quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Artigo: Carnavais santarenos de antigamente... (Parte final, por enquanto).

Pe. Sidney Augusto Canto

Para muitas pessoas que eram jovens nos anos de 1970 e 1980, a cidade de Santarém viveu os “Anos Dourados” do Carnaval de Rua. De fato, nesta época, o carnaval santareno chegou a ser considerado como o melhor carnaval do interior do Estado.

No final do anos 1960, era introduzido no carnaval de rua, agremiações de Enredo. Até então os blocos eram de animação e empolgação, muitas vezes conhecidos como “blocos de sujo”, onde além da animação musical e fantasias, havia o resquício dos antigos “entrudos”, feitos com muita maisena e trigo.



Um espírito de inovação impulsionou a organização de novos Blocos e Escolas de Samba, bem como a criação da Associação Santarena de Agremiações Carnavalescas – ASAC, que muito contribuiu para implementar melhorias do carnaval de rua. A avenida “Barão do Rio Branco”, que recebeu nova pavimentação, era transformada em “passarela do samba” por ocasião do reinado de Momo, em Santarém (como mostra a fotografia que ilustra esta parte do artigo). Essa avenida recebia esmerada decoração por carnavalescos locais (como Laurimar Leal), nada deixando a desejar aos grandes centros urbanos de então.

Agremiações carnavalescas diversas desciam a avenida, animando o povo e desenvolvendo enredos que, na maioria das vezes, exaltavam a cultura e a história de Santarém ou da Amazônia, tais como os blocos: “Fofão”, “Mulatas Cheirosas”, “Breguelhegue”, “Pulga”, “Caciques da Prainha”, “Império Figueirense”, “Unidos da Cruzada”, “Unidos das Acácias”, “Mocidade Independente da Turiano Meira”, “A Grande Família”, “Unidos da Saudade”, “Morenão”, “Unidos de Santana”, “Unidos de Santarém” (antigo “Cowboys do Samba”), “Barbosão”, “Tatuzinho” e alguns outros de curta duração... Além das Escolas de Samba: “Ases do Samba”, “Chapeuzinho Vermelho”, “Amigos do Jabá” (que era bloco e virou escola).

Interessante lembrar que, apesar da existência dos blocos de enredo, os chamados “blocos de sujo” não deixaram de existir. Formados, geralmente, às vésperas da quadra carnavalesca, por grupos de amigos, esses blocos muitas vezes quebravam as regras e desciam a avenida sem aviso prévio, ocasionando, muitas vezes, o atraso no desfile dos blocos oficiais.

Os anos dourados do carnaval santareno eram animados não mais pelas bandas “Jazz”, mas pela tecnologia das assim denominadas “bandas de som” que, desde a década de 1960 vinham conquistando espaço na cidade. Foi assim que bandas como “Os Hippies” “Os Lords”, “Jet Som”, “Vip’s Som”, “5ª Dimensão”, “Os Versáteis”, “Tapajoara”, entre outras, foram conquistando espaços nos bailes carnavalescos dos clubes e das batalhas de confetes.

Bailes como o “Do Havaí”, o “Do Tigre”, o “Rainha das Rainhas”, o “Até o Sol Raiar”, o “Vermelho e Preto”, “Das Bermudas”, “Uma Noite no Havaí”, “Cocotas e Gaviões”, “Confetes e Serpentinas”, “Sabatina Momesca”, “Carná Matinal”, “Uma Noite no Inferno Verde”, “Dos Quadrados”, “Dos Coroas”, “Noite dos Piratas”, “Dos Brotinhos”, entre outros animavam a sociedade. A elite não se reunia mais somente no Centro Recreativo. No entanto, os bailes carnavalescos deixaram de ser realizados somente para a elite.

Muitos clubes ofereciam bailes para o “povão”. Além do São Francisco, que desde a década de 1950 já promovia bailes populares, outras sedes abriram suas portas para os menos abastados: Signus, Fluminense, São Raimundo, Santarém Clube, Comercial Atlético Cearense, entre outros. Havia ainda os bailes no Tropical Hotel, AABB, Iate Clube e outras agremiações que abriram suas sedes para oferecer novos bailes.

O povo se alegrava com as populares “Batalhas de Confetes”, que aconteciam nas praças e nas ruas da cidade. Nas “batalhas”, os blocos e escolas de samba também participavam. Muitos dos blocos, aliás, nem concorriam a prêmios no desfile oficial; eram formados por pura e simples diversão e vontade de espalhar alegria para o povo santareno.

Não queira o leitor pensar que não havia problemas. O principal deles era, com certeza, o financeiro. Muitas vezes o carnaval de rua ficava ameaçado por conta da falta de recursos. Nem todos os governos incentivavam a festa com o necessário. Anos de crise econômica também existiram no passado. Mesmo assim, muitos abnegados carnavalescos usavam dos próprios recursos para levar o brilhantismo e a alegria dos membros de suas agremiações carnavalescas para a Avenida Barão do Rio Branco.

