico e poder assim idealizar para seus contos e narrativas
pitorescas as adjetivações desopilantes que, de instante a instante, nos forcem
à contínua hilaridade.
Acidentalmente
me encontrei a assistir uma ferra no Lago Grande.
A impressão que
colhi denotou achar-me no Nordeste, onde comumente se reproduzem tais
acontecimentos brejeiros, nos arrebaldes.
Cavalos
equipados, vaqueirada à postos, recebiam ordens do capataz que, de momento a
momento, com o ferro em brasa, legalizava a res que recebia a marca a indicar a
legitimidade do fazendeiro.
O serviço
prosseguia, cumulando-se com os tragos frequentes à vaqueirada, que se
reanimava na fúria entre os laçadores que disputavam entre si a primazia do
jogar a corda para, no final da peleja, receberem o quinhão merecido.
A alegria
reinava e, do grupo, sobressaia o vulto de um tipo a Chico Boia, revolver à
cinta, ares de brigador, que de vez em quando verificava a aplicação do ferro
nas reses que recebiam a prova do fogo.
Estava a
finalizar a ferra quando. Do meio do curral, ouve-se o vozeiro da vaqueirada –
última vez – garrote carimã!
Como a imitar o
tigre, pula arena o nosso Chico que, disposto ao box, colérico a esguichar a
baba da sua celafobia, grita: “Este é meu! Não cedo, tem que levar o ferro
GAO”.
Os vaqueiros,
sem mais delongas, ante a atitude leonina do patriarca, que ameaçava uma
carnificina numa festa toda de alegria, aplicaram ao animal as letras malditas
a cujo protesto o irracional demonstrou aos que o subjugavam para o suplício do
fogo.
Depois, entre a
tropa da fazenda, deu-se este curto diálogo:
“– Atanásio,
viste que o Jacamim vai começar fazenda com um garrote?
– Pudera... ele
antes de ser, já era a maior vaca do curral...”
E assim terminou
uma ferra no Lago Grande, com a cedência de um garrote para início da fazenda.
NOTA: Publicado
no jornal O Momento, em Santarém, no dia 12 de outubro de 1935, texto de
autoria de Dido Israel.
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