Pe. Sidney
Augusto Canto
O dia 08 de agosto de 1926 foi um dia
memorável na história de Óbidos. Até então a maioria das noites pauxis era
iluminada pela lua, pelas estrelas, pelas velas e pirilampos que voavam pelas
ruas ainda de chão batido. Raras vezes, com a proximidade de uma festa ou de
uma data cívica, bem como de algum comício político alguns dos poucos geradores
existentes eram acionados para fazer iluminar por algumas horas alguns pontos
da urbe obidense. Com a subida do Dr. Corrêa Pinto ao cargo de intendente
municipal, muitas melhorias foram feitas naquela distante década de 1920. Uma
delas foi a luz elétrica para iluminar as casas e as ruas da cidade.
Naquela manhã de agosto diversas
delegações dirigiram-se de outros municípios para a cidade presépio. Vieram
lanchas e batelões de Alenquer, Oriximiná, Santarém e outros lugares. Na
comitiva santarena, que veio em duas embarcações (a “Liberdade” e a “Zé Pinto”)
se encontrava, entre outras pessoas: o dr. Alarico Barata, Gregoriano Queiroz e
Paulo Rodrigues dos Santos. Às sete horas da manhã, sob intenso foguetório, os
visitantes foram acolhidos.
Trocadas os cumprimentos e as saudações
de praxe, as comissões visitantes seguiram pelas ruas de Óbidos, (que então se
encontravam todas embandeiradas e com os postes da iluminação elétrica
enfeitados com folhas de palmeiras) até a casa do Intendente, onde um lauto
lanche foi servido; terminado o mesmo, as comissões foram visitar os prédios
públicos da cidade. Após a visita, novamente na casa do Intendente foi servido
o almoço.
Às cinco horas da tarde, com a
participação maciça do povo de Óbidos, deu-se início a inauguração da “Usina de
Luz”, que contou com a benção feita pelos padres franciscanos e com um coro dos
alunos da escola das freiras, que entoaram um “Veni Creator” durante a
cerimônia. Terminada a parte religiosa falaram as autoridades, entre as quais o
intendente dr. Corrêa Pinto, que agradeceu o empenho do Governo do Estado e do
dr. Rodrigues dos Santos pelo apoio àqueles melhoramentos para a cidade.
Um jornal da época assim noticiou o
evento: “Ao terminar o seu primeiro
discurso, recebeu o dr. Corrêa Pinto vários “bouquets” de flores ofertados por
diversas senhorinhas. Nessa ocasião foi executado pela banda musical e cantado
pelas crianças das escolas o formoso “Hino Obidense”, composição e letra do
Exmo. Maestrino Américo Souza” (veja o texto do referido hino abaixo).
O motor de 75 HP aciona o dínamo que
fornece a corrente elétrica para iluminação e para as máquinas de gelo e água
(que ainda não funcionava naquele dia). A peça principal de corrente alternada
trifásica de 25 KWA fornecia eletricidade para 175 postes com iluminação
pública feita por 200 lâmpadas de 60 a 120 velas. O consumo particular era
medido por meio de contadores. A energia era vendida a 1$200 (mil e duzentos
réis) o quilowatt.
Inaugurada a luz, passou a comitiva a
inaugurar a fábrica de gelo obidense, que também vinha contribuir para que os
lares pudessem usufruir de bebidas geladas e melhor preservação de alimentos.
Pelas 21:30 horas foi inaugurado, na sala da Intendência Municipal, os retratos
dos srs. Dionísio Bentes, Lauro Sodré e Cipriano Santos. Evento que contou
também com o serviço de jantar seguido de bonito baile dançante. Pelas três
horas da madrugada seguinte as comitivas regressaram aos seus municípios,
deixando para traz, pela primeira vez, uma cidade de Óbidos iluminada pela tão
sonhada eletricidade municipal.
HINO MUNICIPAL OBIDENSE
(Letra e música do maestro obidense
Américo Souza, cantado no ato de inauguração da luz).
Entre
pompas de real maravilha,
Sob
um céu de risonho matiz,
Toda
em luz, como um sol, surge e brilha,
A
cidade dos nobres PAUXIS.
Grande
e livre, radiante e formosa,
Tem
o vôo das águias reais,
E
a subir, a subir majestosa,
Vai
vencendo as antigas rivais.
ESTRIBILHO:
Quem
não luta não vence, que a luta
Pelo
bem é que faz triunfar.
Reparai:
o clarim já se escuta
É
a fama que vem nos saudar! (BIS)
Aos
pequenos e aos bons, entre flores,
Agasalha
e se esquece dos vis,
Ninguém
sofre tormentos e dores,
Nesta
terra dos nobres PAUXIS.
Todo
povo é feliz, diz a História,
Se
percebe, entre gozos sem fim,
O
progresso passar junto à Glória,
Em
seu belo e dourado coxim!
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