Por Pe. Sidney Augusto Canto
Muitos historiadores e pesquisadores
locais concordam que o Círio de Nossa Senhora da Conceição acontece em nossos
dias desde o ano de 1919. Entre eles cito: Paulo Rodrigues dos Santos, Wilde e
Wilson Dias da Fonseca.
Contudo, o historiador e pesquisador João
Bento Veiga dos Santos, em suas pesquisas já apontava para a realização, nos
primeiros anos da República, uma procissão denominada Círio da Bandeira, na
qual se levava um estandarte com a efígie da Santa Padroeira, percorrendo
algumas ruas da Cidade, com concorrência do povo, congregações e irmandades
religiosas e banda de música, e que para ele seria o precursor dos nossos
atuais Círios.
Ao que se sabe, o primeiro desses “Círios
da Bandeira” foi realizado em 1895. Era promovido pela “Confraria de Nossa
Senhora da Conceição” fundada em 1862. O primeiro Círio da Bandeira saiu da
Igreja de São Raimundo Nonato, no bairro da Aldeia. Foi noticiado no Jornal
Folha do Norte em uma edição de janeiro de 1896, que erroneamente chamou-o de
Círio de São Raimundo, talvez confundindo com o nome do patrono da Igreja do
qual o mesmo havia saído. Posteriormente, outros Círios da Bandeira saíram da
Igreja de São Sebastião e, ao que parece, seguiam o mesmo itinerário do
primeiro Círio de Nossa Senhora da Conceição.
Os “Círios da Bandeira” tinham esse
nome porque, ao invés da imagem conduzida em Berlinda, a confraria conduzia um
estandarte com a efígie de Nossa Senhora da Conceição, com a participação do
povo que percorria as ruas ao som das bandas de música, muitas vezes
organizadas especialmente para o evento. O historiador João Santos, assinala a
possibilidade que o Círio da Bandeira tenha relação com o a “Bandeira” usada
nos mastros das festas de padroeira de antigamente:
“Era
costume, antigamente, em muitos lugares, entre os quais Santarém, dar início à
festa do padroeiro do lugar, promovendo o “levantamento do mastro”, onde era
içada a bandeira – um retângulo de tecido branco ou azul, no qual se estampava
a efígie do santo – e a festa terminava com a “derrubada do mastro”, quando
então a bandeira era entregue aos juízes escolhidos para promoverem a festa do
ano seguinte”.
Levando-se em consideração esse
pensamento do já citado historiador, o “Círio da Bandeira” poderia ser de fato,
o que chamamos hoje de “Procissão do Mastro”, quando um grupo de pessoas, entre
elas o juiz ou juíza da festa, conduz uma bandeira com a imagem do santo
acompanhando o séquito que “busca” o mastro para a Festa do Padroeiro. Assim,
faz sentido dizer que ora o mastro vinha da “Aldeia”, ora da “Prainha”, não
saindo exclusivamente da Igreja (há relatos de que um dos “Círios da Bandeira”
saiu do Paço Municipal – atual Museu João Fona), mas acompanhado pelo povo,
banda, foliões, juízes e mordomos da festa.
Esta hipótese pode confirmar o fato de
que o primeiro Círio “oficial”, introduzido pela hierarquia da Igreja Católica
(Bispo Dom Amando), marcou o fim da festa antiga, ligada às tradições do
mastro, folias, pretinhos, caixas e outras que ainda hoje se preservam em
algumas das comunidades do interior, onde a presença e a força da hierarquia
católica demoraram um pouco mais de tempo para se firmar.
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