terça-feira, 17 de novembro de 2015

Artigo: Os antigos “Círios da Bandeira”

Por Pe. Sidney Augusto Canto

Muitos historiadores e pesquisadores locais concordam que o Círio de Nossa Senhora da Conceição acontece em nossos dias desde o ano de 1919. Entre eles cito: Paulo Rodrigues dos Santos, Wilde e Wilson Dias da Fonseca.

Contudo, o historiador e pesquisador João Bento Veiga dos Santos, em suas pesquisas já apontava para a realização, nos primeiros anos da República, uma procissão denominada Círio da Bandeira, na qual se levava um estandarte com a efígie da Santa Padroeira, percorrendo algumas ruas da Cidade, com concorrência do povo, congregações e irmandades religiosas e banda de música, e que para ele seria o precursor dos nossos atuais Círios.


Ao que se sabe, o primeiro desses “Círios da Bandeira” foi realizado em 1895. Era promovido pela “Confraria de Nossa Senhora da Conceição” fundada em 1862. O primeiro Círio da Bandeira saiu da Igreja de São Raimundo Nonato, no bairro da Aldeia. Foi noticiado no Jornal Folha do Norte em uma edição de janeiro de 1896, que erroneamente chamou-o de Círio de São Raimundo, talvez confundindo com o nome do patrono da Igreja do qual o mesmo havia saído. Posteriormente, outros Círios da Bandeira saíram da Igreja de São Sebastião e, ao que parece, seguiam o mesmo itinerário do primeiro Círio de Nossa Senhora da Conceição.
           
            Os “Círios da Bandeira” tinham esse nome porque, ao invés da imagem conduzida em Berlinda, a confraria conduzia um estandarte com a efígie de Nossa Senhora da Conceição, com a participação do povo que percorria as ruas ao som das bandas de música, muitas vezes organizadas especialmente para o evento. O historiador João Santos, assinala a possibilidade que o Círio da Bandeira tenha relação com o a “Bandeira” usada nos mastros das festas de padroeira de antigamente:

“Era costume, antigamente, em muitos lugares, entre os quais Santarém, dar início à festa do padroeiro do lugar, promovendo o “levantamento do mastro”, onde era içada a bandeira – um retângulo de tecido branco ou azul, no qual se estampava a efígie do santo – e a festa terminava com a “derrubada do mastro”, quando então a bandeira era entregue aos juízes escolhidos para promoverem a festa do ano seguinte”.

Levando-se em consideração esse pensamento do já citado historiador, o “Círio da Bandeira” poderia ser de fato, o que chamamos hoje de “Procissão do Mastro”, quando um grupo de pessoas, entre elas o juiz ou juíza da festa, conduz uma bandeira com a imagem do santo acompanhando o séquito que “busca” o mastro para a Festa do Padroeiro. Assim, faz sentido dizer que ora o mastro vinha da “Aldeia”, ora da “Prainha”, não saindo exclusivamente da Igreja (há relatos de que um dos “Círios da Bandeira” saiu do Paço Municipal – atual Museu João Fona), mas acompanhado pelo povo, banda, foliões, juízes e mordomos da festa.


Esta hipótese pode confirmar o fato de que o primeiro Círio “oficial”, introduzido pela hierarquia da Igreja Católica (Bispo Dom Amando), marcou o fim da festa antiga, ligada às tradições do mastro, folias, pretinhos, caixas e outras que ainda hoje se preservam em algumas das comunidades do interior, onde a presença e a força da hierarquia católica demoraram um pouco mais de tempo para se firmar.

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