Pe. Sidney Augusto Canto
Não se sabe ao certo quando começou o uso
do manto da imagem no Círio. Ele é próprio da imagem atual que, além do manto, utilizava também um vestido durante
alguns anos. Por ser uma imagem de “roca”, é possível que usasse roupa desde
quando chegou em terras santarenas no
ano de 1854.
Contudo, sabemos que em 1922, a doação do
manto já era corrente. Naquele ano, o Juiz da Festa era o Sr. Aureliano
Carolino Imbiriba, que doou o manto como fruto de uma promessa. Ele encomendou
o manto que foi confeccionado em Paris, na França; era de seda branca, bordado
com pedras coloridas.
Dois anos depois, em 1924, um novo manto
foi confeccionado. Desta vez, fruto de uma subscrição, organizada pela sra.
Gita Braga, que fez dela uma prestação de contas detalhada que transcrevemos
abaixo:
“RECEITA:
Maria
Braga - 5$000, Alzira Frazão - 5$000, Almira Gonçalves - 5$000, José Melcíades
- 5$000, André Maciel - 2$000, André Lobo - 2$000, José N. de Souza 5$000, Victoriano
Senna - 5$000, Jorge Corrêa Filho - 10$000, João C. Pereira - 2$000, Annicota
Alho - 5$000, José Dias - 1$000, Romualdo - 1$000, A. Guimarães - 2$000, Pedro
Nogueira - 2$000, Plínio de Albuquerque - 2$000, Maria C. Fernandes - 1$000,
Marques Pinto 10$000, Rodrigues - 2$000, Martinho da Silva - 1$000, Arthur Paz
- 2$000, N. B. - 2$000, J. H. - 2$000, J. Montenegro - 10$000, Duarte - 1$000, (anônimo)
- 2$000, Alfredo - 1$000, Suzanna Silva - 2$000, Felippe Castro - 2$000,
Galdino Lopes - 1$000, Presídio Corrêa - 1$000, Eustáquio Corrêa - 2$000, Dora
Santos - 20$000, Manoel Branco - 2$000, Antonio Ferreira - 2$000, Clemente
Jennings - 1$000, João Baker - 5$000, Armando Vianna - 10$000, Helena Cecília e
Bernardo Leal - 5$000, Corina Queiroz - 10$000, Lindinha Reça - 2$000, Maria
Vasconcellos - 1$000, Arthur Bentes - 2$000, Gita Fernandes - 1$000, Ruy Barata
- 2$000, Isaac Serruya - 5$000, Pedro Gentil - 5$000, J. B. Miléo - 5$000, Nena
Santos - 1$000, Carolina B. Silva - 1$000, Hélia Rodrigues - 1$000, Fausta
Rodrigues - 2$000, Maria B. Macambira - 1$000, Maria Monteiro - 2$000, Antonia
Abreu - 2$000, Alzira Lopes - 2$000, F. Bentes - 5$000, M. Figueira - 2$000,
Alzira C. Nóvoa - 2$000, Anna F. Imbiriba - 5$000, Maroquita Sousa - 5$000,
Antonio Silva - 1$000, Elydia Macedo - 5$000, Lindinha Guimarães - 5$000,
Sirotheau - 2$000, José e Jesus Mascarenhas - 2$000, Olympia L. Nunes - 2$000,
Maria D. Couto - 5$000, Didi Duarte - 2$000, Benedicta Frazão - 2$000, Alda
Dantas - 5$000, Penha Chaves - 2$000, Astrogilda Vasconcelos - 2$000, Nise
Martins - 5$000, Theresa Castro - 10$000. TOTAL: 262$000
DESPESA:
Pago
a Américo Almeida - 7$500, a Marques Pinto & Irmãos - 126$700, a A. P. de
Carvalho - 20$000, à Casa Alegria - 18$500, à Carvalinho (filial) - 1$200, e material
para flores do altar - 10$000, à João Fona (pintura do vestido) - 50$000,
feitio de flores - 22$000. TOTAL: 255$900
BALANÇO:
Total
da Receita - 262$000
Total
da Despesa - 255$900
Saldo:
6$100
A
importância do saldo acima foi distribuída como esmola aos pobres”.
De lá para cá tem-se tornado costume que
uma família ou uma senhora de destaque da sociedade santarena doe o manto que
pode ser confeccionado pela ofertante ou encomendado a outrem, conforme fosse o
caso.
O uso do manto cessou em 1931, quando
houve a “troca” das imagens do Círio. Já dissemos anteriormente, que a troca
foi efetuada por causa de alguns padres franciscanos alemães que achavam a
atual imagem muito “pomposa” com toda a roupa e adornos que utilizava, sendo
tratada semelhante a uma “boneca”.
Levando em consideração a simplicidade e
o caráter mais singelo, Dom Amando e os demais sacerdotes decidiram por efetuar
a troca com a imagem “achada” por Belo de Carvalho. O uso do manto retornou em
1961, quando a imagem itinerante voltou a ser a que circula nos Círios de hoje.
Até meados da década de 70, a indumentária incluía além do manto um longo
vestido.
Foi a convite de Frei Paulo Zoderer que
Laurimar Leal começou a confeccionar o manto da padroeira. Além disso, executou
uma reforma na imagem mostrando a sua arte de esculpir, o que ocasionou a
retirada do longo vestido, mas manteve a permanência do manto. Por muito tempo,
Laurimar Leal confeccionou o manto da padroeira, com raras exceções. Ele procurava combinar o manto com todo o conjunto
da Berlinda, o qual também ajudava a criar e ornamentar. Segundo ele:
“A
magia da criação do artista é sempre achar que pode fazer melhor aquilo que faz
em uma próxima vez... o mesmo acontece com os mantos: eu aprendo com cada manto
que faço, até mesmo com aqueles que vêm de fora, a fazer sempre melhor e mais
bonito. Se eu faço um manto e nele vejo um erro, eu transformo esse erro em um
detalhe... artistas transformam erros em detalhes...”.
Os mantos continuam sendo uma atração à
parte: todos os anos são eles que nos mostram uma das muitas belezas de nossa
festa.
Por ocasião do Centenário da Diocese,
foram resgatados alguns dos mantos utilizados pela Imagem nos Círios de
antigamente. Infelizmente o que conseguiu manter foram apenas muitas fotos dos
mantos... O mais antigo se encontra no acervo do Museu de História e Arte Sacra
é do ano de 1989. Descobrimos, posteriormente, que alguns dos mantos mais
antigos eram reaproveitados para a confecção dos novos. Devido à escassez ou
mesmo ao alto custo do material, os mantos eram inutilizados e por fim
destruídos. Uma perda, certamente, que esperamos não mais ocorrer doravante.
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