Dom Alberto
Gaudêncio Ramos
(Arcebispo de
Belém – PA)
Fincada em
privilegiada posição geográfica e banhada, duas vezes ao dia, pelo Amazonas e o
Tapajós que se revezam no afinco de acaricia-la, Santarém não se avantaja
celeremente apenas no aspecto econômico do desenvolvimento.
Destaca-se,
também, pelo valor intelectual dos seus filhos que sabem cultuar os valores
passados.
Haja vista a
recente edição de três obras valiosas: o enfeixamento de partituras de músicas
compostas por Wilson Fonseca, a monografia de João Santos sobre “Monsenhor
Frederico Costa – O primeiro prelado de Santarém” e a biografia do músico-poeta
José Agostinho da Fonseca.
A primeira
conserva para a posterioridade variadas composições para diversos gostos.
Lembro-me ainda da missa polifônica que ouvi executar na Catedral de Holly Name
of Jesus, de Chicago, a 09 de abril de 1958, por um coro de cem seminaristas
franciscanos, acompanhados de maviosa orquestra, na ordenação episcopal de dom
Frei Thiago Ryan. E a “Canção de Minha Saudade” que mergulha no Amazonas para
no Tapajós boiar. “Tens Maria por padroeira/ Essa mãe tão brasileira/ Santarém
da Conceição/ Se relembro teus encantos/ Ó Jesus, lá vem meus prantos/ vou
cantando esta canção”.
João Santos, funcionário
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, habituado a lidar com
fichas e números, teve à sua disposição o arquivo de Prelazia de Santarém e
conseguiu fazer um levantamento completo da atuação de Monsenhor Frederico
Benicio de Souza Costa, o primeiro prelado da mais antiga Prelazia do Brasil,
que se pode derar [sic] a metropolitana ou a “arquiprelazia” e que, nestes
dias, a 21 do corrente, está comemorando o 75º aniversário de sua ereção pelo
Papa Pio X. Podemos, assim, acompanhar nessas 130 páginas, editadas pelo nosso
Conselho Estadual da Cultura, as peregrinações exaustivas, e as pastorais
calorosas daquele eclesiástico paraense, filho de Boim, no Tapajós, que
enfrentou sozinho a ingente tarefa pioneira de organizar a Prelazia e sentir-lhe
os problemas.
Quem se abalance
no futuro, a escrever a biografia completa de Dom Frederico Costa, que depois
foi bispo do Amazonas, e terminou seus dias com uma humilde carmelita, num
convento na Espanha, depois de verem os comunistas tripudiarem sobre todos os
seus manuscritos inéditos, já encontrará completo capítulo referente à sua
passagem pela Prelazia de Santarém, no valioso trabalho de João Santos.
O terceiro
livro, a que me refiro, é da lavra de Wilmar Dias da Fonseca, que vale não
apenas como testemunho filial de admiração a um homem que viveu profundamente a
vida musical de Santarém, mas retraça toda uma época da próspera família
tapajônica
Uma das
considerações que surgem espontâneas da leitura de “O Músico Poeta” é a
respeito do nosso instituto Lauro Sodré, onde o jovem José Agostinho encontrou
o ambiente adaptado ao desenvolvimento de suas inatas inclinações para a música.
Não se compreende que um Estado que contava com instituto de tal relevo profissional
e artístico tenha fechado suas oficinas para transformá-la num trivial
currículo livresco, donde só podem sair candidatos e burocracia.
José Agostinho
da Fonseca transmitiu aos seus filhos o talento musical, despertando também em
muitos jovens a vocação para a sensibilidade artística de sons.
NOTA: Pulicado
originalmente no Jornal do Baixo Amazonas, de 01 de outubro de 1978.
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