Pe. Sidney Augusto Canto
Corria
o ano de 1661. O padre Antônio Vieira, preocupado com a vastidão da Amazônia e
a ausência de padres na região acima do rio Xingu, decide fundar uma missão
entre os índios que viviam na foz do rio Tapajós. Para isso chama um dos padres
recém chegados do reino e o envia, juntamente com um irmão leigo, para esta
empreitada.
Foi
assim que a 22 de junho chegava ao Tapajós, o Padre João Felipe Bettendorff,
acompanhado do irmão leigo Sebastião Teixeira. Não demorou muito tempo, teve o
missionário que se ausentar da Aldeia. O motivo, que o mesmo Bettendorff relata
em sua “Crônica” foi a constante “melancolia” em que vivia seu companheiro. Na
verdade, Sebastião Teixeira havia se encantado com uma das bonitas índias
tapajoaras, da família de Maria Moaçara... O amor foi tanto, que mais tarde o
mesmo deixou os jesuítas e se amigou com a dita cunhantã.
Bettendorff
voltou outra vez, desta feita, acompanhado do Alferes João Correa, conhecedor
da língua e dos costumes dos Tapajós. Aqui chegando fez logo uns catecismos na
língua dos Tapajós e na dos Urucucus (pois não havia somente os índios tapajós
na missão) e batizou muita gente.
Com
a ajuda do alferes e dos índios, o Fundador de Santarém construiu a Igreja da
Missão e dedicou-a a Nossa Senhora da Conceição. Sobre isso assim relata o seu
construtor:
"tratei de fazer a igreja e casas em taipa de
mão, indo eu mesmo acompanhar os índios que iam cortar a madeira e padecendo
muito boas fomes, no entanto, por estar ainda novato; posta a madeira em a
aldeia, a lavrou o companheiro João Corrêa com os índios, e como acudia muita
gente assim de índios, como de índias, dentro de três para quatro dias ficou
toda a obra feita e coberta. Fiz então um retábulo de morutim, pintando ao meio
Nossa Senhora da Conceição pisando em um globo a cabeça de serpente, enroscada
ao redor dele, com Santo Inácio à banda direita e S. Francisco Xavier à
esquerda".
Era
desejo do padre Antonio Vieira, que esta igreja fosse construída em cima do
“outeiro” (o morro onde posteriormente foi construída a Fortaleza e hoje se
acha a Escola Frei Ambrósio). Bettendorff, porém, construiu-a mais perto de
onde moravam os índios, no local onde hoje está a Praça Rodrigues dos Santos.
Esta igreja não era muito diferente da casa em que os índios moravam. Era uma capelinha
pobre, mas bem limpa e asseada, com um pequeno altar para as celebrações. Foi
nesta capelinha, que os moradores da foz do “rio azul” celebraram a sua
PRIMEIRA Festa de Nossa Senhora da Conceição.
Passo
agora a transcrever um fato narrado pelo próprio Bettendorff, relativo à
primeira FESTA DA CONCEIÇÃO ocorrida em terras Santarenas:
“À noite antecedente da festa em que se havia
por o altar, houve uns trovões, relâmpagos e coriscos, tão terríveis que todos
os índios saíram para fora das casas, e parecia que se ia acabando o mundo.
Disseram-me depois que tinham visto em o Céu uma mão com um lenço branco que ia
limpando o sangue derramado pelo Céu; em o dia seguinte lhes fiz uma prática
sobre a Conceição da Imaculada Virgem Senhora Nossa, e disse que este sinal foi
alguma coisa, foi prognóstico de um grande castigo que a Senhora havia de
remediar”.
Bettendorff,
escrevendo a “Crônica” posteriormente, atribuiu a visão dos índios à
perseguição sofrida pelos Jesuítas no ano seguinte, onde muitos padres foram
deportados para o Reino, incluindo entre eles o próprio Antonio Vieira.
Foi
assim, a partir da devoção do Jesuíta Bettendorff por Nossa Senhora, que
Santarém tem hoje a festa de sua padroeira. Talvez o mesmo não imaginasse que
Nossa Senhora da Conceição recebesse as homenagens que lhe são prestadas pelos
milhares de descentes daqueles índios de outrora. E, apesar de tantos males que
ainda nos afligem, pedimos que Jesus Cristo, filho de Maria, nossa padroeira,
nos livre dos males que ainda hoje tentam ofuscar a beleza da terra, da nossa
história e da cultura do povo Santareno.
...é um passeio em nossa história. Parabéns Pe.
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