terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Artigo: A Cultura em Santarém


Dom Alberto Gaudêncio Ramos
(Arcebispo de Belém – PA)

Fincada em privilegiada posição geográfica e banhada, duas vezes ao dia, pelo Amazonas e o Tapajós que se revezam no afinco de acaricia-la, Santarém não se avantaja celeremente apenas no aspecto econômico do desenvolvimento.
Destaca-se, também, pelo valor intelectual dos seus filhos que sabem cultuar os valores passados.
Haja vista a recente edição de três obras valiosas: o enfeixamento de partituras de músicas compostas por Wilson Fonseca, a monografia de João Santos sobre “Monsenhor Frederico Costa – O primeiro prelado de Santarém” e a biografia do músico-poeta José Agostinho da Fonseca.

A primeira conserva para a posterioridade variadas composições para diversos gostos. Lembro-me ainda da missa polifônica que ouvi executar na Catedral de Holly Name of Jesus, de Chicago, a 09 de abril de 1958, por um coro de cem seminaristas franciscanos, acompanhados de maviosa orquestra, na ordenação episcopal de dom Frei Thiago Ryan. E a “Canção de Minha Saudade” que mergulha no Amazonas para no Tapajós boiar. “Tens Maria por padroeira/ Essa mãe tão brasileira/ Santarém da Conceição/ Se relembro teus encantos/ Ó Jesus, lá vem meus prantos/ vou cantando esta canção”.
João Santos, funcionário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, habituado a lidar com fichas e números, teve à sua disposição o arquivo de Prelazia de Santarém e conseguiu fazer um levantamento completo da atuação de Monsenhor Frederico Benicio de Souza Costa, o primeiro prelado da mais antiga Prelazia do Brasil, que se pode derar [sic] a metropolitana ou a “arquiprelazia” e que, nestes dias, a 21 do corrente, está comemorando o 75º aniversário de sua ereção pelo Papa Pio X. Podemos, assim, acompanhar nessas 130 páginas, editadas pelo nosso Conselho Estadual da Cultura, as peregrinações exaustivas, e as pastorais calorosas daquele eclesiástico paraense, filho de Boim, no Tapajós, que enfrentou sozinho a ingente tarefa pioneira de organizar a Prelazia e sentir-lhe os problemas.
Quem se abalance no futuro, a escrever a biografia completa de Dom Frederico Costa, que depois foi bispo do Amazonas, e terminou seus dias com uma humilde carmelita, num convento na Espanha, depois de verem os comunistas tripudiarem sobre todos os seus manuscritos inéditos, já encontrará completo capítulo referente à sua passagem pela Prelazia de Santarém, no valioso trabalho de João Santos.
O terceiro livro, a que me refiro, é da lavra de Wilmar Dias da Fonseca, que vale não apenas como testemunho filial de admiração a um homem que viveu profundamente a vida musical de Santarém, mas retraça toda uma época da próspera família tapajônica
Uma das considerações que surgem espontâneas da leitura de “O Músico Poeta” é a respeito do nosso instituto Lauro Sodré, onde o jovem José Agostinho encontrou o ambiente adaptado ao desenvolvimento de suas inatas inclinações para a música. Não se compreende que um Estado que contava com instituto de tal relevo profissional e artístico tenha fechado suas oficinas para transformá-la num trivial currículo livresco, donde só podem sair candidatos e burocracia.
José Agostinho da Fonseca transmitiu aos seus filhos o talento musical, despertando também em muitos jovens a vocação para a sensibilidade artística de sons.

NOTA: Pulicado originalmente no Jornal do Baixo Amazonas, de 01 de outubro de 1978.

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