sábado, 22 de junho de 2019

Uma Santarém melhor para os santarenos ou santarenos melhores para Santarém?



Já tivemos longas e alvas praias, na frente da cidade, onde se banhavam curumins e cunhantãs, onde as borboletas de várias cores impressionavam viajantes, onde se pescavam pirarucus, peixe-bois e se colhiam ovos de tartarugas.
Já tivemos lindas ruas, mesmo de chão batido, mas limpas, impecáveis, de calçadas niveladas, onde antigas casas ostentavam seus azulejos ou aconchegantes fachadas com amplas portas e janelas, que podiam ser mantidas abertas, sem medo que o alheio “fizesse a festa”. Tivemos até um "Castelo" com suas linhas arquitetônicas que fizeram Mário de Andrade comparar Santarém à italiana Veneza...
Já tivemos indígenas que aqui moravam, fazendo o Sairé no bairro da Aldeia, pintando cuias, fazendo redes, artesanato em palha, que encantavam viajantes e turistas alguns artefatos desses que podiam ser vistos no velho Mercado, limpo, ordeiro, faceiro, onde as pessoas compravam tracajás e talhos de carnes de caça, bichinhos feitos de borracha (látex).
Já tivemos são João com fogueiras, pássaros, boi-bumbá, quadrilhas, onde as famílias repartiam (isso mesmo, não era vendido) milho cozido, munguzá, tacacá, tarubá, etc. Isso, sem contar as piracaias, na praia do Trapiche, na Coroa de Areia, onde o peixe assado acompanhava modinhas de violão para a donzela amada ou a lua cheia que brilhava.
Já tivemos cientistas ilustres (Spix, Martius, Spruce, Bates, Wallace, etc), que nos brindaram não somente com sua presença, mas com registros encantadores sobre nossa flora e fauna, sobre a beleza de nossos lagos (Mapiri, Maicá, etc) e a riqueza cultural de nosso povo.
Olhar para o passado, nos faz pensar: que Santarém queremos deixar para o futuro? Será que nossos descendentes poderão se vangloriar de nós? Ou melhor, que Santarém eles terão?
Nestes dias que antecedem a data da fundação da Missão Religiosa entre os indígenas, marco da presença de posse colonial portuguesa desta região, pensemos como aquelas belezas do passado não tão distantes assim, já não são mais as belezas que temos, se perderam, em um piscar de olhos, no tempo e no espaço, ficando apenas na memória de alguns poucos teimosos...
Hoje, podemos nos perguntar, o que é Santarém? Uma cidade? Um lugar? O rio, a mata, a praia, a cultura? Talvez tudo isso... Mas isso não teria nenhum sentido se não pensarmos que Santarém também somos todos nós. O que faz a beleza de Santarém são os santarenos. O que faz a cultura rica de Santarém são os santarenos. O que faz esta terra encantadora, são os santarenos que cuidam de seus encantos...
Sendo assim, se quisermos uma Santarém melhor, precisamos de santarenos melhores...
Precisamos de santarenos que tem autoridade para governar não somente para seu partido político ou para seu grupinho, mas governar servindo a todos e pensando no bem de todos...
Mas, não basta apenas reclamar da gestão pública, se temos santarenos que jogam lixo nas ruas, que descartam lixo nos rios e nas praias, que não cuidam da limpeza na frente e no quintal de suas casas, que não acolhem bem aos turistas, que “furam” fila, que avançam no sinal vermelho, que não ajudam o próximo, que não respeitam os outros.
Precisamos de santarenos melhores, que exijam seus direitos, mas que também cumpram com seus deveres. Quem faz uma Santarém melhor, senão santarenos que sejam bons, que façam o bem para si e para todos os que vivem em Santarém?
Que possamos olhar para o futuro, com gratidão ao passado. Mas que usemos o presente para fazermos de Santarém uma terra melhora para os santarenos que aqui nasceram, que aqui vieram, que aqui trabalham, que aqui moram e que aqui vivem a esperança de melhores dias, a fé no Criador de tão grandes belezas e o amor pela maior riqueza de Santarém: o seu próprio povo.
Parabéns Santarém!

Santarém, 22 de junho de 2019.
Pe. Sidney Augusto Canto

NOTA: Foto de Santarém em 1935, do acervo de Ignácio Ubirajara Bentes de Sousa Neto.

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