Após esses “Anos Dourados”, Santarém viu declinar o seu carnaval de rua. Alter do Chão e Óbidos souberam explorar essa fraqueza e promoveram o crescimento de seus carnavais. Hoje há de se repensar o carnaval. Historicamente, muito ainda temos que pesquisar e escrever sobre nosso carnaval. Fica aqui a sugestão para nossos acadêmicos universitários poderem explorar esse tema em seus TCC’s.

Para concluir este artigo, vale lembrar que, no ano de 1989, a Associação Santarena de Agremiações Carnavalescas, solicitou à prefeitura municipal de Santarém que providenciasse o asfaltamento da antiga pista do Aeroporto Velho para que a mesma servisse de “Passarela do Samba Santareno”. Passados 28 anos, e após muitas controvérsias recentes, o desejo daquele ano finalmente será colocado em prática, iniciando um novo capítulo na história do Carnaval Santareno.


NOTA: Agradeço ao amigo Cristovam Sena, do ICBS, pela ajuda na pesquisa para a confecção das cinco partes deste artigo.

2 comentários:

  1. TEMPOS DE CRIANÇA
    (Samba Enredo da Escola “Ases do Samba”, de Santarém-PA, para o Carnaval de 1978)
    Letra: Emir Bemerguy
    (Santarém-PA, 20.08.1977)
    Música: Vicente José Malheiros da Fonseca
    (Santarém-PA, 17.12.1977)

    Lá, iá, lá, lá, iá, lá, iá...
    (Cantiga de roda “Senhora Dona Sancha”, no início, no final e entre o Refrão e cada uma das estrofes)

    I
    Regressamos ao passado,
    Recordando um tempo amado,
    Sem trabalho, sem canseiras.
    Sob as luzes da avenida,
    Volta a infância tão querida,
    De gostosas brincadeiras.

    (Refrão)
    Homenagem às crianças
    Este samba aqui contém!
    Elas são as esperanças
    Da formosa Santarém!

    II
    PAPAGAIOS coloridos...
    Os PIÕES... Os alaridos
    Das PELADAS na porfia...
    E no CIRCO fabuloso
    O PALHAÇO escandaloso
    Que as platéias divertia.

    III
    Ó NATAL das “PASTORINHAS”!
    Além delas, também tinhas
    Nosso bom PAPAI NOEL.
    SÃO JOÃO ficou por lá,
    Com FOGUEIRAS, BOI-BUMBÁ,
    ARRAIAIS e CARROSSEL.

    IV
    O PINOCHIO, a CINDERELA...
    Quanto riso a infância bela
    Trouxe ao pobre como ao rico!
    “PAI FRANCISCO”, “TORORÓ”,
    “CIRANDINHA” e vejam só:
    “PATO DONALD” e o “TICO-TICO”!

    V
    Desse tempo já distante,
    Da legal RODA GIGANTE,
    Nostalgia o peito invade,
    E põe logo a gente triste,
    Pois, de tudo, hoje existe:
    Só um samba e uma saudade!....

    ______________________

    Canto, Percussão e Piano.

    A Escola “Ases do Samba” foi a campeã do Carnaval de 1978, em Santarém (PA).

    Ouça a música (execução simulada por computador):

    https://soundcloud.com/vicente-malheiros-da-fonseca/tempos-de-crianca-vicente

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  2. LENDAS E MITOS
    (Samba Enredo da Escola “Ases do Samba”, de Santarém-PA, para o Carnaval de 1979)
    Letra: Renato Sussuarana
    (Santarém-PA, 01.02.1979)
    Música: Vicente José Malheiros da Fonseca
    (Santarém-PA, 03.02.1979)

    I
    Personagens de nossas estórias
    Para muitos têm vida real.
    CURURU, CURUPIRA e o BOTO
    Aqui vêm pra brincar o carnaval.

    Estribilho
    Hoje estamos na avenida
    Pra fazer exaltação:
    LENDAS E MITOS desta terra
    Já contaram em profusão
    FIRMO ANTÔNIO, FELISBELO,
    Também FONA e LUCIANO,
    Mestre PAULO RODRIGUES DOS SANTOS
    E o Maestro ZÉ AGOSTINHO!

    II
    O travesso SACI PERERÊ
    A JAQUIRANABÓIA, o ANHANGÁ,
    SOL e LUA são lendas que enriquecem
    O folclore do nosso Pará.

    III
    Vindo à tona do rio Amazonas
    A encantar com seu canto e assovio,
    A IARA conquista contente
    Mil guerreiros pro fundo do rio.

    IV
    Por miragem em busca da estrela
    Lá no lago ARARI se lançou
    E a LUA com pena da moça
    Em VITÓRIA-RÉGIA a mudou.

    V
    Sob as bênçãos do grande TUPÃ,
    Em Maués fez cacique plantar
    Os olhinhos de um curumim
    E depois GUARANÁ viu brotar.

    VI
    Entre luzes num céu colorido
    MÃE DO OURO um dia chegou
    Derramando estrelas brilhantes
    Que na terra em ouro virou.

    ______________________

    Canto, Percussão e Piano.

    A Escola “Ases do Samba” foi a campeã do Carnaval de 1979, em Santarém (PA).

    Ouça a música (execução simulada por computador):

    https://soundcloud.com/vicente-malheiros-da-fonseca/lendas-e-mitos-vicente-fonseca

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