Pe. Sidney Augusto Canto
Nos
primeiros anos, já existia a corda no Círio, cuja função era puxar a Berlinda.
Contudo, na publicação da “Carta Circular de número 04” do arcebispo do Pará,
Dom Irineu Jofily, datada de 21 de abril de 1926, foi suprimido o uso da
“corda” e da “berlinda”, devendo o povo conduzir a imagem de Nossa Senhora de
Nazaré em andor carregado sobre os ombros.
Dom
Amando Balhmann, convencido dos argumentos do arcebispo e em solidariedade a
ele mandou retirar do Círio o uso da corda e da berlinda, conforme vemos descrito
no Programa da Festa de 1926:
“A
ordem desse extraordinário cortejo é o seguinte: À frente, abrindo-o, irá o carro dos foguetes (o grifo é
meu). Logo após formarão ala os meninos das escolas do catecismo, seguidos da
Congregação dos Marianos, Associações Aloysianos e Vicentinos. Virá em seguida
a “Symphonia Franciscana”. Em continuação irão as alunas do Orfanato de “Santa
Clara”, as Filhas de Maria, com seu estandarte, seguidas das Irmãs Clarissas.
No centro irá a grande legião dos Anjos, depois doqual formarão ala a Pia União
de Santo Antônio, com seu estandarte, a Confraria do SS. Rosário e o Apostolado
da Oração com seu estandarte. Em seguida irá o ANDOR com a imagem da Excelsa
Rainha do céu, Nossa Senhora da Conceição, que do alto do seu trono abençoará o
povo santarense. Devido a ordem
superior eclesiástica, foi suprimida a berlinda e a corda de que
se compunha este préstito (o grifo é meu). Seguidamente irá a banda de
música do professor Raymundo Fona, indo depois a grande massa popular”.
Esta
retirada da “Corda” e da “Berlinda”, por parte da autoridade do Bispo da
Prelazia, provocou novamente uma reação por parte de algumas pessoas da
comunidade local. No ano seguinte espalhou-se a notícia de que não haveria mais
a realização do Círio. Não sabemos a origem (se da hierarquia da Igreja ou de
algum desafeto de Dom Amando), mas em 29 de outubro de 1927, o Jornal “A
Cidade”, trazia a seguinte nota sobre a Festa da Padroeira:
“A diretoria desta festividade
religiosa está agindo no sentido de realizá-la com o brilhantismo de sempre,
para o que empregará o máximo do seu esforço.
Não tem fundamento o que se propala
afirmando que não será feita este ano a festa da Padroeira de Santarém.
A diretoria, estribada no sentimento
religioso do nosso povo, conta com o concurso deste e garante que serão
prestadas as homenagens devidas à Imaculada Senhora da Conceição”.
O
uso da corda retornou no ano de 1971, quando o Sr. Edenmar da Costa Machado
instituiu tal costume, a exemplo do que acontece em Belém. Isso tornou-se
tradição, apesar de ainda não se registrarem incidentes como os que acontecem
no Círio de Belém, onde ultimamente (em alguns dos Círios) a corda tem sido
cortada para garantir a chegada da Berlinda em tempo mais ameno na Basílica.
Aprouve
lembrar aqui que além do carro dos
foguetes que hoje não existe mais (foi retirado logo nos primeiros anos
do Círio, visto que não é mais citado no Programa da Festa de 1931 e 1934), nos
anos de 1970, 1971 e 1972, um carro
dos anjos também acompanhava o Círio. Foi retirado da procissão por
não mais poder comportar as pessoas (pais, parentes ou amigos) que desejavam
acompanhar seus “anjinhos” em cima do carro dos anjos.
A corda, hoje, é
um instrumento de devoção dos “cordeiros” (aqueles que conduzem a corda)
denominou a atual Missa celebrada antes da saída da procissão, hoje
carinhosamente chamada de “Missa dos Cordeiros”. São esses mesmos “cordeiros”
que nos emocionam quando levantam a corda e que, após o Círio, cortam pedaços
da corda e levam para casa, como testemunho do voto cumprido, da dedicação e da
meta alcançada.
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