Garimpo Creporizinho, município de Itaituba, Pará.
Afonso Madeira de Sousa, 23 anos, duas malárias, cearense de Itapipoca,
debruça-se no córrego, de bateia na mão e água pelas canelas. Veio parar aqui
porque lhe disseram, no Maranhão, que o Alto Tapajós corre sobre um leito de
ouro.
– E ganhou muito dinheiro?
– Uns tostões...
Seu salário: 03 gramas de ouro por dia. A prova
está no pescoço: um cordão de ouro que mandou fazer com o ouro que ele mesmo
achou. O Creporizinho tem um ourives.
Cada garimpo da região produz de 16 a 20 quilos de
ouro por mês. A produção de todo o vale do Tapajós chega a 17 toneladas por
ano. Depois que o ouro foi descoberto aqui, em 1958, deu-se a corrida: cerca de
6.000 (seis mil) garimpeiros espalharam-se entre o Tapajós e o Xingu.
– Muito cara a vida para vocês?
– Não é barata...
Na verdade, o custo de vida no garimpo é o mais
alto do Brasil. O quilo de açúcar custa 08 cruzeiros. O quilo do charque, 18. E
assim por diante. Tudo vem de avião e os pilotos de taxi aéreo cobram dois
cruzeiros por quilo transportado, seja carga ou passageiro, de Santarém para cá
(duas horas de voo). Um quilo de feijão custa 01 cruzeiro e 50 em Santarém,
paga 2 de taxi aéreo e é vendido a Cr$ 8,00, porque o dono do garimpo alega as
despesas que teve com a construção da pista de pouso. Para os passageiros,
negócio é ser magro. Antônio Bandeira de Barros, um dos donos do Creporizinho, pesa
120 quilos, paga 240 cruzeiros para ir a Santarém. Mas o garimpeiro Afonso, de
60 quilos, só pagou 120 quando veio.
Epitácio Carvalho de Brito, gerente do
Creporizinho, está disposto a baixar o custo de vida no garimpo. Ele organizou,
com o apoio da Fundação de Assistência ao Garimpeiro (FAG), a primeira
cooperativa da região. Pela primeira vez, os garimpeiros terão assistência médica
e farmacêutica no local de trabalho: a cooperativa comprará um avião para
baratear o transporte.
– Quando um garimpeiro adoece, fica desesperado.
Olha para o céu, pedindo a Deus que apareça um avião, pois, quando não morre,
acaba tão endividado que vira escravo no duro.
NOTA:
Publicado em Realidade, Nº 52, de 1970.
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