Por Pe.
Sidney Augusto Canto
Corria o ano de 1926. Tudo estava
tranquilo na Vila de Curuai naquele dia 27 de agosto não fossem dois fatos
tristes que eram o motivo das conversas entre as pessoas da pacata localidade:
o primeiro foi a da grande queimada dos campos do “Torrão”, que aconteceu no
dia anterior. As autoridades estavam em busca do responsável pelo criminoso
incêndio que vitimara grande número de marrecas que ali vieram por seus ovos
que foram encontrados carbonizados aos milhares. Além disso, um grande número
de bezerros, que se encontrava naquela região, também morreu. Foram consumidos
pelas chamas assassinas que podiam ser vistas da orla lacustre da Vila.
Outro motivo das conversas daquele dia
pacato era a grande migração das famílias para o igarapé denominado “da Pesca”.
Muitas deixavam suas casas vazias para se instalarem provisoriamente no citado
igarapé para pescarem o pirarucu, peixe que naquele ano abundava sobremaneira
nas águas do lugar.
Tudo indicaria que seria mais uma tarde
tranquila, quando por volta das 15h30 o tempo começou a mudar. O céu de verão,
até então quase limpo de nuvens, se encheu da negritude das mesmas. Um forte
vento levantou a poeira das ruas da Vila. Pessoas corriam para suas casas,
portas e janelas eram fechadas, parecia que seria mais um dos costumeiros
temporais de verão, mas não foi.
A tempestade veio acompanhada de um ar
frio (vento sul?) que fez com que a população da Vila visse algo até então
inédito: passado o impacto inicial da ventania, entre os relâmpagos e trovões,
começou a chover pedras de gelo do céu (granizo). A água congelada caiu sobre a
Vila Curuai por cerca de dez minutos. Tempo suficiente para causar grandes
estragos. Um correspondente local do Jornal “A Cidade”, enviou para o mesmo, na
cidade de Santarém, um relato dos estragos, assim descrito:
“Foram
diversas as casas que sofreram desarranjos com a tempestade do dia 27, convindo
destacar a casa em que funciona a escola municipal desta vila e a do subposto
sanitário “Castro Valente”, à travessa Lauro Sodré, que tiveram boa parte do
telhado descoberta, a casa de comércio do sr. João Figueira, à rua do Comércio,
que ficou com a parte fronteira quase toda destelhada, além de prejuízos
decorrentes de estragos de mercadorias; as casas dos srs. Marcolino Duarte,
Francisco Deodato de Miranda e Manoel Raimundo de Sousa, além de outras. Também
o sr. Ricardo Figueira sofreu prejuízos com o desabamento total do barracão que
lhe servia de oficina de construção de embarcações”.
Merece um registro especial o fato que
seria destaque das conversas do dia seguinte: apesar dos estragos acontecidos
nas casas ao redor, a Igreja de Nossa Senhora de Nazaré (fronteira à casa do
senhor João Figueira) que ficava onde o vento soprou mais forte, não sofreu
nenhum tipo de avaria, nem sequer uma telha foi quebrada. O espanto suscitava
comentários, por conta da recente festa realizada, que conotavam para alguns um
sinal de castigo dos céus e, para outros, um milagre divino que lhes aumentou a
fé.
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