segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Um relato do fenômeno das “Terras Caídas” – 1978

As barrancas do rio Amazonas continuam sendo imprevisíveis. O fenômeno das “terras caídas” é bastante conhecido. Casas, roçados, árvores, caem, ano após ano, e são arrastados pela correnteza. Em algumas áreas, agricultores chegam a perder tudo o que plantaram quando o barranco cai. O exemplo mais recente aconteceu com o pescador João Cantídio Almeida Souza, 65 anos, na Ilha do Palhão.

Fazendo uma pausa em sua pescaria, Cantídio amarrou a canoa num galho de mato, perto de uma ribanceira. Saiu da canoa e subiu no mato. A sorte do velho foi ter ele saído logo da canoa. Ainda estava perto quando ouviu o barulho do barranco desabando. Correu de volta, saltou na água, ainda teve tempo de segurar na popa da canoa, mas era tarde. O volume de terra caído sobre a canoa era muito pesado e tudo foi ao fundo, sendo levado pela forte correnteza. Por sorte ainda conseguiu salvar um remo e um saco de roupas. Perdeu a canoa, tarrafa, hastes e todo o instrumental de pesca e de sobrevivência. O rio, do qual Cantídio tira o sustento desde criança, tirou-lhe, agora, os meios de sobrevivência. Por pouco não lhe tira a vida.

NOTA: Publicado no Jornal do Baixo Amazonas de 18 de novembro de 1978.

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