Por Pe. Sidney
Augusto Canto
Esqueça o que
aprendemos na Escola. Muitas coisas que nossos professores nos ensinaram sobre
nossa história está mudando. Novas descobertas documentais e arqueológicas tem
revelado uma nova luz, uma nova visão sobre o passado das muitas “Amazônias”
que existem ou já existiram...
Em minha última
viagem ao Rio de Janeiro me entretive com muitas pesquisas, fosse no Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro ou na Biblioteca Nacional. Entre diversos
documentos que me chamaram atenção, estavam os mapas que foram desenhados nos
anos de 1500. Muitos deles mostrando a Amazônia.
Um desses mapas,
desenhado apenas 20 anos depois da passagem de Francisco de Orellana, pelo
cartógrafo da Casa de la Contratación de Sevilho, o espanhol Diego Gutierrez,
mostra o “Rio de Topaios”. É um documento de 1562 que já menciona o rio que
hoje banha o município de Santarém, desaguando no rio Amazonas, em frente à
sede da cidade (um trecho desse mapa foi publicado no terceiro volume do meu
livro “Santarém: histórias e curiosidades, 2016).
Como se pode
ver, Pedro Teixeira ainda nem era nascido quando o “Rio de Topaios” já era
conhecido pelos Espanhóis. Ou seja, a atribuição de que Pedro Teixeira “descobriu”
o rio Tapajós, mais de 80 anos depois dos espanhóis é questionável. Aliás,
antes de Pedro Teixeira, não somente os espanhóis estiveram na foz do rio
Tapajós. Franceses, ingleses e, principalmente holandeses, mantinham comércio e
relações com os indígenas que habitavam o lugar que hoje conhecemos por
Santarém (aqui mesmo, no blog, já postamos descrições feitas por espanhóis e
holandeses sobre os indígenas da foz do rio Tapajós).
No entanto, um
fato pouco estudado nos diversos mapas da época é a menção de uma CIDADE na foz
do já citado rio, que os nativos chamavam de “PARANÁ-PIXUNA” (ou Rio Preto).
Uma cidade sim, visto que, em muitos mapas daquela época, o desenho de legenda
de cidades aplicado a Cuzco ou Quito é também colocado na foz do rio dos
Tapajós.
Para ilustrar
cito três mapas. O primeiro do cartógrafo Abraham Ortelius, de 1570, que
trabalhou para os ingleses, mas que no citado ano teve seu “Atlas” impresso
pelos holandeses, e que é o mais antigo mapa conhecido até hoje (pois amanhã
pode ser que encontremos um mais antigo ainda), a mencionar uma cidade com o
nome de HUMOS, situada na foz do “Rio de los Topajos” (termo esse, comumente
usado pelos holandeses em seus mapas).
Em 1585, o
cartógrafo holandês Johannes van Doetechum novamente coloca uma CIDADE, com o
nome de HUMOS, na foz do rio “Rio de los Topajos” (um trecho desse mapa também
está publicado no terceiro volume do meu livro “Santarém: história e
curiosidades”, em 2016).
Outro cartógrafo
holandês, Jan Huygen van Linschoten, em 1596 publicava um mapa onde novamente a
cidade de HUMOS aparece na foz do “Rio de los Topajos”. Esse mapa, que
parcialmente vem ilustrando este artigo (veja acima) tem uma outra curiosidade.
Além da cidade de Humos estar legendada (igual a Cuzco e Quito), o Rio Tapajós
aparece como servindo de divisão entre as terras portuguesas (BRASILIA) e espanholas
(PERVVIANA), muito anos antes da famosa viagem de Pedro Teixeira a Quito.
Outros mapas
existem ainda para serem estudados. Na época, os mapas eram uma preciosidade de
proteção Real. Hoje, sendo redescobertos em diversas bibliotecas e arquivos da
Europa, trazem novas luzes para nossa história. Porque Humos? Isso ainda carece
de pesquisa. No entanto, o fato de existir uma cidade na foz do antigo “Rio
Preto”, antes da chegada dos europeus, isso não deveria causar espanto.
É fato
comprovado, já há muitos anos, a existência de uma cidade, na foz do rio
Tapajós, antes da chegada dos portugueses, e que a mesma já era conhecida por
outros povos. Daí que a afirmação do companheiro de Pedro Teixeira, Mauricio de
Heriarte, que relatou os povos da foz do rio Tapajós como uma sociedade
composta de 60 mil homens armados de arcos e flechas, sem contar mulheres e
crianças, não ser assim tão inverossímil, pois as descobertas arqueológicas
recentes vem constatar a ocupação da foz do rio como sendo um dos lugares mais
antigos da Amazônia em ocupação permanente.
É certo que,
para alguns, isso causa espanto, mas não se pode negar o fato de que, antes da
chegada dos portugueses, o lugar que hoje conhecemos como Santarém era uma
sociedade organizada, viva e atuante na região. Possuía destacada importância
no comércio, na guerra, na agricultura e nas artes. A cartografia, assim como
outros documentos históricos que estão vindo à tona nos últimos anos, tem nos
ajudado a entender como era a vida da cidade “do Tapajós”, antes de ser a
Santarém que conhecemos hoje.
Excelente matéria.
ResponderExcluirParabéns com o cuidado em extrair das fontes históricas a verdadeira história de nossa região...Porém, ao examinar o mapa pareceu-me que é o rio Paraná quem divide as terras Brasilia e Pervviana e nao o Tapajós.
Um abraço e parabens pela matéria!
Paranã Pixuna: Paranã: 'Grande rio, grande com o mar. A palavra Pará 'significa MAR', ou seja, Grande Rio Preto.
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