quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Momento Poético: LOUCURA

Por Silvério Sirotheau Corrêa

Coração, meu grande amigo,
Refreia a tua loucura:
Pois é loucura, também,
A gente pôr-se a esperar
Por uma qualquer ventura
Que se demora e não vem. 

Reprime a tua ambição
E esse desejo de louco,
Por demais inconcebível:
É bem feliz todo aquele
Que se contenta com o pouco
E não deseja o impossível.

Não apeteças os frutos
Que vivem dependurados,
Fora do alcance da mão,
Porque – não vês? – os melhores
São os que vivem jogados,
Esquecidinhos no chão.

Venturoso, afortunado,
Quem, padecendo e lutando,
Vem na vida realizando
Os ideais com que há sonhado!
É mais ditoso, porém,
Aquele que se contenta
Com o quase nada que tem.

Reprime a tua loucura,
Coração! Meu coração!
Pois é loucura, também,
O pôr-se a gente a esperar
Por uma qualquer ventura
Que se demora... e não vem.

NOTA: Poesia escrita na cidade de Santarém em abril de 1929.

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