quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Descrição de um viajante: Itaituba em 1871

Em execução ao disposto na lei provincial nº 678, de 29 de Setembro de 1871, dois engenheiros: Antônio Manuel Gonçalves Tocantins e Julião Honorato Correia de Miranda, foram encarregados pelo governo da Província do Pará de fazer um levantamento sobre a realidade econômica e social do Alto e Baixo Tapajós. A viagem aconteceu entre novembro e dezembro daquele ano e um relatório foi apresentado em 20 de janeiro de 1872, do qual tiramos a seguinte descrição sobre a então Vila de Itaituba:


A Vila de Itaituba, que está situada a 4° 19’ 25’’ de lat. S. e 12° 22’ 10’’ de long. Ocidental do meridiano do Rio de Janeiro, à margem esquerda do Tapajós, conta 33 casas, a maior parte delas cobertas de telha e bem construídas de excelentes materiais.
A igreja Matriz está bastante velha e arruinada; achando-se começada a construção de uma outra, que já tem as paredes da frente e as duas laterais levantadas de pedra e cal, para cuja conclusão já existe no arquivo da Secretaria do Governo um plano, pelo que deixamos de entrar em maiores  minuciosidades a respeito.
Em todo o município há apenas uma escola de ensino primário para o sexo masculino, na sede da vila, a qual foi no ano passado frequentada somente por 7 alunos!
Segundo a nota que nos foi oficialmente fornecida pelo colector, se conta dentro da vila de Itaituba 8 casas de comércio, sendo 4 nacionais e 4 estrangeiras; e existindo fora mais 7, e em todo o município 19 canoas de regatões, que vão anualmente negociar além das cachoeiras; e 7 lojas ambulantes, empregadas no comércio do guaraná com a tribo dos Maués.
O rendimento da Coletoria, de janeiro de 1870 a junho de 1871 foi de rs 6:630$000.
As mercadorias ali são vendidas por preços exagerados, principalmente nas cachoeiras, onde os gêneros de primeira necessidade são comprados a capricho do vendedor.
Assim, o preço da farinha oscilla de 5$ a 10$000 rs., e do peixe seco, de 14$ a 18$000 e às vezes a 20$000 rs.
Os cuiabanos vem anualmente à Itaituba comprar guaraná, que é vendido por 60$ e 80$000 rs. a arroba.
Hoje que se acha estabelecida a navegação direta para Itaituba, tudo mudará de face.
Haverá completa revolução no sistema de vida dos habitantes do Tapajós.
A navegação a vapor é incontestavelmente um dos elementos mais poderosos de civilização e progresso, máximo quando emana de um centro, onde se pode encontrar todos os recursos.
O comércio, que até hoje limitava-se à praça de Santarém, se desenvolverá mais facilmente, e em pouco tempo tomará maior incremento.
Com a navegação direta evita-se a baldeação das mercadorias no porto de Santarém: ha diminuição nas despesas e tempo, e por consequência, poderão os comerciantes em Itaituba vender suas mercadorias por menor preço. O rio se tornará mais conhecido; a nossa praça estará mais ao fato das ocorrências comerciais; não faltarão especuladores, que ali se queiram estabelecer; haverá concorrência; aparecerá talvez o espírito de associação e, portanto, maior afluência de capitais: maior desenvolvimento de civilização e, consequentemente, maior número de braços livres para o trabalho. Em uma palavra, os produtos de exportação crescerão ao triplo e serão distribuídos pelas praças de Santarém e Pará.
O comércio ali ainda está circunscrito a um círculo mui limitado.
É, portanto, preciso a concorrência, uma das fases da liberdade, para extinção do monopólio, sem o que não poderá haver progresso, civilização, indústria, agricultura, nem mesmo liberdade de ação.
A concorrência é uma potência, que dá vida e animação à atividade social e, segundo a expressão de Montesquieu, é “a alma e o aguilhão da indústria”.

É ela incontestavelmente o elemento principal de todo o sistema mercantil, e debaixo de qualquer ponto de vista, que se considere, constitui um dos principais geradores da ordem das sociedades”.

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