segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Isto foi notícia: A polêmica mudança do Arraial em 1957 e 1958

Nos anos de 1957 e 1958, o arraial (a Barraca da Festa inclusive) funcionava na Praça Rodrigues dos Santos. A mudança aconteceu no período de “transição” pelo qual a Prelazia passava. Dom Floriano arrumava as malas para viajar para Óbidos, os frades da Província de Santo Antônio também; e Santarém ficaria sob a responsabilidade dos frades da Província do Sagrado Coração, dos Estados Unidos da América. Segundo a imprensa da época, o fato desagradou e muito aos populares, conforme podemos ver na notícia abaixo, publicada no jornal “O Baixo Amazonas”:


“Boa vontade não nos falta, mas francamente, não entendemos o que pretendem fazer os responsáveis pela organização da Festa de nossa mui querida Padroeira Nossa Senhora da Conceição. Aliás, a sinceridade nos obriga a dizer que também não compreendemos o que se vem verificando a respeito das demais festividades levada a efeito por estes recantos.
TRANSFERIDO O ARRAIAL
Já desde o ano passado, segundo vimos a saber, os Revmos. Frades Franciscanos, que há pouco tempo assumiram a direção apostólica da Prelazia, impuseram a mudança do arraial da maior festa local, e isso fora feito com os resmungos surdos e abafados do povo, para a praça vizinha. Este ano aí estará outra vez, a segunda, o “largo da Festa”.
NENHUM PREPARO, NENHUMA ARRUMAÇÃO
Não faz tempo, há menos de dois anos, sabíamos estar em plena festividade de nossa Santa Padroeira. O Largo da Matriz ficava todo iluminado e a fachada da própria Igreja também se engalanava, sem faltar igual cuidado no seu interior, principalmente no Altar-Mor.
Às vezes até duas orquestras, duas bandas de música tiravam de sua arte um passatempo agradável a este bom e ordeiro povo. Que prazer e satisfação, que retempero à alma neste crescente mar de atribulações! Ou não?
Este ano, como no passado, tudo indica que não teremos música no Arraial.
[...]
INSATISFAÇÃO POPULAR
Assim, do modo como está sendo realizado a festa, somos forçados a dizer que é inadmissível. Não é possível que só em Santarém se despreze tradição secular do povo brasileiro, de ouvir música nos seus arraiais festivos, nos seus desfiles processionais, exatamente como sempre se fez nesses momentos. Não se pode acabar com a tradição popular e um povo que assim se deixa levar, pode ser tudo, menos livre e independente. Porque a tradição faz parte integrante da sua vida, do mesmo modo como a vida de todos, através dos seus atos, gestos e atitudes, compõe a história, a narração cívica e patriótica da Pátria. Temos pensado sobre isso e não achamos ofensa alguma à Igreja na continuação do nosso modo de viver, com música e foguetes por ocasião desses atos festivos.

O murmúrio acerca de tais coisas que o povo faz a sua reclamação, exigindo o prosseguimento tradicional, ordeiro e disciplinado que sempre tem sido e é em todo o Brasil, é a nossa própria manifestação de sincera antipatia pela nova moralidade de se fazerem as festividades que o povo sempre aguarda”.

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