sábado, 7 de novembro de 2015

Descrição de um viajante: Itaituba (Pará) em 1828

Em 1828, temos uma descrição interessante do rio Tapajós sob o olhar da expedição cientifica do Consul Langsdorff. Das anotações de um dos membros da referida expedição, Hercule Florence, retiramos o texto abaixo que fala especificamente sobre Itaituba, lugar onde chegaram a 13 de junho de 1828. Este é um registro significativo sobre Itaituba, que aprofunda não somente a sua origem indígena, como também o início da colonização portuguesa do lugar:


Tornando a embarcar, fomos mais abaixo a Itaituba, onde morava o comandante do distrito, excelente velho muito estimado. Estabelecido uns cinco anos atrás nesse lugar que achou deserto, reuniu cerca de 200 maués, os quais, apesar de pouco dados ao trabalho, tinham já levantado 10 ou 12 casas e plantado alguma mandioca, ocupando-se também um tanto na extração da salsaparrilha. Com cachaça, porém, gastam tudo quanto podem receber.
Em Itaituba achamos uma goleta de Santarém, ancorada diante da casa do comandante, vista que me impressionou agradavelmente, pois era indício de que chegáramos a país marítimo, embora ainda ficássemos distantes do Oceano umas 160 léguas portuguesas.
O distrito tem o nome de Itaituba. Compõe-se a parca população de portugueses e seus escravos, brasileiros e maués, estes em maior número.
Espontâneos são em sua maior parte os produtos de exportação: a salsaparrilha que os colhedores vão buscar do Pará nas matas do Tapajós; a borracha, fonte de grande riqueza futura; o cravo; o pichiri, preciosas especiarias que atestam o vigor das regiões equatoriais, quando banhadas por grandes rios; o guaraná tão procurado da gente de Cuiabá, e que um dia juntará uma beberagem fresca e aromática ao luxo dos botequins das cidades da Europa.
Como complemento dessa produção espontânea, deveríamos acrescentar a da pesca, como o pirarucu, que por si só pode dar alimento ao norte inteiro do Brasil, e a tartaruga, da qual tratarei no capítulo intitulado Gurupá, onde então mencionarei não só os produtos nativos do Amazonas e seus afluentes, mas também os cultivados, como cacau, café, açúcar, etc.
Defronte de Itaituba na margem oposta fica o distrito de Uxituba, igualmente habitado por alguns portugueses e mundurucus que se exprimem em outro idioma que não os maués, embora derivem todos eles da língua geral brasílica.

Como a goleta estava prestes a seguir viagem, não perdemos esse excelente ensejo de comodamente alcançarmos Santarém. Dissemos então adeus à nossa camaradagem, e adeus eterno, pois ela naquelas mesmas canoas devia regressar para os lugares donde tinha saído, afrontando novamente os perigos, de que nos víamos livres; e, agradecendo ao comandante sua amável hospitalidade, abrimos no dia 18 de junho de 1828 as velas à bonançosa brisa, no meio de salvas que de terra e água saudavam nossa partida”.

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