Por Pe.
Sidney Augusto Canto
Marco da ocupação militar na
foz do rio Tapajós, a Fortaleza de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Monte Alegre
dos Tapajós ocupava o espaço de um outeiro (pequeno morro), onde hoje se
localiza a Escola Frei Ambrósio e o Mirante do Tapajós. Servia ao propósito
português de defender a posse (mesmo que ainda contestada pela Espanha) das
terras contra ataques dos franceses, bem como de proteger os colonos dos
ataques indígenas, que eram frequentes em idos dos séculos XVII e XVIII. Ali,
durante os primeiros anos da ocupação portuguesa no município, havia a
guarnição militar que vigiava a navegação do Rio Amazonas e impedia o contrabando
de drogas do sertão do interior do Tapajós.
A Fortaleza dominava a
paisagem, seus grossos muros e peças de artilharia impunham algum respeito, mas
logo se mostraram incapazes de uma defesa eficaz. Em decorrência disso, a falta
de interesse militar em mantê-la funcionando fez com que logo começasse a ruir.
Diante disso algumas tentativas de restauração foram feitas. A primeira que se
tem notícia, ocorrida após o levantamento feito em 1749 (que aconselhava a
necessária e urgente reforma da dita fortificação), foi realizada a partir do
ano de 1762, a mando do governador Manoel Bernardo de Melo e Castro, que
encarregou o engenheiro italiano Domingos Sambuceti para tocar os trabalhos.
Reparos foram feitos, mas seguiu-se novamente a falta de cuidados para com a
construção, levando a novas ruínas.
Em 1801 uma nova pesquisa sobre
a utilidade da velha Fortaleza foi realizada. Este novo trabalho foi
responsabilidade do engenheiro coronel Theodósio Constantino de Chermont, que
contou com o apoio do capitão da dita Fortaleza, Paulo José Vicente Pereira.
Foi baseado neste novo levantamento que o governador do Grão-Pará, Francisco de
Souza Coutinho, ordenou uma nova reconstrução da Fortaleza em 18 de março de
1803. Sabemos que, se algo foi feito, logo em seguida se perdeu, pois quando do
ataque dos cabanos à Vila de Santarém, no ano de 1836, de nada serviu a velha
fortificação, que novamente estava entregue às ruínas.
Em 07 de dezembro de 1866, o
decreto 3.749 abriu a navegação fluvial do rio Amazonas e seus afluentes para a
navegação internacional. Como consequência, o governo imperial autorizou, em
1867, o Ministério da Guerra a investir em nova reforma da Fortaleza de
Santarém. Para esta incumbência foi nomeado o capitão de engenheiros Luiz
Antônio de Souza Pitanga. Em 1868, após o repasse de uma verba de 11:237$120
réis, boa parte da alvenaria já havia sido concluída, bem como aterro e
nivelamento. Nesta época o Forte ganhou seis novas peças de artilharia.
Segundo Arthur Vianna, esta foi
a última tentativa de reconstrução do forte. O mesmo autor relata que os
canhões foram lançados ladeira acima (outros autores, afirmam que os canhões
nunca chegaram a “subir o morro”) e deixados abandonados em um terreno
particular. Dali, segundo o autor de “As fortificações da Amazônia”, as peças
foram colocadas em via pública, onde as pode ver em 1898. São essas peças o
único marco remanescente da Fortaleza que podem ser vistas hoje.
O outeiro da Fortaleza foi
escavado ainda no século XIX e continua a ser escavado até os dias de hoje. O
que outrora foi um marco referencial da cidade, aos poucos foi sendo dominado
pela ocupação humana. No lugar da Fortaleza, existe hoje a Escola Frei Ambrósio
(antigo “Grupo Escolar” que ali foi construído na década de 1930). Onde antes
existiam as últimas muralhas, hoje existe a Praça do Mirante.
Quanto às seis peças de
artilharia, os sobreditos canhões da fortaleza (os últimos, pois nada sabemos
do que foi feito das peças originais), que em 1898 foram vistas por Arthur Vianna,
ainda continuavam em via pública (na rua Galdino Veloso) cinquenta anos depois
(1948) conforme foto publicada no álbum “SANTARÉM”. Posteriormente, duas foram
parar no antigo aeroporto municipal (depois levadas para o atual aeroporto
Wilson Fonseca), outras duas foram para a antiga sede da SUDAM (perto do Porto
da Vera Paz) e outras duas repousam na Praça do Centenário (junto à Igreja de
São Raimundo Nonato).
Tempos atrás, um amigo militar,
de passagem por Santarém, me perguntava sobre a origem daqueles canhões (que
estão no aeroporto). Quando lhe respondi, ele me disse: “Isso é um ultraje à
memória dos antepassados”. Dias atrás, durante uma entrevista a uma emissora
local a mesma pergunta me foi feita (desta vez sobre as peças que estão na
“Praça do Centenário”). Dela nasceu este artigo, pois poucas pessoas parecem
saber, nos dias de hoje, que essas peças pertencem à Antiga Fortaleza e que
foram doadas pelo imperador Pedro II, à Santarém.
Sou de opinião (que, diga-se de
passagem, não é só minha) que os canhões deveriam voltar ao lugar de origem,
lá, na Praça do Mirante, apontando para a foz do rio Tapajós e lembrando, para
a posteridade, que ali existia a FORTALEZA DE NOSSA SENHORA DO BOM SUCESSO DO
MONTE ALEGRE DOS TAPAJÓS que, curiosamente, não foi destruída pelos inimigos
internacionais (franceses, holandeses, espanhóis ou ingleses) a qual se
propunha nos defender, mas pelo descaso de um povo que falhou em preservar sua
história.
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