quarta-feira, 29 de abril de 2020

O Drama de Belterra em 1965


O mato crescendo nos seringais improdutivos, onde pelo menos um dos 1.239 funcionários que ainda agora vivem na região, recebendo total superior a um bilhão e meio por ano, só trabalhou nove horas em todo o exercício passado; as construções arruinadas, tratores e automóveis abandonados ao tempo – eis o deplorável aspecto que o viajante depara hoje em Belterra. A usina de beneficiamento de látex está reduzida a um montão de sucata. E toda a produção deste centro, que foi um dia a esperança de Henry Ford e hoje é um símbolo de desastre governamental, mal atinge 318 toneladas de borracha centrifugada, de qualidade contestável.

(...) E os detalhes da minuciosa descrição deste verdadeiro drama, dizem bem da imensa latitude do problema amazônico para o governo brasileiro. Custou Belterra ao país o preço simbólico de cinco milhões de cruzeiros, há exatamente vinte anos. Só as construções e o que existia nos almoxarifados da Ford valiam muitas vezes a quantia ridícula. Hoje, Belterra é quase terra de ninguém, um furo por onde se esvaem verbas federais sem fim e para nada. É, antes de tudo, um símbolo. Perdida na floresta, desconhecida da quase totalidade dos brasileiros, inclusive de muitos que vivem na região, Belterra é uma linha no orçamento da União e a evidência da incapacidade estatal.

NOTA: Texto extraído do jornal Alto Madeira, de 01 de agosto de 1965.

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