segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Artigo: O usa da corda do Círio da Padroeira

Pe. Sidney Augusto Canto

Nos primeiros anos, já existia a corda no Círio, cuja função era puxar a Berlinda. Contudo, na publicação da “Carta Circular de número 04” do arcebispo do Pará, Dom Irineu Jofily, datada de 21 de abril de 1926, foi suprimido o uso da “corda” e da “berlinda”, devendo o povo conduzir a imagem de Nossa Senhora de Nazaré em andor carregado sobre os ombros.

Dom Amando Balhmann, convencido dos argumentos do arcebispo e em solidariedade a ele mandou retirar do Círio o uso da corda e da berlinda, conforme vemos descrito no Programa da Festa de 1926:


A ordem desse extraordinário cortejo é o seguinte: À frente, abrindo-o, irá o carro dos foguetes (o grifo é meu). Logo após formarão ala os meninos das escolas do catecismo, seguidos da Congregação dos Marianos, Associações Aloysianos e Vicentinos. Virá em seguida a “Symphonia Franciscana”. Em continuação irão as alunas do Orfanato de “Santa Clara”, as Filhas de Maria, com seu estandarte, seguidas das Irmãs Clarissas. No centro irá a grande legião dos Anjos, depois doqual formarão ala a Pia União de Santo Antônio, com seu estandarte, a Confraria do SS. Rosário e o Apostolado da Oração com seu estandarte. Em seguida irá o ANDOR com a imagem da Excelsa Rainha do céu, Nossa Senhora da Conceição, que do alto do seu trono abençoará o povo santarense. Devido a ordem superior eclesiástica, foi suprimida a berlinda e a corda de que se compunha este préstito (o grifo é meu). Seguidamente irá a banda de música do professor Raymundo Fona, indo depois a grande massa popular”.

Esta retirada da “Corda” e da “Berlinda”, por parte da autoridade do Bispo da Prelazia, provocou novamente uma reação por parte de algumas pessoas da comunidade local. No ano seguinte espalhou-se a notícia de que não haveria mais a realização do Círio. Não sabemos a origem (se da hierarquia da Igreja ou de algum desafeto de Dom Amando), mas em 29 de outubro de 1927, o Jornal “A Cidade”, trazia a seguinte nota sobre a Festa da Padroeira:

“A diretoria desta festividade religiosa está agindo no sentido de realizá-la com o brilhantismo de sempre, para o que empregará o máximo do seu esforço.
Não tem fundamento o que se propala afirmando que não será feita este ano a festa da Padroeira de Santarém.
A diretoria, estribada no sentimento religioso do nosso povo, conta com o concurso deste e garante que serão prestadas as homenagens devidas à Imaculada Senhora da Conceição”.

O uso da corda retornou no ano de 1971, quando o Sr. Edenmar da Costa Machado instituiu tal costume, a exemplo do que acontece em Belém. Isso tornou-se tradição, apesar de ainda não se registrarem incidentes como os que acontecem no Círio de Belém, onde ultimamente (em alguns dos Círios) a corda tem sido cortada para garantir a chegada da Berlinda em tempo mais ameno na Basílica.

Aprouve lembrar aqui que além do carro dos foguetes que hoje não existe mais (foi retirado logo nos primeiros anos do Círio, visto que não é mais citado no Programa da Festa de 1931 e 1934), nos anos de 1970, 1971 e 1972, um carro dos anjos também acompanhava o Círio. Foi retirado da procissão por não mais poder comportar as pessoas (pais, parentes ou amigos) que desejavam acompanhar seus “anjinhos” em cima do carro dos anjos.

A corda, hoje, é um instrumento de devoção dos “cordeiros” (aqueles que conduzem a corda) denominou a atual Missa celebrada antes da saída da procissão, hoje carinhosamente chamada de “Missa dos Cordeiros”. São esses mesmos “cordeiros” que nos emocionam quando levantam a corda e que, após o Círio, cortam pedaços da corda e levam para casa, como testemunho do voto cumprido, da dedicação e da meta alcançada.

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