Em 1828,
temos uma descrição interessante do rio Tapajós sob o olhar da expedição
cientifica do Consul Langsdorff. Das anotações de um dos membros da referida
expedição, Hercule Florence, retiramos o texto abaixo que fala especificamente
sobre Itaituba, lugar onde chegaram a 13 de junho de 1828. Este é um registro significativo
sobre Itaituba, que aprofunda não somente a sua origem indígena, como também o
início da colonização portuguesa do lugar:
“Tornando a embarcar, fomos mais abaixo a Itaituba, onde morava o comandante do
distrito, excelente velho muito estimado. Estabelecido uns cinco anos atrás
nesse lugar que achou deserto, reuniu cerca de 200 maués, os quais, apesar de pouco dados ao trabalho, tinham já
levantado 10 ou 12 casas e plantado alguma mandioca, ocupando-se também um
tanto na extração da salsaparrilha. Com cachaça, porém, gastam tudo quanto
podem receber.
Em Itaituba achamos uma goleta de Santarém,
ancorada diante da casa do comandante, vista que me impressionou agradavelmente,
pois era indício de que chegáramos a país marítimo, embora ainda ficássemos distantes
do Oceano umas 160 léguas portuguesas.
O distrito tem o nome de Itaituba. Compõe-se a
parca população de portugueses e seus escravos, brasileiros e maués, estes em maior número.
Espontâneos são em sua maior parte os produtos
de exportação: a salsaparrilha que
os colhedores vão buscar do Pará nas matas do Tapajós; a borracha, fonte de grande riqueza
futura; o cravo; o pichiri, preciosas especiarias que
atestam o vigor das regiões equatoriais, quando banhadas por grandes rios; o guaraná tão procurado da gente de
Cuiabá, e que um dia juntará uma beberagem fresca e aromática ao luxo dos
botequins das cidades da Europa.
Como complemento dessa produção espontânea, deveríamos
acrescentar a da pesca, como o pirarucu,
que por si só pode dar alimento ao norte inteiro do Brasil, e a tartaruga, da
qual tratarei no capítulo intitulado Gurupá, onde então mencionarei não só os
produtos nativos do Amazonas e seus afluentes, mas também os cultivados, como
cacau, café, açúcar, etc.
Defronte de Itaituba na margem oposta fica o
distrito de Uxituba, igualmente habitado por alguns portugueses e mundurucus que se exprimem em outro
idioma que não os maués, embora
derivem todos eles da língua geral
brasílica.
Como a goleta estava prestes a seguir viagem,
não perdemos esse excelente ensejo de comodamente alcançarmos Santarém.
Dissemos então adeus à nossa camaradagem, e adeus eterno, pois ela naquelas
mesmas canoas devia regressar para os lugares donde tinha saído, afrontando
novamente os perigos, de que nos víamos livres; e, agradecendo ao comandante
sua amável hospitalidade, abrimos no dia 18 de junho de 1828 as velas à
bonançosa brisa, no meio de salvas que de terra e água saudavam nossa partida”.
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