Já tivemos
longas e alvas praias, na frente da cidade, onde se banhavam curumins e
cunhantãs, onde as borboletas de várias cores impressionavam viajantes, onde se
pescavam pirarucus, peixe-bois e se colhiam ovos de tartarugas.
Já tivemos
lindas ruas, mesmo de chão batido, mas limpas, impecáveis, de calçadas
niveladas, onde antigas casas ostentavam seus azulejos ou aconchegantes
fachadas com amplas portas e janelas, que podiam ser mantidas abertas, sem medo
que o alheio “fizesse a festa”. Tivemos até um "Castelo" com suas linhas arquitetônicas que fizeram Mário de Andrade comparar Santarém à italiana Veneza...
Já tivemos
indígenas que aqui moravam, fazendo o Sairé no bairro da Aldeia, pintando
cuias, fazendo redes, artesanato em palha, que encantavam viajantes e turistas
alguns artefatos desses que podiam ser vistos no velho Mercado, limpo, ordeiro,
faceiro, onde as pessoas compravam tracajás e talhos de carnes de caça,
bichinhos feitos de borracha (látex).
Já tivemos são
João com fogueiras, pássaros, boi-bumbá, quadrilhas, onde as famílias repartiam
(isso mesmo, não era vendido) milho cozido, munguzá, tacacá, tarubá, etc. Isso,
sem contar as piracaias, na praia do Trapiche, na Coroa de Areia, onde o peixe
assado acompanhava modinhas de violão para a donzela amada ou a lua cheia que
brilhava.
Já tivemos
cientistas ilustres (Spix, Martius, Spruce, Bates, Wallace, etc), que nos
brindaram não somente com sua presença, mas com registros encantadores sobre
nossa flora e fauna, sobre a beleza de nossos lagos (Mapiri, Maicá, etc) e a
riqueza cultural de nosso povo.
Olhar para o
passado, nos faz pensar: que Santarém queremos deixar para o futuro? Será que
nossos descendentes poderão se vangloriar de nós? Ou melhor, que Santarém eles
terão?
Nestes dias que
antecedem a data da fundação da Missão Religiosa entre os indígenas, marco da
presença de posse colonial portuguesa desta região, pensemos como aquelas
belezas do passado não tão distantes assim, já não são mais as belezas que
temos, se perderam, em um piscar de olhos, no tempo e no espaço, ficando apenas
na memória de alguns poucos teimosos...
Hoje, podemos
nos perguntar, o que é Santarém? Uma cidade? Um lugar? O rio, a mata, a praia,
a cultura? Talvez tudo isso... Mas isso não teria nenhum sentido se não
pensarmos que Santarém também somos todos nós. O que faz a beleza de Santarém
são os santarenos. O que faz a cultura rica de Santarém são os santarenos. O
que faz esta terra encantadora, são os santarenos que cuidam de seus
encantos...
Sendo assim, se
quisermos uma Santarém melhor, precisamos de santarenos melhores...
Precisamos de
santarenos que tem autoridade para governar não somente para seu partido
político ou para seu grupinho, mas governar servindo a todos e pensando no bem
de todos...
Mas, não basta
apenas reclamar da gestão pública, se temos santarenos que jogam lixo nas ruas,
que descartam lixo nos rios e nas praias, que não cuidam da limpeza na frente e
no quintal de suas casas, que não acolhem bem aos turistas, que “furam” fila,
que avançam no sinal vermelho, que não ajudam o próximo, que não respeitam os
outros.
Precisamos de
santarenos melhores, que exijam seus direitos, mas que também cumpram com seus
deveres. Quem faz uma Santarém melhor, senão santarenos que sejam bons, que
façam o bem para si e para todos os que vivem em Santarém?
Que possamos
olhar para o futuro, com gratidão ao passado. Mas que usemos o presente para
fazermos de Santarém uma terra melhora para os santarenos que aqui nasceram,
que aqui vieram, que aqui trabalham, que aqui moram e que aqui vivem a esperança
de melhores dias, a fé no Criador de tão grandes belezas e o amor pela maior
riqueza de Santarém: o seu próprio povo.
Parabéns
Santarém!
Santarém, 22 de
junho de 2019.
Pe. Sidney
Augusto Canto
NOTA: Foto de Santarém
em 1935, do acervo de Ignácio Ubirajara Bentes de Sousa Neto.
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